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A Deusa Bandida: Capítulo 01

Novela de Carlos Mota
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A DEUSA BANDIDA - CAPÍTULO 01

O frio da noite congela. Toda a rua está tomada por folhas e gotículas de chuva. A limusine para em frente a um luxuoso hotel da cidade. Dela desce um homem grisalho, baixo, de barba a fazer, com uma barriga contida pelo cinturão, que se vira ao motorista, dizendo:

Faça como eu mandei!

O empregado confirma a ordem com a cabeça e fecha a porta do carro. A passos lentos, o velho cruza a porta giratória, pega o elevador e desaparece, enquanto o motorista se dirige à gerência.

Pois não, o que deseja? — pergunta o gerente em um terno cinza, com um sorriso largo no rosto, como se estivesse diante de uma dessas estrelas de televisão.

Diana! — responde, com os olhos fixos no administrador.

Venha por aqui! — solicita o homem, com o sorriso engolido pelo pedido do motorista.

Ambos se dirigem a uma sala, nos fundos. Lá, o gerente questiona:

Quem lhe disse sobre isso?

Sobre Diana? — interroga o empregado, agora com um olhar pendendo entre o desejo e a inquietude.

O gerente silencia.

Muitos já me disseram sobre Diana! Dizem que ela é caliente, exuberante; quem já esteve com ela, afirma que pagaria qualquer coisa para tê-la novamente nos braços, ainda que por alguns segundos.

Então…? — arrisca o gerente.

… Nós a queremos!

Nós??? — assusta-se. — Nós quem?

Na verdade, meu patrão a quer e pagará o preço que disser!

Mas Diana não trabalha mais para mim… ela… ela… bem… dizem que ela…

Cinquenta mil são suficientes?

CO-COMO? — surpreende-se o gerente, tomado pela curiosidade.

Cinquenta mil são suficientes por uma noite? — reitera.

Não entendi! Cinquenta mil para quê?

Não se faça de rogado, senhor! Todos nós sabemos da existência de Diana e do quanto ela é apreciada pelos homens de bom gosto, por isso, se não estiver satisfeito com o valor que lhe ofereci, faça seu preço… peça o quanto for e meu patrão pagará.

Visivelmente nervoso, o gerente retira um cigarro do bolso da calça e o acende com um isqueiro em cuja embalagem há o coração que simboliza o amor.

Ganhei este isqueiro dela — diz ele. — Sabe, ela não é mulher para qualquer homem. Para tê-la nos braços, o cavalheiro deve se mostrar gentil, apresentar a submissão de uma presa, além de demonstrar a coragem para ultrapassar todas as fronteiras da surrealidade mundana. Diana, repito, não é para qualquer um! — sentencia, dando um leve tapa na mesa.

O que quer dizer?

Que é ela quem caça, se é que me entende!

Trovões furiosos feito rugidos famintos de feras enjauladas escapam do céu e estremecem o local, para o desconforto do motorista, que dá um passo para trás, com os olhos presos aos do gerente.

Meu patrão tem todas as qualidades necessárias para possui-la por, ao menos, uma única noite — diz, roçando os dedos entre si. — Fale: quanto é?

O senhor está sendo inconveniente! Diana não está à venda, ela não é um produto e, ainda que o fosse, seria digno de culto… Acha mesmo que eu aceitaria sua oferta? Não conheço sua origem, nem a de seu patrão.

Deixe de história e faça logo seu preço! — determina o motorista, visivelmente contrariado. — VAMOS! O QUANTO QUER POR UMA NOITE DE DIANA COM MEU PATRÃO???

Como já lhe disse, Diana não é para qualquer um. Diana é apenas para cavalheiros cujas famílias ostentam um brasão; não para burgueses que se intitulam “donos do mundo”.

O senhor está chamando meu patrão de burguês? — indaga o motorista, com um leve sorriso de deboche a rasgar a face.

O homem não responde, levanta-se da cadeira e abre a porta, sinalizando o fim da conversa.

