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Antologia Lua Negra: 4x07

Conto de Callis E. Morius
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Sinopse: Um homem deprimido com a solidão e a falta de aventuras em sua vida tem a chance de sair com uma linda mulher que já admirava há algum tempo. Mas além de ser tudo que ele sonhava, ela era mais.

De Caso com o Inferno
de Callis E. Morius

Eram quase onze da noite e Raul voltava para casa, com uma sede impossível de saciar. 

Desde que se separou da mulher, Raul vivia tentando resgatar a energia da juventude. E, nessa ideia, voltou a frequentar os locais que os jovens e adolescentes frequentavam. E foi numa dessas que foi a um novo bar da cidade, chamado “A Cripta”. O lugar era conhecido por receber o público que curtia heavy metal e cultura gótica, ou seja, muitas roupas pretas, tatuagens, cortes de cabelo diferentes e gente de todo tipo.

Ele, mais velho, ao longo de seus 41 anos, sentia-se um tanto quanto deslocado. O máximo que fazia era tomar umas cervejas com o dono do bar, Pedro, com quem tinha uma amizade antiga. 

Pedro e Raul foram colegas de noitada no tempo de suas juventudes. Assim, passavam a maior parte do tempo lembrando de suas aventuras passadas e amargando os arrependimentos mais recentes. A vida de Raul não estava em um ritmo muito interessante. Era trabalho, casa. Casa, trabalho. Vez ou outra saía para a noite. Visitava o A Cripta ou ia a um outro bar mais badalado da cidade. O divórcio havia sido muito custoso para ele em vários aspectos, principalmente no emocional. Ele estava exaurido. Havia perdido o interesse nas pessoas de forma geral. Mantinha uns bons amigos do trabalho, que viviam chamando-o para programas mais ‘tranquilos’, mas ele sabia que todos esses programas acabavam por lembrá-lo de sua vida conjugal recém-interrompida. E isso era deveras doloroso.

Tudo mudou numa sexta-feira 13, quando Raul foi a um evento chamado “Noite Longa”, na Cripta. A ideia era fazer um evento em homenagem à simbólica data e todos haviam comparecido. As músicas daquela noite todas tinham uma particularidade: eram densas e instigantes. Mexiam com Raul de uma forma nova.

À medida que a noite avançou, ele acabou se enturmando com um grupo de amigos que já frequentavam o lugar. Eram umas sete pessoas. Naquele dia, por mais incrível que pareça, o grupo estava bem amistoso. Diferente das outras noites em que sempre permaneciam no mesmo canto do bar, como se conversassem em segredo. Entre os jovens, havia uma garota que sempre chamou a atenção de Raul. Seu nome era Vívian. Tinha os cabelos loiros, era branca, de olhos claros, beirando um azul cinzento. Sempre estava com roupas sensuais, mostrando as pernas e os pés, em saltos provocantes, assim como alguns decotes estrategicamente localizados.

Raul a achava linda, mas não dava muita importância. A jovem vez ou outra aparecia com acompanhantes e parecia ter uma vida amorosa bem agitada. Ele flertava com ela, mas sem reais esperanças. Era mais um passatempo que qualquer outra coisa.

Mas naquela noite de sexta-feira 13, no evento da Noite Longa, a bela Vívian estava mais à vontade com Raul. Havia trocado olhares com ele quando chegou e ao longo da noite não parou de olhar e até mesmo provocar. Foi ao bar, pegou uma bebida e chegou até a cumprimentar Raul de forma direta. 

Oi. Você é o Raul, né? Eu sou a Vívian. – disse a bela enquanto esperava a bebida no balcão.

Oi. Boa noite. Sou sim. Como sabe meu nome? O seu eu já sei porque já a vejo por aqui há tempos. – desconcertado, ele respondeu à jovem da melhor forma que julgou.

É. Minha turma adora esse lugar. Eu também. – Vívian estava especialmente linda naquela noite. Jaqueta, camisa solta e curta mostrando a barriga com um piercing, calça bem justa e um salto exibindo os pés bem cuidados com unhas vermelhas, iguais às da mão. A maquiagem seguia o padrão gótico, mas com cores mais leves. Vários brincos nas duas orelhas e um piercing no nariz, daqueles de argola. 

Raul nunca havia prestado atenção à voz de Vívian. Mas se encantou com a não apenas sua voz bonita, mas com o jeito sexy natural que ela emanava ao falar, gesticular e se movimentar. Ela o enfeitiçava a cada contato.

