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Cine Virtual: Pequeno e Grande Mundo

Conto de Jacqueline Quinhões da Luz
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Sinopse: Jack não imaginava viver uma aventura tão fantástica, ali mesmo em seu jardim. Sem querer havia aberto um portal que lhe permitiria confirmar tudo o que sempre acreditou que existia e assim fazer uma ponte entre o pequeno e grande mundo.



Pequeno e Grande Mundo
de Jacqueline Quinhões da Luz

 

Desde pequena Jack guardava seu segredo. Não podia deixar que soubessem suas crenças. Temia ser ridicularizada por quem via como absurdo a existência de algo tão pequeno.

Jack era uma menina que acreditava em fadas, gnomos, duendes, mas mesmo criança isso já era motivo de piadas imaginem crescer mantendo a mesma crença. Um adulto acreditar na existência de mundos pequenos, de seres protetores da natureza, de orelhas pontudas e gorrinhos coloridos... não, preferia não deixar que notassem o quanto acreditava. Algo dentro de si a fazia crer mesmo sem nunca os terem visto.

Pois ela cresceu mantendo essa certeza. De forma discreta encontrava meios de se manter em contato com esse mundo. Lia, assistia filmes, escrevia histórias e tinha alguns duendes enfeitando seu quarto, uns ganhara outros tratou de comprar, mas o fato é que quando acordava e os via ali tão perto isso a fazia sorrir, recebendo o novo dia como um presente mágico.

Uma adulta que acreditava num universo mágico, assim se tornou Jack e foi assim que criou seus filhos. Eles embarcavam em sua imaginação e exploravam todas aventuras possíveis. Duendes, fadas, gnomos e seres fantásticos povoavam os dias das crianças e eram nesses momentos que Jack até se esquecia que não era criança e que não devia revelar com tanto entusiasmo que acreditava neles de verdade.

O tempo passou, seus filhos cresceram e apenas a filha dava sinais de que compartilhava da crença da mãe. Isso se revelou quando a mãe de Jack partiu e deixou uma coleção de gnomos para a neta e essa recebeu com grande entusiasmo, passou a falar mais sobre esse assunto, construiu uma casa para acomodá-los, um espaço todo especial e até comprou mais alguns para completar a coleção iniciada pela avó.

Jack sabia da existência dos gnomos de sua mãe, mas achava que ela os tinha apenas como objetos decorativos, só teve a noção da importância quando ouviu sua mãe dizendo que após sua partida queria que a neta ficasse com eles pois tinha certeza de que seriam cuidados. Teria a mãe a mesma crença e o mesmo receio de ser motivo de piada? Teria ela assim como Jack guardado por tanto tempo essa certeza de que existem? O fato é que essa crença era algo precioso e forte e estava sendo deixada como uma herança, algo valioso, estava sendo passado de geração a geração.

Agora tinha em sua casa a coleção que foi de sua mãe e com ela veio ainda mais forte a certeza de que mesmo que seus olhos ainda não tivessem tido a prova, seu coração não necessitava dela para acreditar na existência de um pequeno, grande mundo com fadas, duendes, gnomos, elfos e tantos seres que povoam pensamentos e o imaginário de quem se permite tê-los.

No pátio da frente da casa de Jack, quando ela lá foi morar havia um jardim bastante desorganizado, de tudo um pouco, sem podas, e aparentemente sem harmonia, quem o olhava sentia a sensação de desleixo, abandono. Jack e seu marido sem pensar duas vezes tiraram tudo, pensando em reorganizar, escolher as plantas certas..., mas, não saiu como esperavam. Ao arrancar as roseiras e todas plantas Jack acabou cortando algo mais. Aquele solo nunca mais aceitou qualquer tipo de planta. Tudo que se plantava morria e apenas mato crescia dando a continuidade a impressão de abandono. Parecia que agora o abandono era diferente, havia quem o cuidasse, mas faltava algo mais. Por uns dois anos Jack sofria vendo aquele espaço que antes mesmo desorganizado parecia ter vida, agora por sua culpa não mais tinha. Sem cor, um espaço ocioso, sem utilidade.

Buscando respostas para o que podia fazer, leu em suas pesquisas informações que a levaram crer que ao cortar as plantas daquele jardim feriu os sentimentos de fadas que abandonaram o lugar e por isso nada mais conseguia sobreviver. O que foi visto como desordem eram apenas um jardim cuidado por fadas selvagens, livres de padrões. Plantavam de tudo um pouco e viam nisso a beleza. Não precisavam ser cortados, mas bastava que Jack pedisse permissão para reorganizar e elas a ajudariam. Agora era preciso encontrar uma forma de fazer as pazes e se desculpar com os seres da natureza, não havia feito por mal, se deixou levar pela visão dos outros, não ouviu seu coração.