O senhor ainda não respondeu minha pergunta — ele fecha a porta com um empurrão. — Vamos, fale! Estou aguardando! — exige o chofer.

Não! Estou apenas dizendo que ele está se portando como um reles mortal ao resolver estabelecer quantia em espécie para possuir a deusa Diana por uma noite… Diana não é a presa, mas a predadora, ou ainda não entendeu?

Uma Lucíola¹ dos tempos modernos… — ironiza o empregado. — Interessante!

Nunca! Perto de Diana, a dama de José de Alencar estaria mais para uma puritana… — responde, ainda mais sarcástico. — Aliás, para um serviçal, o senhor é bem instruído, não acha?

O que quer dizer?

Que há cheiro de golpe no ar, eu sinto!

GOLPE??? Com quem pensa estar falando? Meça bem suas palavras ao se referir a minha pessoa e a de meu patrão — alerta o subordinado, retirando uma arma da cintura e apontando-a para o queixo do gerente. — Repita o que disse e dormirá com os vermes para sempre. Agora pegue este telefone e chame logo Diana; se ela não estiver aqui em meia hora, uma bala sairá desse cano e estourará seus miolos.

Não teria coragem! — desafia o gerente, com os olhos contrariados reluzindo feito faróis em alto-mar.

Paga para ver? Então veremos! — prepara-se para apertar o gatilho, mas desiste do feito, ao ouvir o gerente, acuado, ceder a seu pedido.

Que assim seja! Mas não diga que não avisei…

A chuva aumenta, corre o asfalto, engole as encostas… Outro trovão, como o grito dos deuses, retumba no céu, a energia escasseia, o gerador do hotel é acionado. Depois de muito custo, Diana é persuadida a comparecer ao recinto.

Linda e exuberante como sempre, ela se dirige ao gerente, que agora está na bancada, à sua espera, deixando pelo caminho o rastro de um perfume inebriante, hipnótico, perverso, que envolve os mais frágeis e os conduz a pensamentos indecorosos, que se alimentam dos mais profundos e ardentes desejos da carne.

Não há quem não repare a beleza surreal da mulher! E que mulher! Seus olhos, da cor de um céu paradisíaco, completam-se com o cabelo louro, longo e encaracolado, cujas madeixas beijam levemente o colo bem moldado. O corpo magro, alto, elegante e forte na essência evidencia uma força que talvez até ela mesma desconheça. Sob seus ombros estavam os segredos da beleza de Vênus² e os da insanidade e lascívia de Baco³, e isso atraía os homens, que a ela se entregavam como feras que procuravam a própria morte.

Que mulher é esta, meu Deus?!! — indaga-se o motorista, completamente seduzido.

Após as instruções, ela sobe até o 13º andar onde está o afoito cliente. O motorista acompanha todo o desenrolar dessa história de trás de um dos pilares do rol de entrada.

Por que vocês estão fazendo isso? Diana nunca fez mal a ninguém; se o fez, ninguém nunca se queixou! Ela é apenas uma… uma garota… uma garota que desperta o prazer… Deixem-na em paz!

suplica o gerente, aproximando-se do motorista.

A campainha toca. O quarto é o 1311. Como a porta não abre, ela toca outra vez. Ninguém aparece, então roda a maçaneta e entra. Dá dois ou três passos, quando avista o senhor de costas. Com o chiclete retirando da boca, pergunta, num misto de raiva e ironia:

Então me quer? Quantos gostariam de estar no seu lugar!!! Deixei um programa com um megaempresário só para atendê-lo… Hum! Não gosto de quebrar compromissos!

Nem se fosse para atender a um pedido meu? — indaga o homem, virando-se para ela.

Meu Deus!!! VO-VO-CÊ??? — assusta-se, perdendo o fôlego.

