Terra da Garoa: Capítulo 17 - WebTV - Compartilhar leitura está em nosso DNA

O que Procura?

HOT 3!

Terra da Garoa: Capítulo 17

Novela de Édy Dutra
Compartilhe:




TERRA DA GAROA - CAPÍTULO 17
 


CENAS DO CAPÍTULO ANTERIOR


RAQUEL: - Você é nova aqui, não é?

LIZA: - Sim. Me chamo Liza, a nova recepcionista.

RAQUEL: - Prazer, Liza. Eu sou a Raquel.

LIZA: - Então você é a famosa Raquel! Nossa, seu Claude fala tanto de você! Prazer em conhecê-la!

RAQUEL: - Obrigada! E você, bem-vinda ao melhor restaurante de são Paulo! 

Jaqueline e Raquel seguem em direção à sala de Claude. Ao chegar no corredor, Claude abre a porta e Lenara e Henrique vão saindo do local.

LENARA (surpresa): - Raquel!

Raquel se surpreende ao ver Henrique e Lenara. Henrique fica sem reação diante da presença de Raquel. Os dois trocam olhares.



CENA 01. RESTAURANTE GOURMET PUALISTA. INT. DIA. 

Continuação do capítulo anterior. Raquel se surpreende ao ver Henrique e Lenara. Henrique fica sem reação diante da presença de Raquel.

LENARA (abraçando Raquel): - Minha amiga! Meu Deus, que surpresa maravilhosa!

RAQUEL (abraçando Lenara): - Lenara! Que bom te ver de novo, minha amiga!

LENARA: - Eu estava morrendo de saudade!.. (se afasta) Henrique, meu amor, essa aqui é a Raquel, a minha grande amiga e que será madrinha do nosso casamento junto com o Claude.

Henrique, um pouco sem jeito, se aproxima de Raquel, estende a mão em cumprimento.

HENRIQUE: - Muito prazer... Raquel.

RAQUEL: - Prazer, Henrique.

CLAUDE: - Agora deixa eu abraçar essa garota!

Claude e Raquel se abraçam, felizes.

CLAUDE: - Saudades suas!... Mas você voltou bem antes do final do curso, não?

RAQUEL: - Voltei sim, Claude. Foi tudo maravilhoso, mas eu precisava voltar para acertar umas coisas aqui. E também por causa do casamento. É tão bom ver vocês aqui!

LENARA: - E então já aproveitando que você também está aqui, Raquel, eu quero convidá-los para um jantar, bem intimista, hoje lá em casa. Só para os padrinhos.

JAQUELINE: - Por mim, pode ser. Hoje estou com bem menos coisas pra resolver.

LENARA: - Que legal. E vocês? Claude, Raquel?

CLAUDE: - Eu topo.

RAQUEL: - Pois então, eu cheguei hoje mesmo de viagem... Não tenho como dar resposta agora.

LENARA: - Mas pensa bem, com muito carinho, tá amiga?! Pra gente matar a saudade!

RAQUEL: - Tudo bem, eu prometo que vou pensar.

HENRIQUE: - Lenara, vamos, eu ainda preciso ir para a empresa.

LENARA: - Claro, vamos sim. Beijo em todos aí! 

Lenara se despede de todos, abraça Raquel mais uma vez. Henrique apenas os cumprimenta com um aperto de mão. Na vez de Raquel, eles trocam olhares. Lenara e Henrique saem. 

CLAUDE: - Parece sonho que eu estou te vendo aqui de novo, Raquel.

RAQUEL: - Nem eu acredito que eu voltei, Claude (risos)

JAQUELINE: - Então, a gente veio aqui também pra comer alguma coisa. Bora lá?

CLAUDE: - Vou pedir um prato especial, já que essa volta da Raquel precisa ser comemorada! 

Os três saem felizes. 

CENA 02. CENTRO COMUNITÁRIO. SALA DIREÇÃO. INT. DIA. 

Salete conversa com Ulisses. 

SALETE: - Bom que você veio, Ulisses.

ULISSES: - Quando você me ligou pedindo para conversar, eu percebi que era sério.

SALETE: - Eu tentei contato com a sua ex-mulher, mas ela não me deu retorno, até recusava minhas ligações.

ULISSES: - Lenara vive com a cabeça na lua. Agora vai casar de novo, não quer pensar em outra coisa... Mas então, o que você tem para me dizer, Salete? É sobre o Otávio, não é?

SALETE: - É sim... Olha só, Ulisses, eu vou ser bem direta, até para a gente poder ter uma conversa clara, franca, sem rodeios.

ULISSES: - Claro. Pode dizer.

SALETE: - Durante esse tempo em que o Tavinho esteve aqui, eu passei a observá-lo com mais atenção, também analisando o comportamento dele... Até tendo um parâmetro com o que você me relatou, da outra escola e de como ele é em casa, na família, no dia a dia fora daqui.

ULISSES: - Sim...

SALETE: - O Otávio tem dificuldades em fazer as tarefas da escola aqui no centro comunitário, vira e mexe está com a cabeça nas nuvens, se distrai com qualquer coisa, desviando a atenção daquilo que ele precisa fazer. Ele é um menino muito inteligente, mas nas atividades que a gente desenvolve aqui, como auxílio para o ensino regular, ele não consegue desempenho satisfatório. 

Salete entrega alguns trabalhos feito por Otávio para Ulisses, que observa. 

SALETE: - Você pode ver que tem muitos erros de acentuação, vírgulas... Tudo questão de desatenção.

ULISSES: - Vejo mesmo. Ele até consegue ter um raciocínio com lógica, mas peca em outras coisas.

SALETE: - Ele também parece ser muito ansioso, agitado... As crianças o apelidaram de Flash aqui, porque ele quer fazer tudo rápido, não para um minuto... Eu já proibi esse tipo de brincadeira, apelidos aqui dentro. Não vamos ficar incentivando o bullying.

ULISSES: - E você faz muito bem, Salete. Bullying é cruel, com qualquer criança.

SALETE: - E ele tem chegado aqui no centro, reclamando um pouco de sono. Eu perguntei pra ele se ele dormia de noite e ele respondeu que muito pouco... Ou que às vezes nem dorme.

ULISSES: - Não dorme? Mas como?

SALETE: - Aí quando chega aqui, ele gasta ainda mais energia, mas em casa, não consegue dormir.

ULISSES: - E a Lenara nem pra reparar nesses detalhes!

SALETE: - Ulisses, essas são só algumas das minhas observações. Eu fiz um relatório mais completo, que eu posso passar pra você depois. Mas como professora e psicóloga, achei que eu deveria chamar os pais do Otávio para conversar, porque eu suspeito que ele seja portador de TDAH.

ULISSES (surpreso): - O que é isso, Salete?