 Foi então que Jack começou a pensar em formas que conseguisse reabilitar aquele jardim. Se não dava de forma natural então teria que recorrer a medidas menos naturais. Conseguiu ajuda de seu marido, embora ele não acreditasse nada na existência de duendes, fadas e outros seres, aceitou ajuda-la. Colocaram uma lona naquela terra aparentemente morta, seria temporário, mas era a única maneira de inibir as ervas daninhas que nasciam e matavam as plantas. Em cima da lona, pedrinhas, vasos com várias plantas. Uma fonte de bambus foi instalada na parede do jardim, bancos, troncos de árvores e aos poucos aquele espaço ganhava vida, cores. Jack fez bichinhos de jardim com cimento, comprou gnomos, duendes, fez cogumelos e já nem parecia mais aquele espaço tão sem vida. A cada algo novo que era trazido para o jardim contagiava a todos e a família de Jack se envolvia, uns davam ideias de mais elementos, ou posições do que já tinha... algo mágico tomava conta da casa de sua e daquele espaço. Era possível sentir quando sentava nos bancos que ali já era sem dúvida alguma um lugar muito especial e habitado. Havia vida naquele pequeno espaço. Flores abriam, umas nasciam entre as pedras ultrapassando até mesmo a lona, borboletas visitavam as flores coloridas, abelhas e até pássaros. Ahhh, como Jack ficava feliz, parecia ter sido aceito seu pedido de desculpas. Aquele passou a ser o seu cantinho especial. Era nele que sentava e colocava seus pensamentos em ordem. Nele que respirava com calma e recarregava sua energia.

Jack pesquisou sobre os elementais, seres mágicos que protegiam a natureza, fadas, gnomos, duendes..., e aprendeu tipos de músicas, chás, e tudo mais que gostam e passou a levar quando ia sentar-se para refletir no seu cantinho especial.

Numa dessas vezes, Jack levou música, incenso e uma caneca com chá. Uma para si e outra pequena para seus amigos. Estava tomando seu chá, quando perdida em seu pensamento não percebeu que a noite, antes estrelada havia se fechado de repente. Nuvens encobriam as estrela e lua e delas caíram pingos grossos, mas que rapidamente pararam. Alguns pingos chegaram a cair em sua caneca e isso lhe trouxe de volta a realidade. Olhou para o céu e viu que a mudança de tempo foi rápida, da mesma forma que vieram as nuvens pesadas, sumiam diante de seus olhos e olhando para o céu seguiu tomando seu chá. Percebeu após os primeiros goles que o gosto estava diferente e uma leve tontura tomou conta de si. De repente tudo parecia estar ficando imenso, seu jardim estava crescendo diante de seus olhos, na verdade, ela que estava diminuindo.

Parecia um sonho. Diante de si, viu as estátuas de duendes, gnomos ganharem vida e virem ao seu encontro, todos felizes, como se tivessem reencontrando alguém que lhes era muito especial.  Sentiu-se querida por todos.

Não falavam, mas Jack conseguia ouvi-los. Sem emitirem uma única palavra se comunicavam pelo pensamento. Todos lhes davam boas vindas e a convidaram a entrar num dos cogumelos feito por ela, de cimento com formato de uma casinha. Jack fechou os olhos temendo bater de cara no cimento e quando abriu se viu no interior do mesmo. Uma graça de casinha. Por fora parecia tão pequeno, mas por dentro era imenso, cabia todo mundo. Ali parecia que iria ter uma reunião dos elementais. Todos conversavam ao mesmo tempo entre si. Jack assistia aquilo tudo com o coração transbordando de alegria, pois tudo em que acreditava a vida toda se confirmava. Eles existiam sim e em seu jardim haviam milhares deles.