No saguão, o gerente se desespera com algumas revelações feitas pelo motorista:

O senhor tem certeza do que está me dizendo? NÃO PODE SER!!! E ela deixou Brasília para estudar aqui? Isso deve ser algum tipo de brincadeira, Diana… Diana…

Não existe Diana, aliás, nunca existiu, mas sim Luara.

Do lado de fora do hotel, em um veículo escuro, sob os braços de uma árvore, duas figuras sinistras trocam palavras:

Por que Diana está demorando tanto? Alguma coisa está acontecendo, Álvaro! Precisamos agir logo! — alerta o rapaz, um mulato de meia-idade, de corpo bem forte e olhos grandes e reluzentes.

Eu sabia, aquele demônio estava aprontando contra a gente, pudera, se foi capaz de agir contra a própria família, não seria capaz também de nos dar uma rasteira???

Calma, Egídio! Ela não seria capaz… não, não… — responde, olhando com cólera para o relógio do pulso — … Me nego a acreditar!

Ela é uma cachorra e você bem sabe disso, nunca deveria tê-la deixado atender a esta chamada… O gerente que ficasse a ver navios!

Cale a boca! — dispara o jovem de vinte e poucos anos, com os olhos verdes agigantados e os cabelos negros como o véu da noite parcialmente encharcados de suor. — Ela me ama, eu sei disso… Não seria capaz de me trair.

Ama? Ama nada! — tenta dissimular o ciúme que devora seu coração. — Depois de tudo o que você fez para ela? Ou é muito ingênuo ou muito burro, não é possível!!! Ainda não percebeu? Ela tem é medo de você e perdê-la lhe custará caro, muito caro, pois nosso patrão há de esfolá-lo vivo e em praça pública. Faça alguma coisa antes que seja tarde demais ou a perderá para SEMPRE! Vamos, cara, aquela mulher é pior que uma naja e para nos picar não lhe custa. Vamos, tome coragem, invada aquele lugar e a pegue de volta.

Álvaro resiste por mais alguns segundos, mas acaba convencido, então saca de uma arma, abre o carro com violência e se dirige à porta giratória do hotel. Ao girá-la, a energia cede aos encantos da escuridão, que precede a um raio e atinge algumas casas à frente, principiando um incêndio.

E agora? — pergunta-se Egídio. — Como esse burro fará para agarrar “aquelazinha”??? Vou ter de entrar na parada. É isso ou nada!

deixa também o carro com uma arma em punho.

O gerador pifou! — diz um dos recepcionistas ao gerente, com um isqueiro aceso em mãos, enquanto procura uma vela nas gavetas.

Deve ter acabado o combustível! Vá lá recarregá-lo.

Não, senhor! Ele está cheio! Eu já havia avisado que ele estava no limbo, que logo nos deixaria na mão, e este dia chegou.

Logo agora? Não pode ser! Isso é mesmo o fim! — vozeia o gerente, estapeando o balcão da recepção.

Achei! — anuncia o funcionário, acendendo-a.

ONDE ELA ESTÁ??? — pergunta Álvaro, visivelmente alterado, ao se aproximar. — ONDE ELA ESTÁ???

O que pretende com esta arma? — pergunta o responsável pelo hotel, afastando-se, vagarosamente.

QUERO DIANA!!! ONDE ELA ESTÁ???

Abaixe esta arma, por favor! Vamos conversar, Álvaro! — pede o gerente, ofegando. — Você não pode empunhar uma coisa dessas aqui…

E POR QUE NÃO??? — desafia, achegando-se.

Porque aqui é um local que só se recebe a “realeza da Democracia”, ao primeiro estalo, tudo será invadido por homens fortemente armados, sedentos por sangue. Pense, rapaz, seu patrão não aceitará que os negócios dele sejam levados à lona por tão pouco.

Toda a cena é observada à distância pelo motorista, que permanece atrás de um dos pilares.

ONDE ELA ESTÁ???

Es-es-está lá em cima.