SALETE: - TDAH é a sigla para denominar o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. É um transtorno neurológico, que atinge cerca de 3 a 5 por cento das crianças em idade escolas, como a do Otávio. Ele pode ter sido herança genética ou não, as causas ainda não são muito conhecidas. Mas o Otávio apresenta muitas características dos sintomas deste transtorno, algumas as quais eu te comentei. 

Ulisses fica em silêncio, pensativo. Olha pela janela, vê Otávio correndo no pátio, com outras crianças. 

ULISSES: - E o que eu faço agora, Salete?

SALETE: - Você precisa conversar com a Lenara, se informarem juntos sobre o TDAH. O suporte da família é muito importante para o controle do transtorno. E eu estarei aqui também, ajudando sempre que precisarem de mim. O Otávio é um menino especial, carinhoso. É bom que consiga ser tratado cedo para que isso não aumente no futuro.

ULISSES: - Contar com a mãe dele é a mesma coisa de querer abraçar o vento. É impossível.

SALETE: - Você vai precisar se esforçar, Ulisses. A criança com TDAH precisa do apoio de toda família. 

Ulisses fica pensativo. 

CENA 03. HMÓVEIS. SALA ROBSON. INT. DIA. 

Paula discute com Robson. 

PAULA: - Você ainda não me respondeu, Robson! Você esteve com a Carol de novo, é isso?

ROBSON: - Para de besteira, Paula... Claro que não.

PAULA: - Pelo amor de Deus, Robson... Não minta para mim. Eu preciso saber. Fala agora! 

Robson caminha pela sala. 

ROBSON: - Sim. Eu estive com ela. A Carol me procurou de novo, lá no meu apartamento. A gente se beijou. 

Paula se chora, tenta segurar as lágrimas. (sobe trilha “Sem Poupar Coração” – Nana Caymmi) 

PAULA: - E você gostou?

ROBSON: - Me balançou sim.

PAULA: - Já chega. Eu não quero saber mais nada. Eu vou embora. 

Paula vai saindo, Robson a segura pelo braço, a puxa para si. 

ROBSON: - Você precisa me entender também, Paula... Eu estou me sentindo dividido.

PAULA: - Eu não posso ficar com metade de você e deixar a outra parte com a minha própria filha, Robson. É um absurdo! Eu estou arriscando o meu casamento com a nossa história e o que eu recebo em troca? Uma dúvida sua?

ROBSON: - Só de pensar em ter que escolher, eu me vejo num beco sem saída.

PAULA: - Na verdade, você tem saída sim. Só não quer escolher com medo de perder. Mas você precisa fazer isso, Robson. E o quanto antes. Assim, desse jeito, pra mim não dá. 

Paula se afasta, vai até a porta. Vira-se para Robson. 

PAULA: - Embora o meu coração esteja sangrando agora... Embora eu saiba que o seu amor esteja me machucando, mesmo sendo o seu amor o que eu mais quero, desse jeito não dá. 

Paula sai da sala de Robson. Ele fica pensativo, leva as mãos ao rosto, indeciso. 

(fade out trilha “Sem Poupar Coração” – Nana Caymmi) 

CENA 04. QUADRA UNIDOS DA ZONA LESTE. INT. DIA. 

Leopardo pressiona Jair, sentados frente a frente na mesa. 

LEOPARDO: - E então presidente. Estou esperando tua resposta!

JAIR: - Assim você me complica, Leopardo! Poxa, a Bárbara é uma figura conhecidíssima na comunidade, já ganhou prêmios. Tirar ela da frente da bateria seria provocar uma guerra!

LEOPARDO: - Tu esqueceu que tu tem o soldado mais poderoso dessa guerra no teu lado, presidente? Sou eu aqui, brother!... E pensa na grana! A escola precisa ir pras cabeça! 

Jair se mostra indeciso. Leopardo tira do bolso um maço de dinheiro, coloca sobre a mesa e empurra para Jair. Neste instante, Candinho vai entrando pela porta dos fundos da quadra. Ele vê a cena e se esconde, para não ser visto. 

LEOPARDO: - Aí tem só um pouquinho, bem pouquinho perto do que eu posso conseguir pra nossa escola. Só depende do senhor, presidente. 

Jair observa o maço de dinheiro, indeciso. Ele resolve pegar o maço e coloca direto no bolso, sem olhar. 

JAIR: - Hoje à noite, na reunião da diretoria, eu vou anunciar a mudança da nova rainha da bateria.

LEOPOLDO: - É assim que se fala, presidente! Tenho certeza que o senhor não vai se arrepender! 

Leopardo se levanta e vai embora. Jair fica na mesa, pensativo, quando Candinho se aproxima e senta na cadeira em sua frente.

CANDINHO: - Eu vi mesmo o que eu vi?

JAIR: - O que é isso, Candinho? Entrando silencioso igual a gato na casa dos outros é?

CANDINHO: - Seu Jair! O senhor vai mudar a frente da bateria?

JAIR: - Por favor, Candinho, não fale nada.

CANDINHO: - Desde que não sobre pra mim! Senhor sabe que sempre que dá esses rolos de rainha de bateria, chuvisca no mestre!

JAIR: - Não se preocupe. Você não será nem lembrado nessa história... Agora é pensar no futuro do nosso carnaval. A Unidos da Zona Leste vai vir com tudo para buscar o título. 

CENA 05. APTO RAQUEL. INT. DIA. 

Em seu apartamento, Raquel conversa com Jaqueline.

RAQUEL: - Só a comida do Claude para me deixar mais animada. O encontro de hoje lá no restaurante não foi dos melhores. Não estava preparada para ver a Lenara e o Henrique logo de cara.

JAQUELINE: - Ai amiga, nem fala. Deu pra ver na cara dele que ele ficou ainda mais surpreso.

RAQUEL: - Certo que ele não sabia que era eu a madrinha do casamento.

JAQUELINE: - Você vai ir mesmo nesse jantar hoje?

RAQUEL: - Claro que eu vou! Se eu não me aproximar, a Lenara pode desconfiar... Não quero dar bandeira.

JAQUELINE: - E como você vai fazer para falar pra ele da gravidez? Não dá pra deixar passar muito, Raquel.

RAQUEL: - Eu sei amiga. Eu voltei pra São Paulo pra poder desatar esse nó na minha vida. Só espero que dê tudo certo. 

CENA 06. CARRO. INT. DIA. 

Henrique dirige quieto. Lenara o percebe incomodado. 

LENARA: - Henrique, aconteceu alguma coisa?

HENRIQUE: - Nada não.

LENARA: - VocÊ está estranho. Desde que a gente saiu do restaurante, não disse uma palavra nem nada. Nem sobre a Raquel.

