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Funerária Dois Irmãos: Capítulo 02

Novela de Marcelo Caronesi
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FUNERÁRIA DOIS IRMÃOS - CAPÍTULO 02




 

         Odilon e Odílio caminham pela rua deserta e escura. Várias casinhas germinadas umas nas outras têm portas e janelas que dão para a rua de paralelepípedos; algumas janelas estão abertas, outras estão fechadas. Os dois caminham calados, com passos rápidos. Logo, Odilon puxa um molho de chaves e para em frente a uma porta; coloca as malas que carrega no chão e põe uma chave na fechadura da porta. Odílio o cutuca e aponta para o fim da rua.

         – Aquela estrada é a que o ônibus veio?

         – Sim. Foi por ali que a gente veio.

         Odilon abre a porta e ambos entram; ele acende a luz. A sala está praticamente vazia, tendo apenas três cadeiras e uma pequena mesa no centro.

         – Tá faltando algumas coisas. Como eu só vim pra acertar a compra da casa, não tive tempo de comprar outros móveis. Nós vamos ter que dormir em redes hoje, mas tem tudo o que a gente precisa – explica Odilon.

         Odílio senta-se, acende um cigarro e encara Odilon.

         – Vamos lá. Abra o bico. Me explique aí, que tem coisa que não tá batendo com o que o Pirão te falou.

         – Aqui tem duas famílias que disputam por causa de política e de terras. De vez em quando morre um – justifica Odilon.

         – Odilon, eu não sou idiota. Eu escutei muito bem o que o seu Pereira disse.

         Odilon permanece um tempo calado. Coça o queixo. Enfim, diz:

         – Meu amigo, pense. Você acha que isso é coisa que as pessoas gostem de comentar? Ainda mais pra dois recém-chegados? Você acha que uma pessoa distinta vai ficar se gabando por que as pessoas se matam feito bandidos na cidade?

         – Eu só achando que o Pirão possa ter contado vantagem, Odilon.

         Odilon ri.

         – Contar vantagem de que? O que ele ia ganhar com isso? – questiona Odilon.

         – Respeito na cadeia, ora. O sujeito chega na cadeia e fica dizendo pra todo mundo que já matou oito pessoas, que era capanga de uma família na cidade que morava. Aquela história que você já repetiu dezenas de vezes.

         – Mas ele matou um sujeito numa desavença. E foi lá em São Paulo. Todo mundo sabe disso – retruca Odilon.

         – É. Ele te falou dessa história. Mas, por acaso você viu o defunto? Eu não tenho nada a ver se vocês ficaram amigos de cela. Mas se não me engano, você disse que ele foi em cana porque roubou um leitão no Natal de 52? Não é verdade?

         – Ele foi preso por isso. Do homicídio, ele matou e não deixou vestígios, por isso não deu em nada. A polícia nunca descobriu e nem prendeu ninguém.

         Odílio dá uma gargalhada.

         – E você acha mesmo que no xadrez vão respeitar um ladrãozinho de galinhas? No caso, um ladrão de porco? O sujeito inventou toda essa história pra impressionar e ser respeitado; você caiu na conversa mole dele.

         – Odílio, eu acredito que o Pirão pode até ter mentido sobre o assassinato de São Paulo. Mas também acredito que o seu Pereira disse aquilo pra gente não achar que tem dessas coisas na cidade. Pelo menos o tempo que eu fiquei aqui, não perguntei nem pra ele e nem pra ninguém. Nem na pensão que eu fiquei a primeira vez, ninguém comentou nada, porque poderia levantar suspeitas: “que danado um sujeito vem de São Paulo pra perguntar sobre assassinatos em São Pedro da Cachoeira?”. Mas vamos esperar; com o tempo nós vamos descobrir.

         – Espero que os casos de tuberculose e varíola sejam verdade.

         – Isso acontece mesmo. Os surtos acontecem mesmo, como em todo lugar. Inclusive, até a prefeitura compra os caixões de uma funerária de Taubaté pras famílias pobres que não têm dinheiro – revela Odilon.

         – sabe que o que foi dividido não deu lá essas coisas todas, né. Compramos essa casa e agora vamos montar a casa funerária. Não vai sobrar quase nenhum dinheiro. Isso não pode dar errado. Pense: voltar pra São Paulo, com esse rebuliço do assalto, tem grande chance de pegarem a gente. Se os polícia pegam dois peixes pequenos, você sabe que se a gente abrir o bico, depois os chefes fazem picadinho da gente. Eu fiquei esses dois meses escondido, só resolvendo os documentos pra gente ficar como irmãos, pra ficar mais fácil de montar esse negócio e viver tranquilos. Então, não bote tudo a perder – explica Odílio.

         – Não vai dar nada errado, homem. Você tem que ser mais otimista. Parece que você não confia em mim.

         – O problema é que você fala demais. Se alguém perguntar, diga só que nós somos irmãos e que os pais morreram, igual fizemos com o seu Pereira. A mesma história que combinamos; nem mais, nem menos – cobra, Odílio.

         Odilon balança a cabeça.

         – Você é muito desconfiado, Jorjão – diz Odilon, sorrindo.

         Odílio se irrita.

         – Não repita isso, seu calhorda!

         – Tenha calma. Não vai se repetir. Escapou sem querer – promete Odilon.

         – Eu começando a achar que foi um erro confiar em você pra escolher a cidade. Eu achava que uma daquelas cidadezinhas da região de Ribeirão Preto era melhor pra mim. Lá tem as usinas de cana e sempre tem gente se acidentando e morrendo; não ia faltar trabalho. E você que fizesse o que quisesse com a sua parte. Eu não devia ter dado ouvidos a você.

         – Odílio, presta atenção: eu tive por lá. Todas as cidades têm funerárias. A gente ia chegar pra começar a concorrer com gente da cidade. Aqui em São Pedro ainda não tem nenhuma; nós vamos ser os primeiro donos de uma casa funerária. Acredite: vai dar tudo certo.

         Odílio faz uma expressão de dúvida.

         – Fazer o que, né? Se der errado, a merda já feita mesmo...

escrita por
Marcelo Caronesi

elenco
Odilon
Odílio
Tereza
delegado Ferreira
Onça-parda

tema
Canções de Assassinato 

intérprete
Confraria da Costa

direção
Carlos Mota

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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