EM QUE QUARTO??? — esmurra o balcão. — FALE, MISERÁVEL, ANTES QUE ESTOURE OS SEUS MIOLOS. ONDE ELA ESTÁ? VOCÊ QUE ARMOU TUDO ISSO, NÃO FOI?

EEEEEEEU??? E por que faria isso???

Você a ama desde o primeiro momento que a viu, eu sei, Egídio me alertou, mas não acreditei; deu no que deu! Se não a entregar AGORA, não respondo por mim…

Que… que… loucura é essa que está dizendo??? Ela… EU???

Não!!! Somos apenas amigos.

CADÊ ELA??? CADÊ???? EU VOU TE MATAR!!!! —

ameaça, com o sangue nos olhos.

Calma, calma, você não está pensando direito… — pede, enquanto tenta encontrar uma chave reserva do quarto em que a moça está.

Largue a arma! — determina o chofer, pelas costas, aproximando o cano da arma à nuca do jovem, que paralisa diante da investida. — Vamos! Largue a arma agora, isso é uma ordem!

Quem é você? — pergunta Álvaro, acuado.

Ele é o motorista do homem que insistiu em contratar os serviços de Diana — responde o gerente, com a face marcada pelo desespero.

Se eu fosse você, não faria isso, meu amigo! — aconselha Egídio, achegando-se também pelas costas, com a arma rente à nuca do chofer. — Largue a arma!

Você não sabe com quem está mexendo… — o motorista não cede.

LARGUE A ARMA! — esbraveja o bandido.

Acabe com ele, cara! Mande-o para o inferno! — berra Álvaro, com os olhos presos aos do gerente.

Não sei com quem estou mexendo… — debocha Egídio. — Hum! Essa é boa! Pois é você quem saberá que com estes parças não se deve mexer. Mande um abraço ao inferno!

Prepara a arma para disparar, o chofer fecha os olhos, Álvaro gargalha, enquanto o gerente reza. Mas como diziam os antigos, os inimigos se levantam de repente, literalmente no cair das luzes, e o que se vê a seguir é digno de nota. O falso amigo empurra o chofer para o canto e acerta a cabeça de Álvaro, que cai como cartas - quando desmoronam seus castelos -, para o desespero do gerente, que grita.

A energia é restabelecida. Um rio de sangue corre pelo piso retrô, estilo colonial, do requintado hotel.

O motorista e o gerente não entendem o que aconteceu, mas Egídio sim, tanto que permanece imóvel, com os olhos faiscantes de cólera fixos ao corpo do então “amigo”.

Ouve-se um barulho, é Diana, que corre em desespero pelas escadarias, sendo avistada pelo funcionário da recepção, que a entrega ao bandido.

Surtada, com a roupa em farrapos, sem sapatos e sem destino; o que mais anseia é sumir o quanto antes daquele lugar infernal. Ao que parece, a predadora virou presa e, na condição de caça, o que lhe restava era lutar pela própria existência, enquanto fosse possível. E assim o faz, não se dando conta de que Egídio está à sua espreita, pronto para agarrá-la e dela se saciar, como fazem as hienas diante de suas vítimas.

Senhor??? Senhor??? — o motorista, ainda não acreditando estar vivo, tenta contato pelo celular com o patrão, que não atende.

Senhor??? — volta-se para o administrador, cuja sanidade aparenta estar a um fio. — Onde está a chave reserva??? Algo aconteceu com meu patrão!!! Fale!!!

Está aqui! — entrega-lhe o recepcionista.

O motorista se dirige rapidamente às escadarias, quer ajudar o seu chefe, mas o pensamento, de súbito, é atraído à garota, que está prestes a ser capturada pelo criminoso. Confuso, leva as mãos à cabeça. Deveria acudir o patrão ou salvar a estranha? Sente dentro do coração que o certo a fazer é ajudá-la. E assim o faz.