A gente vai sair daqui mais tarde e fazer um luau aproveitando essa linda lua cheia. Às vezes você quer ir conosco. – Vívian foi bem direta. E, como estava sozinha naquela noite, Raul pensou que a jovem poderia estar querendo apenas uma aventura rápida ou apenas estar acompanhada por um homem mais maduro. Vívian parecia ter uns vinte e poucos anos e sua jovialidade era contangiante.

Claro. Acho que seria uma boa! - Respondeu Raul se convencendo de que não havia porque, no máximo, fazer algo diferente. Ao passo que ele admirava a jovem, estava preparado para ser mero acompanhante, um possível novo amigo. Nada além. 

Perfeito. Se quiser ficar ali com a gente... ou se preferir, a gente te chama quando estivermos saindo. 

Vou terminar meu drinque e vocês me chamam. Sou meio tímido.

Ahhh... não precisa ser. Mas tudo bem. Acho fofo. – ficava cada vez mais perceptível que a jovem poderia estar realmente abrindo espaço para algo além de um companhia qualquer. No entanto, Raul sabia como a vida funciona e resolveu se manter na defensiva.

Assim que a jovem Vívian saiu, Raul a acompanhou com os olhos por todo o caminho até que ela saísse de sua visão. Logo o amigo Pedro se aproximou oferecendo uma bebida.

Meu amigo! Essa é por conta da casa. Parece que alguém terá uma boa e perfumada companhia essa noite, hein? – e riu batendo as mãos no ombro de Raul.

Os dois continuaram no balcão por um tempo conversando até que um dos amigos da turma de Vívian se aproximou e de forma bem amistosa chamou Raul para saírem. Estavam indo para o tal luau.

Raul fechou a conta e saiu do bar. Na porta, Vívian o recebeu e apresentou os amigos. Três casais e outras duas meninas sozinhas, que pareciam um casal às vezes. Logo ele pensou que Vívian poderia estar apenas querendo companhia para não ficar “‘segurando vela”’, como diziam antigamente.

Raul! Venha. Vamos curtir. Posso ir com você?

Claro. Meu carro está logo ali. É uma caminhonete. 

Os dois foram para o carro e logo rumaram, junto dos demais, para o tal luau . Vívian havia explicado onde era: numa clareira, numa das colinas ali perto. Dava para chegar com o carro bem perto e o lugar era “bem tranquilo”, conforme atestou ela. Na viagem, Vívian se mostrou uma pessoa gentil e despojada. E Raul não conseguia parar de olhar para seus detalhes. As unhas bem-feitas e vermelhas na pele branca. A boca realçada com batom escuro. Os olhos cintilantes.

Ao chegarem, foram logo arrumando alguma lenha para fazer uma fogueira. Dois amigos tiraram um isopor do carro com bebidas e aroma de maconha logo se fez presente. Todos estavam se divertindo e Raul logo havia se misturado a eles. Ria e se divertia. Sempre com Vívian por perto, que cada vez mais tocava-o, abraçava-o e se mantinha na sua companhia. 

Em certo momento ela pediu que ele a ajudasse a apanhar uma mochila no carro de outro membro do grupo. Assim que se afastaram um pouco, ela o puxou para si e o beijou. Ele – claro – retribuiu. E se beijaram de forma quente por um bom tempo. Apanharam a mochila e voltaram para o grupo, à beira fogueira.

Ao longo da noite, os casais estavam formados. Vívian não desgrudava de Raul e em vários momentos ela o atacava com beijos e abraços e tudo ficava cada vez mais quente. Como o grupo era bem liberal, ninguém se incomodava com os amassos cada vez mais lascivos do novo casal. Vívian estava enlouquecendo Raul. Ele não acreditava que tudo aquilo estava acontecendo. Queria que a noite não terminasse nunca.

Passado algum tempo, abriram a mochila e tiraram de lá uma bebida e um estojo de couro. Vívian bebeu e beijou Raul oferecendo-o a bebida. Ele estranhou o sabor, mas sorveu tudo que pode enquanto beijava a jovem. Todos os outros bebiam também.

Foi então que alguém aumentou a música e Raul começou a enlouquecer. A bebida, mais a maconha, mais toda a lascívia de sua jovem amante o estavam fazendo alucinar. Ele não sabia mais o que estava fazendo. Foi então que Vívian o encostou numa rocha, beijando-o intensamente. A jovem subiu em sua cintura e começou a se movimentar de forma absurdamente voluptuosa. Ele, em transe, apenas aquiesceu. Ela beijava-lhe na boca e no pescoço e arranhava suas costas. Ele cerrou os olhos e se deixou levar com toda a loucura de Vívian.