HENRIQUE: - Ah, Lenara, não tenho nada pra dizer.

LENARA: - Tem certeza que não aconteceu nada?

HENRIQUE: - Tenho, tenho toda certeza. Eu só estou preocupado com o horário. Tenho umas coisas pra resolver na empresa, só isso.

LENARA: - Se você diz, tudo bem. Só me deixa lá naquela loja, onde eu encomendei a lembrança para os padrinhos. Já que vamos fazer o jantar, eu posso entregar hoje pra eles.

HENRIQUE: - Tudo bem.

LENARA: - Que maravilha a Raquel de volta! E bem antes do que eu esperava!... Adoro ela, sabia? Eu, ela e a Jaque somos um trio inseparável!

HENRIQUE: - É bonita a amizade de vocês.

LENARA: - Ter elas no meu casamento, minhas madrinhas, está sendo um sonho realizado. 

Henrique fica pensativo, dirigindo, procurando se concentrar. 

CENA 07. CASA SANTIAGO. SALA DE ESTAR. INT. DIA. 

Paula chega em casa, encontra Carol na sala, sentada no sofá, folheando uma revista. Paula está angustiada, um misto de irritação e aflição. Ela joga a bolsa no sofá e pega Carol pelo braço, segura forte, erguendo a moça. Carol se surpreende. 

CAROL: - Mãe! O que é isso? Está me machucando!

PAULA (segurando firme): - Por que você foi atrás do Robson, Carol? Por quê?!

CAROL: - Eu não sei do que você está falando!

PAULA: - Não mente pra mim, Carolina! Eu já sei de tudo! Me fala!

CAROL (soltando-se): - Se já sabe de tudo eu não preciso te responder, não acha? Mas eu vou dizer... Eu fui atrás do Robson sim, porque eu estou apaixonada por ele! 

Paula não resiste e dá um tapa no rosto de Carol.

Silêncio na sala. Apenas a respiração de Paula, ofegante, cansada. Paula percebe seu ato, tenta se acalmar. Carol permanece com o rosto virado, uma lágrima cai do seu rosto. Paula observa filha, tenta conter as lágrimas. 

PAULA: - Eu não queria, mas... Foi mais forte do que eu.

CAROL: - Isso só mostrou o quanto você está descontrolada por causa dele e abandonando toda a dedicação do meu pai ao seu casamento, à nossa família.

PAULA: - Dedicação do seu pai? Seu pai está mais preocupado com a empresa do que com a gente. E isso você sabe muito bem.

CAROL: - Só que você é a esposa dele! Não tem cabimento isso que você está fazendo... Aliás, isso que você fazia, porque não vai mais fazer.

PAULA: - Como é que é?

CAROL: - Eu vou lutar com todas as armas para ter o Robson comigo, mãe.

PAULA: - Você não pode estar falando sério. Carol, você sabe dessa minha história com ele!

CAROL: - Mas a sua história vai acabar, ou melhor, já acabou. Agora é a minha vez de viver, de sentir o gostinho dessa aventura!

PAULA: - Ah, entendi. Você quer ficar com o Robson só por causa de uma aventura, é isso?

CAROL: - Não mãe, não é aventura. Eu sei que não é. E você não vai me impedir de viver isso. 

Carol sai da sala. Paula fica pensativa.

CENA 08. TRANSIÇÃO DO TEMPO.

(sobe trilha “We Just Don't Care” – John Legend) Imagens de São Paulo ao anoitecer.Mostra as rodovias da cidade iluminadas, os faróis dos carros no trânsito.

CENA 09. CASA DALVA. INT. NOITE.

(fade out trilha “We Just Don't Care” – John Legend) Dalva chega em casa, carregando as compras do mercado. Deixa as sacolas na mesa da sala.

DALVA: - Carlos?... Cássio, meu filho?... Ninguém em casa...

O telefone toca. Dalva atende.

DALVA: - Alô? (T) Sim, sou eu. (?) Oi! Claro, lembro sim, da galeria de arte! Pois então, foi bom mesmo você ligar. Eu quero saber certinho quando é que vocês vão vir aqui olhar os quadros para fazer a seleção das obras que irão para a exposição? (T) Não vão vir? Mas por que? (T) (entristecida) Mas como isso? Nós mandamos vários convites, imprensa e... (T) Tem certeza que não tem como contornar? Cancelar tudo agora seria tão ruim... (T) Tudo bem. Obrigada por avisar.

Dalva desliga o telefone, chateada. Fica por um tempo pensativa, até que começa a chorar. Ela sai da sala, vai até o sótão.

CENA 10. CASA DALVA. SÓTÃO. INT. NOITE,

Dalva entra no sótão, onde os quadros estão organizados. Ela vai até sua bancada, pega o maço de cigarros, retira um e acende. Traga. Aflita, ansiosa, triste. Fuma apressadamente, se afoga, tosse. Ela pega uma tesoura e rasga uma das telas expostas sobre um cavalete. As lágrimas continuam a correr sobre o seu rosto. Dalva rasga mais uma tela. Acende um outro cigarro, fuma novamente, aflita. Num rompante de fúria, derruba todas as telas, fura algumas com a tesoura, atira a tesoura contra a parede. Acende outro cigarro, fuma novamente, compulsiva. Parece um tanto desnorteada, cai sobre as telas no chão, chorando e fumando.

CENA 11. APTO LENARA. INT. NOITE.

Lenara recebe os padrinhos do seu casamento na sala de estar da sua casa. Tarsila e Barreto, Humberto e Claude estão presentes. Lenara os faz companhia. Henrique vem da cozinha, trazendo mais uma garrafa de champanhe.

BARRETO: - Henrique, por favor, eu vou aceitar uma taça desse aí. Essa vinícola é uma das melhores do ramo de espumantes.

HENRIQUE (servindo Barreto): - E eu comprei justamente por saber que você conhece bem, Barreto.

CLAUDE: - Essa é uma das mais pedidas no restaurante.

HUMBERTO: - Então é você o dono do Gourmet Paulista! Sempre ouvia falar no seu nome, já te vi em alguns eventos, mas não ligava o nome à pessoa.

CLAUDE: - Pois então, sou eu mesmo. Você já foi ao meu restaurante?

HUMBERTO: - Poucas vezes, confesso, mas gostei muito. É um ambiente muito requintado e acolhedor. Tudo o que a sociedade paulistana merece, além de uma boa gastronomia.

CLAUDE: - É, a gente trabalha pra isso, para trazer um serviço de qualidade aos clientes.

LENARA: - Gente, a Jaque e a Raquel estão demorando, não é?

CLAUDE: - Quando eu estava vindo pra cá, dei uma ligada pra elas. Elas já estavam a caminho.