Diana desce os degraus em desespero, escorrega, levanta-se, corre de novo, cai, reergue-se apoiada ao corrimão, e continua a corrida… sua vida corre perigo. Ela sabe disso. Ela sente! E como uma fera, esbraveja, quer afugentar quem a procura, mas o destino é impiedoso e de sua pele não abrirá mão. Se desistisse, poderia terminar como troféu na parede de algum colecionador amalucado, desses que beijam crianças em frente às câmeras e engolem os homens nas máquinas de suas fábricas.

Egídio, a um passo de capturá-la, perde o apoio de um dos pés e cai, batendo a cabeça contra a parede, sendo ultrapassado pela motorista, que grita pela moça, quer ajudá-la, mas ela não para. Chegam ao estacionamento, no subsolo, onde Diana procura por um carro. Mesmo com as forças esmorecendo, ela puxa as maçanetas dos veículos na esperança de que alguma porta esteja destravada. Debalde! Seu fim se aproxima e ela pressente… O que mais poderia fazer? Gritar por socorro. E assim o faz, como uma onça acuada, prestes a ser abatida por uma bala.

Já quase sem fôlego, o chofer para, mira a luminária que está bem acima dela e dispara, para o desespero da garota, que se abaixa, procurando abrigo, enquanto o vidro se espalha pelo chão. Volta-se para o rapaz, ele está a alguns metros dela, os olhos de ambos se encontram, é neste momento que a terra novamente estremece com um forte rugido vindo do céu. Os deuses estavam em fúria!

Desnorteada, ela teme prosseguir, o caminho está obstruído, os cacos de vidro estão por toda parte, então desaba num choro comovente vendo o estranho se aproximar. O seu fim havia chegado!

Outro disparo. Dessa vez, da arma de Egídio, que apoiando-se a um dos pilares, tenta se manter em pé. A julgar pela dor que sente, deve ter torcido um dos tornozelos durante a queda.

Você não vai tirá-la de mim! Ela é minha! Ela é minha! — brada o bandido, como que possuído pela besta. — ELA É MINHA!!! MINHA DIANA!!!

Seguem-se mais dois, três, quatro disparos, todos sem mira.

O chofer alcança a garota, que desfalece ao primeiro toque, não suportando o fardo do próprio destino. Então ele a pega nos braços longos e fortes e corre, é preciso agir rápido, antes que aquele maluco os atinja.

Procura por um veículo que possa tirá-los dali, até que o clarão de um farol o atrai. Era um idoso chegando ao hotel. Acompanha-o na surdina e, assim que o homem abre a porta, ele o rende. E desaparece do local.

Vendo-os sumirem na escuridão, o bandido se arrasta até um dos veículos, atira contra o vidro, faz ligação direta e parte em busca deles. Durante o percurso, consegue pedir reforços pelo celular, apesar da intermitência do sinal.

Parte da cidade está ilhada. Sirenes estão por toda parte. A destruição é evidente.

Meu Deus! Não enxergo nada, a chuva está muito forte… — diz o motorista.

Passa por cima de galhos de árvores, que se contorcem, arrebentam e saltam contra a própria lataria do veículo.

Preciso correr, esconder logo esta garota, mas como? — pergunta-se, atordoado, enquanto retira o embaçamento do vidro com as mãos.

No banco de trás, ainda desfalecida, encontra-se Diana, com sua vida entregue às mãos de um desconhecido, a quem o destino — sabe- se lá o porquê — resolvera confiar.

A chuva não cessa, fere a terra com violência e se recolhe nos rios e lagos, que sobem e dominam as vias principais.

Onde estou? — pergunta a garota, numa voz fina e quase inaudível, ao recobrar a consciência. — Onde estou?

Ao encontrar o motorista, desespera-se.

Me deixe, me deixe, quero ir embora, não me mate, por favor!!! Eu… eu… eu…

Ei, moça, tenha calma, não irei lhe fazer nenhum mal; pelo contrário, eu a salvei!

Verdade??? — olha pelo vidro e se amedronta com o que vê.

O que está acontecendo?

Parece que o mundo está prestes a sucumbir…

O rapaz continua o trajeto, evitando-se as vias completamente alagadas.