Então, em certo momento, abriu os olhos e viu a jovem com um objeto metálico nas mãos. Parecia uma lâmina, mas ele não se importava, pois ela o estava levando ao limite do prazer. Ao fundo, ouvia a música alta, via os demais enlouquecidos, dançando ao redor da fogueira e uivando para a imensa lua cheia. Foi então que ele percebeu que a lua estava num tom que jamais havia visto. Um vermelho escuro e poderoso. E isso o chamou a atenção.

Assim que voltou seus olhos para Vívian, percebeu que ela acabara de fazer um corte na língua e sangue escorria de sua boca, por seus lábios e pele branca. Antes que ele pudesse falar algo, ela o beijou novamente. E sentiu o sangue da garota inundar sua boca enquanto ela se enroscava nele e colocava suas mãos nos seios agora à mostra. 

Raul continuou a beijá-la e tocá-la enlouquecidamente e percebeu que o sabor em sua boca em nada se assemelhava ao conhecido sabor do sangue. Era adocicado de uma forma singular. Talvez fosse o melhor sabor que já havia sentido em sua vida.

Eles continuaram ali daquele jeito até que ele começou a sentir um calor incontrolável em seu corpo. Sentia-se ativo e vivo, como se houvesse voltado à juventude. Sentia-se mais forte que nunca, ao ponto de o peso da jovem, ainda que pequeno, sequer fizesse diferença para ele. Toda a energia em seu corpo aumentava o vigor de sua performance com Vívian. Raul se levantou, com a garota ainda presa a ele, beijando-o intensamente. Levou-a até o capô do carro mais próximo e começou a despi-la. Ela, com as unhas, arranhava o próprio corpo até que sangrou à beira do seio. O sangue que escorria dali era de um vermelho vivo e emanava estranha coloração aos seus olhos. Raul chegava a sentir até o cheiro do sangue que escorria do seio de Vívian. E mergulhou com a boca no corpo da mulher enquanto ela se cortava usando as próprias unhas.

Sob a lua vermelha permaneceram por horas, até que os primeiros raios de sol começaram a surgir. Raul abriu os olhos. Estava deitado numa lona na caçamba da sua caminhonete. Ao seu lado, percebeu que Vívian dormia profunda e calmamente, abraçada com ele. Seu cheiro pela manhã era o perfume do paraíso. 

Raul então lembrou-se de parte dos acontecimentos da noite anterior. Não tinha certeza da loucura que o acometera, mas muita coisa parecia ser bem real. Sentou-se assustado e lembrou dos cortes e do sangue em Vívian. E logo resolveu examiná-la. Com cuidado, removeu o cobertor improvisado que cobria a garota e viu que não havia qualquer marca. Nada. Nem manchas de sangue, nem cicatrizes. Ele então ficou aliviado que a garota estava bem. Esfregou os olhos e procurou algo para beber. Foi então que sentiu na boca o mesmo sabor da noite anterior. O sabor do sangue de Vívian.

Ao levantar a cabeça, viu que os carros dos demais amigos ainda estavam lá. Havia cheiro de café e percebeu que um dos outros caras estava fazendo café no que restou da fogueira. O rapaz logo cumprimentou Raul.

Bom dia! Dormiram bem? 

Foi nesse momento que Raul percebeu que Vívian acabara de erguer a cabeça logo atrás dele. Ainda que descabelada e com a maquiagem um tanto quanto borrada, ela permanecia linda, perfeitamente linda.

Ele a olhou intensamente, sem saber o que dizer. Quando ela acabou de acordar, foi até ele e beijou-lhe com carinho. Passou as mãos frias e brancas por seu rosto e começou a ajeitar as roupas.

Bom dia, senhor Raul. Dormimos bem, né? – e sorriu.

Ele então sentiu-se bem melhor em saber que ele e a linda Vívian estavam bem consigo mesmos. Nada foi além do controle. E parece que a relação deles estava se consolidando. 

De súbito, pulou da caçamba da caminhonete e foi apanhar café. Levou para ela, com alguns biscoitos oferecidos pelo outro membro do grupo.

Hummm. Café na cama! Assim você acaba comigo.

Eles se sentaram para apreciar o café. Conversaram sobre amenidades. Raul não sabia como tocar no assunto da noite anterior. E Vívian não parecia ligar para isso. Ele resolveu também não se pronunciar e ambos começaram a se preparar para ir embora.