LENARA: - Nossa, que demora!... Bom, vou ver uma música pra gente.

Lenara vai até a estante onde está o aparelho de som. Fica indecisa para escolher um cd entre os milhares que estão no local, servindo também como decoração do ambiente. Humberto se aproxima. Os dois conversam, discretamente, para não serem ouvidos. 

LENARA: - Veio me ajudar a escolher uma trilha?

HUMBERTO: - Vim mais para sentir o seu perfume.

LENARA: - Você não tem medo do seu irmão ouvir uma coisa dessas?

HUMBERTO: - Sinceramente? Não. Até porque, o Henrique não é meu irmão... E no fundo, eu sei que você gosta.

LENARA: - Para com essa conversa, Humberto.

HUMBERTO: - Pensou na proposta que eu te fiz? Pensa na grana... Um apartamento maior que esse aqui. Luxo, viagens. Eu. (ri, sarcástico) 

Lenara se afasta, deixando Humberto sozinho. Ele disfarça, observando os cds, quando Otávio se aproxima, brincando com seu carrinho. 

HUMBERTO: - É bom ir brincar pra lá com seu carrinho.

OTÁVIO: - Mas eu gosto de brincar aqui. Tem vários obstáculos!

HUMBERTO: - Seja legal com o tio...

OTÁVIO: - Eu não vou ser legal com quem não está sendo legal comigo. 

Humberto encara Otávio, abaixa-se para ficar cara a cara com o garoto. 

HUMBERTO: - Eu realmente não sou legal e se for preciso, eu estraçalho esse seu carrinho idiota. Agora sai daqui, garoto. 

Otávio mostra a língua para Humberto, fazendo careta e sai. Humberto disfarça. Neste instante, a campainha toca. 

LENARA: - Acho que elas chegaram! 

Lenara abre a porta. Jaqueline e Raquel cumprimentam Lenara e entram no apto. Raquel e Henrique trocam olhares logo de cara. 

TARSILA: - Então você é a famosa Raquel!

RAQUEL: - Famosa, eu?

TARSILA: - Sim! Lenara não para de falar no seu nome! (risos) Muito prazer, querida, Tarsila.

RAQUEL: - O prazer é todo meu! (simpática)

LENARA: - Por que a demora?!

JAQUELINE: - Acha que andar neste trânsito louco é fácil? E deu um acidente numa avenida aqui perto, tivemos que fazer uma volta grande pra chegar. 

Henrique se aproxima de Raquel. 

HENRIQUE: - Que bom que você veio.

RAQUEL: - Não poderia deixar de ver minha amiga.

HENRIQUE: - A gente precisa conversar.

RAQUEL: - Precisamos mesmo, mas hoje não.

HENRIQUE: - Depois, lá dentro.

RAQUEL: - Não, Henrique, por favor! 

Lenara se aproxima. 

LENARA: - Qual o assunto da conversa, posso saber?

RAQUEL: - Eu estava perguntando pro seu noivo aonde fica o banheiro. Esse seu apartamento é enorme e como eu pouca vezes vim aqui.

LENARA: - Ainda mais depois da reforma, não é? O banheiro fica logo ali, no corredor, à direita. Vem, eu te acompanho.

HENRIQUE: - Não, amor. Pode deixar que eu levo a Raquel até lá. Você poderia ir cuidando do jantar. Acho que já podemos servir daqui a pouco.

LENARA: - Isso mesmo, vou ver se a Rita já está com tudo pronto lá. 

Lenara se afasta. Raquel encara Henrique. 

HENRIQUE: - Vem, por aqui. 

Os dois entram pelo corredor. Jaqueline observa tudo.

CENA 12. QUADRA UNIDOS DA ZONA LESTE. INT. NOITE.

Reunião da diretoria na quadra da escola de samba. À mesa, Jair, sentado na ponta. Zuleica, Rosa, Candinho, Bárbara e outros diretores presentes.Keylla Mara chega, senta-se um pouco mais afastada do grupo, apenas observando.

JAIR: - Essa reunião extraordinária se deu, porque a escola está passando por uma pequena reformulação.

ROSA: - Reformulação?

JAIR: - Sim, Rosa. A gente vai dar uma mexida em alguns setores da escola, para poder chegar forte na disputa pelo título do carnaval do ano que vem...

ZULEICA: - E quais seriam essas reformulações?

JAIR: - Pois bem, algumas são na equipe de barracão. O Darci, nosso carnavalesco, não pode estar presente, mas ele está trazendo novos profissionais de Parintins para trabalhar na escola. Ele também me deu a lista de materiais que ele vai precisar para a feitura do nosso carnaval e realmente não sairá nada barato.

ZULEICA: - Eu sempre disse que o Darci era careiro! Só faz gastos e pouco resultado! Você viu como a gente ficou ano passado!

BÁRBARA: - Os únicos dez foram pra nossa bateria.

CANDINHO: - Modéstia À parte, eu e os meninos nos esforçamos muito.

BÁRBARA: - Foi a bateria que segurou a escola no Especial, de novo... (gaba-se) A bateria e eu, é claro, que levei o título de melhor rainha de bateria do carnaval.

JAIR: - Pois foi pensando justamente nestes gastos que eu firmei algumas parcerias que vão nos dar bons resultados.

ROSA: - Parcerias com quem, presidente?

JAIR: - Com empresários do bairro, principalmente, com pessoas comprometidas em ajudar nossa escola. Entre elas, o Jaguatirica. 

Neste instante, Leopardo entra na quadra, acompanhado de Aimée e Cássio. 

LEOPARDO: - É Leopardo, mano! Leopardo! 

Todos se surpreendem. 

ZULEICA: - O quê?! Você está fazendo parceria da nossa escola com um traficante?!

LEOPARDO:- Traficante não, minha senhora! Eu sou um empresário aqui do bairro, e torcedor da escola. Só quero ajudar.

ROSA: - Aimée, você deveria escolher melhor as suas companhias. 

Aimée baixa a cabeça, envergonhada. 

LEOPARDO: - E aí presidente, já falou da mudança principal?

ROSA: - Mudança principal?

ZULEICA: - Mas eu bem que desconfiei que essa reunião não ia terminar em boa coisa. Fala logo, Jair, o que mais vai mudar?

LEOPARDO: - Ah, ele não falou?! Então deixa que eu falo... A nossa escola para o próximo ano já tem uma nova rainha da bateria. 

Bárbara salta da cadeira, incrédula. 

BÁRBARA: - Como é que é? Que palhaçada é essa?!

LEOPARDO: - Daqui da comunidade e que com certeza, vai nos dar muito orgulho... Aimée! 

Todos se surpreendem, inclusive Aimée. 

AIMÉE: - Eu?! Não, eu não posso!