Como vamos sair dessa? Você está indo para onde? Ele não responde.

Para onde está me levando??? FAAAAAALE! EU EXIJO!!!

Eu… eu… eu não sei! Estou pensando! Só quero te ver bem!

As palavras do rapaz lhe despertam um misto confuso de sentimentos.

Co-co-mo assim? Você mal me conhece! Isso é alguma brincadeira? Fale! Fale!

Não é brincadeira… eu… eu não sei explicar… só quero lhe ajudar, Luara!

Você sabe o meu nome verdadeiro??? Como assim??? Quem te mandou??? Quer me matar, não é??? — a garota enlouquece a ponto de retirar uma tira da roupa e prensar o pescoço do rapaz contra o banco.

Pa-pa-pare!!! Você está me enforcando!!! Pare!!! — suplica, tentando se libertar, enquanto o carro, desgovernado, avança sobre um poste.

Com o impacto, Diana é arremessada contra o teto, soltando o rapaz, que arroxeado, abre a porta com dificuldades e cai sobre o asfalto. Aos poucos ele recupera o fôlego e se levanta apoiado ao veículo; ao virar-se para a moça, o inesperado. Egídio está à sua frente, com a arma apontada para sua cabeça, enquanto outros três carros cercam o local. Criminosos estão por toda parte e, como hienas em um bando, aguardam o sinal do líder para avançarem sobre as vítimas e estraçalhá- las.

IDIOTA!!! Diana é minha… digo, nossa!!! O que pensou em fazer? O inferno está cheio de heróis feito você!!! — os olhos do assassino avançam sobre o rapaz, que já não consegue mais se defender.

Vou acabar com sua raça, seu verme!!! Ninguém mexe com um dos nossos e sai ileso!!!

Me deixem!!! Me deixem!!! — grita a garota, sendo recolhida aos berros por outros dois capangas. — Me deixem!!!

Quando avista o motorista sob a mira de Egídio, Luara percebe que aquele rapaz queria realmente era salvá-la; se arrependimento matasse, ela já estaria a sete palmos.

O que eu fiz, meu Deus? — pergunta-se, completamente arrependida. — Não faça isso, Egídio, por favor! — passa a implorar pela vida do estranho, que ousou tentar libertá-la das muralhas do crime. — Eu te imploro, deixe-o ir… Eu farei tudo o que você quiser, mas o deixe ir!

O criminoso repele os apelos da garota com um leve sorriso a marcar a face:

Tarde demais, bebê!!!

Não faça isso!!! — chora em desespero.

Isso é para que VOCÊ — diz, fitando-a — aprenda de uma vez por todas que sua VIDA nos pertence e que todo aquele que ousar tentar libertá-la, acabará como este trouxa: com a boca cheia de formigas.

O disparo da arma é ouvido a distância.

NÃO PERCA, NESTE SÁBADO, O SEGUNDO CAPÍTULO DA NOVELA "A DEUSA BANDIDA", AQUI NA WEBTV.

____________________

1 Obra de José de Alencar, publicada em 1862. Lucíola é uma cortesã, uma prostituta de luxo, uma mulher complexa e sedutora, capaz de despertar paixões intensas. Alencar, por meio desta trama, retrata o câncer social da prostituição, problema que os homens do século XIX conheciam, mas preferiam ignorar.

2 Deusa do amor e da beleza na mitologia romana.

3 O deus das festas, do vinho, da insânia, da ebriedade e dos excessos, especialmente sexuais.

autor
Carlos Mota

com ilustrações de
Andrea Mota
 
elenco
Luara
Álvaro
Aurora
Diana
Martim Vaz
Leonor Moreira Vaz
Beatriz Vaz
Matilde
Cleide
Eufrásio
Sofia
Luizinho como Patrão e Camaleão
Egídio
Enrico
Português

trilha sonora
Immortal - Thomas Bergensen
 
produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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