De repente um silêncio tomou conta do lugar e Jack viu chegar um duende bem idoso, barbas e cabelos longos e brancos, chapéu bem pontudo, pés descalços. Olhou firmemente e viu que era um dos duendes que havia comprado e ficava em seu quarto. Trazia em suas mãos uma pedra brilhante e um livro. Todos pareciam ter muito respeito por aquele ancião. E Jack também sentia. Desde o viu pela primeira vez sentiu um profundo respeito. Ele tinha sido feito com muito realismo, seus sinais do tempo no rosto chamavam atenção e seu olhar era penetrante. Jack antes de receber pelo correio havia sonhado até com seu nome, no começo pensou ser coisa de sua cabeça, mas logo aceitou como sendo o nome dele.  Domenicus, era assim que o chamava. Pois ali, estava seu amigo Domenicus, à frente de uma reunião com inúmeros elementais e ela que nem sabia como foi parar entre eles.

Nada passava despercebido por ela, tentava registrar tudo em sua cabeça, não poderia perder nada, queria dividir com sua filha o que estava vivendo, aquele poderia ser o dia mais fantástico de sua vida. Pontinhos de luz voavam entre todos revelando que ali além de duendes e gnomos haviam fadas também. Jack naquele momento queria ter também aquelas orelhinhas pontudas e um gorro colorido, queria ser um deles.

Aqueles seres transmitiam uma paz e muito amor só em olhar.

Deu-se início à reunião. Domenicus foi direto ao assunto, a presença de Jack ali. Ele explicou que haviam tomado essa decisão, abrir o reino dos elementais a uma humana pois precisavam de ajuda, suas existências corriam risco. Um grande mal estava para acontecer e acabaria com todos elementais.

Jack ficou muito assustada e não imaginava de que forma poderia salvar aqueles seres que amava tanto. Não sabia nem de que grande mal falava Domenicus. Foi então que ele se dirigiu a Jack que passou a ser o centro das atenções de todos presentes. Ficou tímida, nunca havia tido tantos olhinhos em sua direção.

Domenicus lhe explicou que o terrível monstro que os ameaçava e colocava em risco a existência de todos eles eram o esquecimento, a falta de crença a indiferença por parte dos humanos. Todos haviam banido de suas vidas a imaginação, a capacidade de pelo menos imaginar que existiam que dirá acreditar de fato nisso. As pessoas não liam mais, não assistiam filmes sobre eles, passaram a achar “fracos”, sem graça. Preferiam filmes com violência. Até assistiam sim filmes de duendes, mas de duendes assassinos que nem de longe traduziam a verdade, eles eram pacíficos, jamais agiriam com violência. O mundo parecia ignorar por completo o quanto era importante a natureza. Pareciam acreditar ser possíveis viver em um mundo sem ela.

Jack ouvia a tudo atentamente e partilhava da aflição e tristeza deles. Na verdade, já havia percebido isso. Nas últimas notícias já havia parado para pensar, pois viu coisas que lhe entristeceram. Queimadas, desmatamentos, animais sendo mortos pelo simples prazer momentâneo da caça, outros morriam queimados, rios tendo suas nascentes poluídas. Viu imagens que parecia impossível ficar indiferente, mas as pessoas haviam aos poucos haviam perdido a capacidade de sonhar. Não se permitiam acreditar em fantasias e acabavam não alimentando nas crianças essa capacidade. Viviam como se tudo fosse substituível, como se suas vidas não estivessem ligadas a natureza, como se não dependessem dela para nada.

Jack não sabia de que forma poderia ajuda-los. O esquecimento trazia consigo o vazio e esse levaria a ausência. Se algo não fosse feito deixariam de ter quem acreditasse neles e assim sumiriam. Sem eles a natureza corria perigos e o humano nem imaginava que iriam correr também. Seria terrível para toda humanidade.

Explicaram a Jack como ela poderia ser útil. Disseram que eram poucos humanos que ainda acreditavam em sua existência e que a cada um de alguma forma seria pedido ajuda. Era preciso a união de todos para combater esse terrível mal. O mundo corria perigo e não era apenas aquele pequeno mundo, mas o grande também. Sabiam que Jack gostava de criar histórias, de escrever, mas que guardava tudo e evitava falar sobre eles pois desde criança temia ser motivo de piadas. Era chegada a hora de enfrentar esse receio e assumir no que acreditava, sem medo, vergonha ou receios. Falar com as crianças, com pessoas de todas idades, contar-lhes histórias, escrever sobre eles e divulgar ao mundo seus escritos. Esse seria um grande desafio para Jack. Já não era mais mocinha, já tinha idade, diriam que havia ficado maluca. Por um instante esqueceu de que liam seus pensamentos e quando viu aqueles olhinhos que estava a lhe olhar estavam cheios de lágrimas. Foi então que Jack disse que sim. Poderiam contar com sua ajuda, não permitiria que fossem esquecidos, que caíssem no abismo do vazio. No que dela dependesse faria tudo que fosse possível. Mal acabou de assumir seu compromisso diante de todos e uma euforia tomou conta do lugar. Eram gorrinhos coloridos no ar, as fadinhas voavam alegremente para todos os lados e uma música muito alegre começou a tocar. Todos dançavam, cantavam ao som daquela música incrível que parecia vir das paredes do cogumelo.