Reuniram-se com os demais, riram um pouco das maluquices da noite anterior e foram se despedindo. Raul imaginou até que Vívian pegaria carona com algum amigo ali e ele voltaria sozinho para sua casa e sua vida pacata. Mas a jovem pegou-lhe a mão e perguntou se ele poderia levá-la para casa. Ele, claro, aceitou.

No caminho de volta, Raul sentia uma profunda sensação de fome e sede, mas algo estranho, algo novo, como se houvesse realmente um buraco em seu estômago. Ele bebia água e não matava sua sede. Comeu um pacote de bolacha inteiro e não saciava sua fome. Vívian ria de tudo. Raul começou a pensar que poderia ser algum efeito da bebedeira ou até das drogas. Mas nada tão forte quanto antes.

Quando chegou à casa dela, Vívian saiu pela porta e convidou Raul para entrar. Ainda que ele estivesse em dúvida se deveria, não conseguiu evitar. Eles entraram.

A casa de Vívian era moderna, mas simples. Ela vivia sozinha. Tinha um gato que logo apareceu e desapareceu. Ela ofereceu a ele água e ele bebeu mais e mais, mas sua sede não passava. 

Raul, meu amor. Eu sei que sede é essa que você está sentindo. – disse ela enquanto deixava a jaqueta e a mochila em cima da mesa.

Sabe? Como assim? – questionou ele confuso.

Sei sim. Venha que vou te mostrar. – Ela andou em direção a um confortável sofá, daqueles mais antigos, todo adornado com tecidos e cobertores. Parecia ser o lugar de relaxamento de Vívian. 

Então ela se sentou ali, apanhou algo atrás das almofadas e mostrou a Raul. Ele logo se assustou pois o que havia nas mãos de Vívian era uma navalha. Apesar de até mesmo aquela navalha parecer sexy nas mãos de sua musa, ele sabia que algo estava errado.

Cuidado com isso, Vívian. 

Eu tenho, meu amor. – disse a garota cruzando as pernas e curvando o tronco até a altura do joelho. Com os braços esticados, fez um corte súbito no peito do pé e sangue começou a escorrer por sobre seus pés, sandália e pelo chão.

Raul, assustado, pediu a ela que parasse com aquilo e avisou que procuraria curativos. Mas antes que ele pudesse se mexer ela disse:

Não sente o perfume? 

E ele logo sentiu o aroma doce ludibriar seus sentidos. Aquilo o paralisou e seus olhos logo foram atraídos para o foco do aroma, o corte nos pés de Vívian.

Venha. Sacie sua sede, meu amor.

Ele então ajoelhou-se, mesmo sem entender o que estava fazendo, aproximou a face dos pés de Vívian, que logo o ofereceu. Sentiu o perfume e logo o sabor, quando tocou a língua no sangue fresco. Era o sabor do paraíso. Seguiu então sorvendo todo o sangue que podia, deliciando-se no prazer que tudo aquilo lhe causava. 

Ficou ali por alguns momentos, até que a sede saciada o fez recolher-se e encostar no sofá, permanecendo sentado no chão. Vívian então levou o pé manchado de sangue à própria boca e lambeu o corte que, em instantes, como mágica, desapareceu.

Ela se levantou, aproximou-se dele com a cintura à altura de sua face, escorreu as mãos delicadas, brancas e frias por sua face quente e levou sua boca até o alto de suas pernas.

Raul encostou a cabeça se reconfortando com a presença arrebatadora de Vívian. Ele sentia que estava apaixonado. Talvez mais que apaixonado. Preso a ela. Vítima de uma sede e fome que somente ela poderia saciar.

O que houve, Vívian? O que você fez comigo? – inquiriu ele com a voz em sofrimento.

Eu te dei vida nova, meu querido. Ao invés de terminar com sua vida, resolvi começar uma nova. Você é meu, meu bem. E o tempo é nosso, meu amor. 

Antes que Raul dissesse qualquer coisa, ela o olhou nos olhos, com olhar firme e sincero. Beijou-lhe carinhosamente. E concluiu:

Não se deixe levar pelas aparências, meu amor. Eu não tenho vinte anos. Diria que tenho muito mais que isso. E, vou te provar que o inferno é muito mais paradisíaco que essa vida que você leva.

Inferno? 

Sim, Raul. É o nome que dão à nossa casa!


Conto escrito por
Callis E. Morius

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Gisela Lopes Peçanha
Pedro Panhoca
Rosside Rodrigues Machado

Tema:
Suspense Music

Intérprete:
Gabriel Andrade Produções


Produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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