ZULEICA: - Jair! Isso é verdade? Você está tirando a minha filha da frente da bateria?

BÁRBARA: - Só pode ser mentira. Só pode ser mentira!

JAIR: - É pelo futuro do nosso carnaval. O Leopardo vai ajudar a gente e então...

BÁRBARA: - E então quer dizer que a minha amiga, ou já nem sei se é tão amiga assim, comprou o cargo de rainha da bateria, é isso?!

AIMÉE: - Não, Bárbara! Eu juro que não sabia!... Leopardo, por favor! Não faz isso comigo!

LEOPARDO: - Você vai desfilar linda, meu amor! Você não nasceu pra ficar escondida na ala de passistas. Nasceu pra brilhar! E a bateria agora será toda sua.

BÁRBARA: - Mas isso nunca! 

Bárbara parte para cima de Aimée, que tenta se defender. Candinho e Cássio as separam. 

KEYLLA MARA: - Bárbara, para! Se controla amiga!

BÁRBARA: - Como é que eu vou me controlar, Keylla Mara?! Essa falsa aí está roubando o meu lugar!

AIMÉE: - Eu não quero isso!

LEOPARDO: - Vai querr. Porque eu to fazendo tudo isso pra te deixar feliz, lindona. Vai fazer essa desfeita pra mim, princesa? 

Leopardo encara Aimée, que se cala. 

LEOPARDO: - Bem que eu acreditei que você iria aceitar de livre e espontânea vontade, meu amor (a beija na testa)

ROSA: - Eu não acredito nisso.

ZULEICA: - Isso é um absurdo! A Bárbara é rainha há tanto tempo e agora, por causa do dinheiro, você está fazendo isso? Pois saiba, Jair, que se a minha filha está saindo, eu também estou.

JAIR: - Zuleica, não! 

Jair segura Zuleica pela mão. Os dois trocam olhares. Aos poucos, ele a solta. 

ZULEICA: - Não posso, Jair... Eu não posso... (se afasta) Vamos Bárbara, vamos embora. 

Candinho, que estava segurando Bárbara, a solta. Bárbara enxuga as lágrimas. 

BÁRBARA: - Este é o dia mais triste da minha vida... 

Zuleica abraça a filha e as duas saem da quadra. 

CÁSSIO: - Pensei que essa mulher fosse ter um troço do coração de tanto que se sacudiu aqui!

LEOPARDO: - Depois passa. Choro de perdedor, sabe como é?... (a Jair) Ô presidente, a gente só precisa decidir quando vai ser a festa da coroação da nossa nova rainha.

JAIR: - Claro, Leopardo, mas acho que por hoje já chega. Num outro momento a gente fala sobre isso.

LEOPARDO: - Tá certo.

JAIR: - A reunião está encerrada. 

Os diretores vão saindo. Keylla Mara se aproxima de Candinho. 

KEYLLA MARA: - Você sabia disso tudo, não sabia?

CANDINHO: - Eu soube antes sim, mas eu não quis opinar em nada. Jair já estava ciente de tudo o que poderia acontecer com essa mudança. 

Aimée se aproxima deles. Keylla Mara fecha a cara para ela. 

AIMÉE: - A Bárbara ficou arrasada.

KEYLLAMARA: - Também pudera, com a rasteira que ela levou. Da própria amiga.

AIMÉE: - Eu juro que não sabia,Keylla Mara.

KEYLLA MARA: - Eu prefiro não dizer nada, Aimée. Eu sou amiga das duas e não quero me envolver nessa guerra não. Me deixem fora dessas... Fui!

CANDINHO: - Quer carona, minha musa?

KEYLLA MARA: - Não precisa, mestre. Pode ficar aí, fazendo as honras da casa para a sua nova rainha. 

Keylla Mara sai. Jair se aproxima de Aimée. 

JAIR: - Eu acredito em você, Aimée. Você vai fazer um grande trabalho à frente da bateria do mestre candinho. 

Aimée esboça um sorriso, Leopardo e Cássio se aproximam. 

LEOPARDO: - Vamos nessa, minha princesa? Ou melhor, minha rainha?

AIMÉE: - Vamos sim. Já tive emoções fortes demais pra hoje.

CÁSSIO: - Borá lá comemorar, chefe!

LEOPARDO: - Fechou todas! 

Aimée, Cássio e Leopardo saem. 

CANDINHO: - Tem certeza que fez um bom negócio, presidente?

JAIR: - Certeza mesmo eu não tenho, Candinho. Mas agora tá feito. Só falta o Leopardo cumprir com a parte dele.

CANDINHO: - É, vamos esperar... 

CENA 13. APTO LENARA. BANHEIRO / CORREDOR. INT. NOITE. 

Raquel entra no banheiro, tenta fechar a porta, mas Henrique entra junto. Ele tranca a porta e os dois ficam a sós. Eles se encaram. 

(sobe trilha “Entre Olhares” – Ana Carolina e John Legend) 

Henrique e Raquel se beijam, apaixonados, abraçados fortemente um ao outro, totalmente entregues. 

HENRIQUE: - Maldito destino pregando peças na gente! Eu juro que não sabia de nada!

RAQUEL: - Eu acredito, Henrique. Eu também não sabia. Só que agora a gente não pode fazer nada. A Lenara está apaixonada por você.

HENRIQUE: - E você voltou por que? Não foi só pro casamento, pode dizer. Desistiu do Joaquim?

RAQUEL: - Eu nunca tive nada com o Joaquim. Quando é que você vai acreditar?

HENRIQUE: - Depois das mensagens, o e-mail, as fotos de vocês dois se beijando, fica difícil acreditar mesmo.

RAQUEL: - Foi tudo um engano!

HENRIQUE: - Ah, um engano? Um homem e uma mulher não se beijam por engano e tiram foto disso, Raquel!

RAQUEL: - Foi tudo armação do Joaquim!

HENRIQUE: - Como é que é?! 

De repente, a voz de Lenara é ouvida.

LENARA (OFF): - Henrique? Amor?

RAQUEL: - É a Lenara, ela tá vindo!

Henrique ainda dá mais um beijo em Raquel antes de sair do banheiro, rapidamente. Ele chega no corredor no momento em que Lenara surge.

LENARA: - Tá fazendo o quê aí, Henrique?

HENRIQUE: - Eu fui levar a Raquel até o banheiro e aí pensei ir até o escritório e pegar as lembranças para dar aos padrinhos.

LENARA: - Tem razão! Vamos juntos!

Henrique se afasta com Lenara. Raquel, dentro do banheiro, escorada na porta, sorri, com os dedos tocando os lábios, lembrando do beijo de Henrique.

(fade out trilha “Entre Olhares” – Ana Carolina e John Legend)

CENA 14. CASA DALVA. SÓTÃO. INT. NOITE.