Jack ficou pensando, como podiam caber tanta mágica, tanta felicidade naquele cogumelo. Como podia aquele som todo não ser ouvido por quem estava fora. Como viveria o mundo sem a presença de seres tão especiais. Eles eram responsáveis pelas plantas, pela germinação das sementes, pelas águas dos rios, pela saúde do solo, dos animais, de tudo que os humanos a muito não cuidava, se quer davam o valor certo. E mais uma vez envolta em seus pensamentos não viu aproximar-se de si um duende bem familiar, era Baltazar, o duende que havia ganho de sua filha e ficava junto de Domenicus em seu quarto. Baltazar lhe deu um abraço forte, como de um amigo que a muito desejava encontrar. Era estranho poder abraçar quem antes cabia em sua mão, mas Jack não queria que aquele abraço acabasse, era muita paz que sentia. Lhe serviram uma caneca de chá e sentiu que ali, ao tomar o chá seria o fim de sua visita. Ficou triste, também não queria ter que ir embora, queria fazer parte daquele mundo. Notaram sua tristeza, mas a lembraram de sua missão assumida. Disseram que quando construiu aquele cogumelo de cimento, colocou nele, junto da massa seu encantamento por eles, sua crença. A fizeram lembrar de que ela havia feito uma mandala com bolinhas no fundo de sua base, pois pensou em usar como pisos, mas como essa ideia não vingou, aproveitou esse piso na base do cogumelo. Isso aliado a toda sua crença, permitiu a abertura de um portal. Jack ficou surpresa como uma simples atitude, sem pretensão alguma foi capaz de algo tão incrível. Realmente havia planejado fazer um caminho com aqueles círculos e até chegou a fazer uma mandala utilizando bolinhas, porém ficou pequeno e para não desperdiçar o material reaproveitou o mesmo usando como base para o cogumelo, colocando a mandala virada para baixo. Mal sabia ela que estava feito e aberto um portal para o mundo fantástico dos elementais, mas claro só adentraria ali quem eles permitissem. Explicaram que em outros momentos quando fosse autorizado ela voltaria aquele mundo. Jack sabia que não poderia ficar mais ali e após as despedidas iniciou a tomar o chá. Era delicioso, mas não lhe revelaram de que era feito. O gosto era até familiar, mas não conseguia identificar. Fechou os olhos e antes que terminasse já estava em seu tamanho normal, fora do cogumelo mágico, no mundo real e seus gnomos todos voltaram a serem estátuas. Mas pareciam, estar com sorrisos mais largos. Havia ainda mais ternura em seus rostos. Jack notou que seus dois cãezinhos estavam sentados ao lado do cogumelo como se tivessem ouvido algo. Será que eles conseguem ouvir e ver os elementais? Vai saber. Chegou a pensar que tudo não tinha passado de um sonho, mas ao olhar para o lado viu em cima do banco Domenicus e Baltazar e não lembrava de tê-los trazido para fora de seu quarto.

Jack tinha certeza de que ainda havia muito a aprender sobre seus amigos. Sabia também que nunca mais se sentiria só ou se sentiria inferior por acreditar neles. A partir daquele dia, havia feito uma amizade para sempre e que não esconderia mais que acreditava em fadas, duendes, gnomos e elfos. Contaria a tantos quantos pudesse, já ia iniciar contando a sua filha sobre tudo que viveu no pequeno mundo. Contaria histórias e ajudaria as crianças a libertarem sua imaginação, embarcarem na fantasia, se permitirem sonhar pois assim haveria maiores possibilidades de muitas delas crescerem adultos com essa capacidade preservada e ajudaria seus amigos queridos a não correrem o risco de desaparecerem.

 Jack estava decidida a contar em forma de história toda aventura vivida naquele dia e sua história ganharia o mundo em forma de livro e o vazio não tomaria conta do mundo dos elementais. Era preciso acreditar na existência deles assim como eles acreditavam que ela poderia ajuda-los.

No que dependesse de Jack o pequeno e grande mundo seriam salvos.

                                 

Conto escrito por
Jacqueline Quinhões da Luz

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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