Carlos vai entrando no sótão quando encontra Dalva desmaiada, caída sobre os quadros.

CARLOS: - Dalva!

Aflito, Carlos se apressa para ajudá-la.

CARLOS (com Dalva nos braços): - Dalva, meu amor! Fala comigo! Dalva! Dalva!

Carlos olha em volta, vê os quadros rasgados, alguns quebrados e tocos de cigarro no chão.

CENA 15. APTO ROBSON. INT. NOITE.

Robson abre a porta do apto e Carol entra, apressada.

ROBSON: - O que foi desta vez, Carol?

CAROL: - Não fala assim comigo, Robson... Eu preciso de um ombro amigo agora. Ou melhor, do seu carinho.

ROBSON: - Mas (pausa)

CAROL: - Eu tive uma discussão feia com a minha mãe hoje.

ROBSON: - Suspeitei. Ela foi lá na empresa também e a gente também discutiu.

CAROL: - Ela acha que pode mandar na minha vida! Mas ela está muito enganada! Robson, eu estou disposta a brigar por você. Estou completamente envolvida!

ROBSON: - Mas Carol, a coisa não é tão simples assim.

CAROL: - Como não? Você não está afim de mim também?

ROBSON: - Claro que estou, não vou negar não. Mas tem a sua mãe. E eu não posso esconder que também sinto alguma coisa por ela.

CAROL: - Então eu vou te ajudar a se decidir.

Carol se aproxima de Robson, os dois se beijam. De repente, o telefone dela toca. Carol olha a chamada. Visor na tela mostra MÃE CHAMANDO.

ROBSON: - Você não vai atender?

CAROL: - É a minha mãe. Deve estar querendo saber onde eu estou. Eu saí de casa e nem disse pra onde ia. Saí até sem ela me ver pra evitar ficar dando satisfação.

ROBSON: - Atende, Carol. Pode ser importante.

CAROL: - Mais importante agora é eu e você. Só isso que me importa.

Carol joga o telefone no sofá e volta a beijar Robson.

CENA 16. HOSPITAL. SALA DE ESPERA. INT. NOITE.

Na sala de espera do hospital, Paula desliga o telefone, desistindo de falar com Carol. Ela se aproxima do sofá, onde estão Santiago e Carlos.

PAULA: - Não adianta. A Carol não atende o telefone.

CARLOS: - E nem o Cássio!... Aliás, Cássio nunca ta em casa, vive na rua, desregrado!

SANTIAGO: - Calma, Carlos. Não é hora de procurar desavenças. Pensa na saúde da tua mulher.

PAULA: - Eu sabia que ela tava fumando escondido... Cedo ou tarde isso ia acontecer. Eu deveria ter dado uma dura nela.

CARLOS: - Eu fiquei em pânico quando vi ela caída no meio dos quadros, no sótão... E esse médico que não vem pra dar notícias!

PAULA: - Ele vem vindo!

O médico se aproxima (um homem idoso, acima dos 65 anos, baixo, cabelos grisalhos).

CARLOS: - E então, doutor, como está a minha mulher?

MÉDICO: - Senhor Carlos, o caso da sua esposa é grave.

PAULA: - Ai meu Deus!

CARLOS: - Como assim?

MÉDICO: - A paciente apresenta um estado avançado de enfisema pulmonar. O tabagismo é o principal fator disso tudo.

CARLOS: - Ela vinha se queixando de falta de ar, e tinha muita tosse também.

MÉDICO: - Isso já era um sinal. Pelos rápidos exames que nós fizemos, ela fumou durante muito tempo.

SANTIAGO: - Tinha parado, não tinha?

CARLOS: - Ela até tentou, mas teve recaídas.

MÉDICO: - Infelizmente, a Dalva corre risco de vida. Ela está na UTI, e nós estamos tentando fazer o máximo para que ela consiga sair bem dessa.

O médico se afasta. Paula se abraça em Santiago, que a consola. Carlos permanece imóvel, sem reação.

CENA 17. APTO LENARA. SALA DE JANTAR. INT. NOITE.

Todos à mesa na sala de jantar. Rita entra no local.

LENARA: - Otávio dormiu, Rita?

RITA: - Demorou um pouco, mas agora já estava dormindo... Bom, eu já vou indo, dona Lenara.

LENARA: - Pode ir, Rita...

Rita se despede e vai embora.

LENARA: - Esse menino pegou mania de ficar até tarde jogando videogame e depois não dorme.

CLAUDE: - Nossa, pra idade dele, uma boa noite de sono é fundamental para um crescimento saudável.

LENARA: - Eu tento educar direitinho né, mas aí vai pra casa do pai e lá é tudo liberado, uma verdadeira zona.

JAQUELINE: - Ah, Lenara, o Ulisses parece ser um bom pai.

LENARA: - Tenho lá minhas dúvidas.

HUMBERTO: - E então por que fez um filho com ele?

LENARA: - Não sei. Estava bêbada talvez no dia.

JAQUELINE: - Nossa, que humor ácido hein!

Henrique e Raquel não param de se olhar na mesa, sentados de lados opostos, um de frente para o outro.

BARRETO: - E então, Raquel, você estava estudando em Portgal, não?

RAQUEL: - Sim, estava. Gastronomia. Infelizmente eu voltei antes de concluir o curso, mas consegui aprender muita coisa. Adorei Lisboa!

TARSILA: - Lisboa é uma cidade muito bonita mesmo, mas nada se compara à Paris!

JAQUELINE: - Você gosta, Tarsila?

TARSILA: - Amo!

BARRETO: - Se pudesse, Tarsila moraria em Paris!

JAQUELINE: - Eu preciso Praga, Amsterdã...

HUMBERTO: - Praga é uma cidade muito bonita.

HENRIQUE: - Fomos pra lá numas férias, lembra, Humberto?

HUMBERTO: - Claro que lembro... Mochilão pela Europa. Hoje já não me arrisco mais. Só saio de casa pra ficar num bom hotel.

LENARA: - Eu também. Humberto. Nada dessas aventuras.

HENRIQUE: - Vocês não sabem o que é bom, conhecer outros lugares a pé, sem ter um destino definido. Contato com a natureza, com o povo do lugar.

LENARA: - Não! Sem contatos! (risos) Apenas eu, minha companhia e o que a cidade oferecer de melhor e sofisticado.

RAQUEL: - Existe coisa melhor e mais sofisticada do que o povo de um lugar? Eu desconheço. Ali está toda a essência da cidade, do país!

CLAUDE: - Gente, adoro esses encontros assim como o nosso de hoje! Tantas opiniões diferentes e relevantes também. Curto muito isso.

LENARA: - Fora que não é qualquer pessoa que está neste grupo, né, Claude? (risos) Somos os melhores!... E eu gostaria de aproveitar que estão todos aqui e dizer que, eu estou muito feliz em poder compartilhar dessa minha alegria e desse momento tão importante da minha vida, ao lado de pessoas tão especiais. Dos meus amigos, do meu amor (encara Henrique) que eu pretendo fazer dele o homem mais feliz deste mundo!

Raquel desvia o olhar. Humberto encara Lenara, enquanto bebe um gole do champanhe.

LENARA: - Quero dizer também que este casamento será o maior e mais badalado da sociedade paulistana!

BARRETO: - Viva os noivos!

Todos erguem as taças e brindam. Novamente, Raquel e Henrique trocam olhares.

LENARA: - Que seja o início de uma nova vida para todos nós.

As taças erguidas, selam o brinde.

(sobe trilha “Sampa” – Caetano Veloso)

CENA 18. PASSAGEM DO TEMPO.

Imagens de São Paulo, alternadas entre dia e noite. Mostra a Avenida Paulista, a Rua 25 de Março, o Estádio do Morumbi, a Marginal Tietê, o Monumento aos Bandeirantes, a Marginal Pinheiros, a Praça da Sé, a Galeria do Rock, o Complexo do Anhembi, o MASP, vista aérea do Jockey Club.

Legenda na tela: DIAS DEPOIS...

CENA 19. JOCKEY CLUB. SALÃO NOBRE. INT. DIA.

(fade out trilha "Sampa" – Caetano Veloso) Imagens do salão nobre do Jockey Club totalmente decorado para o casamento de Henrique e Lenara. Muitos convidados presentes no local, vestidos de forma elegante e requintada. 

Maria Alice recepciona os convidados junto com Henrique. 

MARIA ALICE: - Está feliz, filho?

HENRIQUE: - Estou mãe. E nervoso também.

MARIA ALICE: - O nervosismo faz parte. Agora você está dando um novo passo na sua vida. E eu desejo do fundo do meu coração que seja um passo certo.

HENRIQUE: - Vai ser mãe. Vai ser... 

Henrique desvia o olhar quando vê Raquel chegar no salão. Trajando um vestido amarelo, longo, com bordados em dourado, valorizando sua pele negra. O penteado, com tranças e uma parte solta, destaca seu cabelo afro, crespo e volumoso. Raquel chega acompanhada de Jaqueline e Claude. Jaqueline veste um longo vermelho, com detalhes em renda. Claude veste um terno azul escuro e gravata em dégradé de azul. 

CLAUDE: - Bem que eles disseram que a decoração estaria linda. Está espetacular!

JAQUELINE: - Realmente, é o casamento do ano.

RAQUEL: - Linda festa mesmo.

CLAUDE: - Bem, eu vou dar uma circulada e depois ver como está o serviço do bufê. Até logo. 

Claude se afasta. Enquanto isso, os olhos de Raquel encontram os olhares de Henrique. 

JAQUELINE: - Ih, Henrique já te viu.

RAQUEL: - Ele está lindo, Jaque!

JAQUELINE: - Está mesmo, um gatão. Só que você não pode se deixar levar... Lembra do que você me disse ontem lá no seu apartamento.

RAQUEL: - Eu lembro. Hoje eu abro jogo pra ele.

JAQUELINE: - Eu ainda acho arriscado.

RAQUEL: - Mas se eu não contar toda a verdade pra ele hoje, pode ser tarde demais. A gente não se viu mais depois do jantar na casa da Lenara. Eu resisti ao máximo.

JAQUELINE: - Eu sei amiga... Ele ta vindo! 

Henrique se aproxima das duas. 

HENRIQUE: - Mas eu tenho as madrinhas de casamento mais lindas que já existiram.

JAQUELINE: - Muito obrigado, Henrique! Você também, está muito bonito!

RAQUEL: - Henrique, eu preciso falar com você. Mas tem que ser num lugar um pouco mais reservado. Tem como?

HENRIQUE: - Claro, vamos por aqui. Tem uma sala aqui perto que dá pra gente conversar. 

Henrique e Raquel saem. Jaqueline caminha pelo salão. Passa por uma das mesas,onde estão Donato e Liza. 

DONATO: - Que festança hein! Esbanjando meu dinheiro...

LIZA: - O dinheiro é deles, pai. Não é seu.

DONATO: - Deixa de ser boba, Liza... Tudo isso que eles têm aqui começou com o que eu botei. Gurgel só fez multiplicar o que é meu e depois se adonou, dizendo que era dele. Safado.

LIZA: - Não fala isso! Imagina se alguém escuta!

DONATO: - Eu não tenho nada a perder... 

Maria Alice se aproxima. 

MARIA ALICE: - Aí é que você se engana, Donato. 

Donato levanta-se da mesa, fica a encarar Maria Alice. 

MARIA ALICE: - Qualquer escândalo seu aqui, você vai perder e muito. Se duvidar, perde até a liberdade, porque eu vou ter o prazer de ver você na cadeia! Aproveitador!

DONATO: - Pra quê tanto ódio nesse coraçãozinho, Alice? Você sempre tão sensata, tão serena, agora anda destilando raiva por aí?

MARIA ALICE: - Não brinque comigo, Donato... Estou te aviando. 

Maria Alice se afasta. Neste instante, um segurança se aproxima dela. 

SEGURANÇA: - Dona Maria Alice, tem uma pessoa lá fora querendo entrar na festa, mas não tem convite.

MARIA ALICE: - Se não tem convite, não entra, é simples.

SEGURANÇA: - Mas ela disse que é da família.

MARIA ALICE (estranha): - Da família? 

Humberto se aproxima. 

HUMBERTO: - O que foi gente?

MARIA ALICE: - o segurança está dizendo que tem uma pessoa dizendo ser da família e que quer entrar na festa, mas não tem convite. Que estranho...

HUMBERTO: - Vamos lá ver então. 

O segurança sai com Maria Alice e Humberto. 

CENA 20. JOCKEY CLUB. SALA. INT. DIA. 

Numa sala reservada, Henrique e Raquel se beijam, apaixonados. 

HENRIQUE: - Você queria mesmo ficar a sós comigo para matar a saudade, não é?

RAQUEL: - Também, Henrique! Mas não é só pra isso não. A gente tem que conversar.

HENRIQUE: - Eu sei, mas eu não consigo parar de beijar você! 

Os dois trocam mais alguns beijos calorosos, até que Raquel se afasta. 

RAQUEL: - Não Henrique! Agora é sério mesmo.

HENRIQUE: - Tudo bem.

RAQUEL: - Nós temos umas lacunas para preencher nessa história toda.

HENRIQUE: - Claro. Muita coisa para ser esclarecida.

RAQUEL: - Eu vou começar pelo início de tudo isso. Aquele bendito e-mail que você recebeu com as fotos.

HENRIQUE: - Foi o dia mais triste da minha vida.

RAQUEL: - O Joaquim, apesar de eu apenas ter uma consideração de amizade por ele, acabou se declarando pra mim, assumindo que estava apaixonado.

HENRIQUE: - Disso eu nunca suspeitei.

RAQUEL: - Só que nunca quis nada com ele... Aquelas fotos ele tirou quando a gente estava fazendo um trabalho do curso. Ele se aproveitou de mim, me roubou um beijo e tirou a foto. Eu pedi para ele apagar, só que ele não fez isso... Acabou te mandando as fotos, achando que isso ia fazer eu esquecer você e ficar com ele. Só que eu nunca esqueci.

HENRIQUE: - Meu chão caiu quando eu vi aquelas fotos, Raquel. Depois eu tentei ligar pra você e recebi uma mensagem mais cruel ainda.

RAQUEL: - O Joaquim se aproveitou que a gente estava numa festa e mexeu no meu telefone. Ele que digitou a mensagem, que fez tudo isso.

HENRIQUE: - Esse cara é um mau caráter!

RAQUEL: - Eu fiquei muito brava com ele... Mas fiquei feliz em saber que o meu amor por você não morreu e que eu precisava fazer alguma coisa... Quando eu descobri que você estava de casamento marcado eu fiquei sem chão também. E o choque maior veio quando eu vi que a noiva era a minha melhor amiga!

HENRIQUE: - Eu nunca poderia imaginar, Raquel... A vida da gente é uma caixinha de surpresas.

RAQUEL: - Surpresas mesmo. E foi por causa de uma surpresa que eu decidi voltar para o Brasil e tentar te encontrar.

HENRIQUE: - Que surpresa? 

Raquel coloca as mãos sobre o ventre e olha para Henrique, emocionada. Henrique se surpreende. 

CENA 21. JOCKEY CLUB. EXT. DIA. 

O segurança chega na porta do Jockey, acompanhado por Humberto e Maria Alice.

HUMBERTO: - Eu não vejo ninguém aqui.

MARIA ALICE: - Eu também não. Onde está essa tal pessoa?

SEGURANÇA: - Está vindo ali!

Maria Alice observa, espantada. Uma mulher, alta, acima dos 50, cabelos pretos, trajando um vestido longo preto com detalhes brilhantes, ela caminha elegante e se aproxima deles.

MULHER: - E então, Alice, não vai me deixar entrar?

HUMBERTO: - Quem é essa mulher, mãe?

Maria Alice fica reação diante da mulher.

CENA 22. JOCKEY CLUB. CORREDOR / SALA. INT. DIA.

Lenara, com a ajuda de Rita, caminha pelo corredor, vestida de noiva.

RITA: - Era melhor a senhora ter esperado no carro, dona Lenara!

LENARA: - Não, Rita! Eu me arrumo aqui dentro do clube mesmo. Só preciso retocar a maquiagem, porque com esse tempo, eu suei um pouco. Vamos procurar uma sala, rápido, antes que alguém nos veja.

Enquanto isso, dentro da sala, Henrique e Raquel estão abraçados um ao outro, emocionados.

HENRIQUE: - É verdade isso, Raquel?

RAQUEL: - É sim, meu amor. Eu estou grávida.

Henrique se ajoelha, beija a barriga de Raquel, que se emociona ainda mais. Ele se levanta, acaricia o rosto de Raquel.

HENRIQUE: - É a melhor surpresa que poderia ter acontecido na minha vida!

RAQUEL: - Mas a gente não pode ficar junto, Henrique. Estamos aqui, no seu casamento. Você vai ficar junto da minha melhor amiga. Eu não sei nem mais o que fazer.

HENRIQUE: - A gente vai dar um jeito nisso. Com o tempo, a Lenara vai entender toda essa história.

RAQUEL: - Será? Vai ser muito frustrante, Henrique... A Lenara está apaixonada por você!

HENRIQUE: - Mas é você quem eu amo, Raquel! Eu amo você! 

Henrique beija Raquel, apaixonado. Os dois escutam os aplausos dramáticos de Lenara, na porta da sala. 

LENARA (aplaudindo/irônica): - Até quando vocês iriam me esconder essa droga toda?!

RAQUEL (surpresa): - Lenara! O que você está fazendo aqui?

LENARA: - Cala essa boca, sua falsa! Agora eu sei o real motivo da sua volta. Foi pra ficar com o meu noivo, sua vagabunda! 

Lenara encara Raquel.


novela de
Édy Dutra
 
elenco
Juliana Alves como Raquel
Guilherme Winter como Henrique
Christine Fernandes como Lenara
Júlio Rocha como Humberto
 
Daniele Suzuki como Jaqueline
Jonathan Haagensen como Daniel
Cláudio Lins como Ulisses
Rodrigo Hilbert como Robson
Cinara Leal como Bárbara
Carlos Casagrande como Claude
Diego Cristo como Joaquim
 
Erika Januza como Aimée
Liliana Castro como Fernanda
Léo Rosa como Marcelo
Aline Dias como Stefany
Cecília Dassi como Carol
Luiz Otávio Fernandes como Nuno
Renata Castro Barbosa como Salete
Bernardo Mesquita como Cássio
Jonatas Faro como Igor
Odilon Wagner como Carlos
 
Rodrigo dos Santos como Barreto
Patrícia Werneck como Monique
Karina Bacchi como Keylla Mara
Nando Cunha como Candinho
Sérgio Guindane como Leopardo
Letícia Colin como Rita
Luiz Felipe Mello como Otávio
Maria Pinna como Lisa
 
atrizes convidadas
Carolina Ferraz como Paula
Regina Braga como Maria Alice
Aída Leiner como Tarsíla
Tânia Alves como Zuleica
Zezé Motta como Rosa

atores convidados
Zé Carlos Machado como Donato
Aílton Graça como Macedão
Nuno Leal Maia como Jair
Jean Pierre Noher como Santiago
 
Malu Galli como Dalva
Sônia Braga como Vilma
Reginaldo Faria como Gurgel

trilha sonora
Sem Poupar Coração – Nana Caymmi
 We Just Don't Care – John Legend
 Entre Olhares – Ana Carolina e John Legend
 Sampa – Caetano Veloso


produção

 Bruno Olsen
 Diogo de Castro
 Israel Lima


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


 
REALIZAÇÃO



Copyright 
© 2014 - WebTV
www.redewtv.com

Todos os direitos reservados
Proibida a cópia ou a reprodução

Compartilhe:

Capítulos de Terra da Garoa

No Ar

Terra da Garoa

Comentários:

0 comentários: