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Cine Virtual: O Fenômeno Sööja

Conto de Thaís Lyn
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Sinopse: Uma menina surda começa a ver uma entidade assustadora na hora de dormir. Dias depois começa a menina começa a ver cores emanando das pessoas e se elas sofreram alguma espécie de acidente ou morrer...

O Fenômeno Sööja
de Thaís Lyn

        Freya ia para cama todas as noites às oito horas. Os pais a cobriam, contavam-lhe uma história e apagavam as luzes dando-lhe um beijo de boa noite. Aquela era a rotina noturna da família Parsons há sete anos. Freya havia nascido com uma deformidade na cavidade auricular e por isso era completamente surda.

Os pais desde cedo ensinaram-lhe a língua de sinais e comunicavam-se muito bem. A garota já estava alfabetizada e tinha grande criatividade fazendo belas pinturas tanto com tinta quanto com giz de ceras comuns – provavelmente seria uma grande artista visual, pensavam eles.

Certa noite, após sua história para dormir e o beijo de boa noite, a menina caiu num sono profundo e teve um pesadelo horrível...

Enquanto dormia, uma criatura de cascos grandes, pele vermelha com manchas pretas e olhos amarelos caminhava pelo teto observando seu sono. Exalava um cheiro forte que lembrava urina de gato, além de ficar boa parte da noite imóvel olhando-a dormir. No auge do pesadelo, a entidade aproximou-se tanto do rosto dela que um cheiro de carne podre a acordou fazendo-a vomitar compulsivamente ao lado da cama.

Com o barulho os pais correram para o quarto da garota. A mãe a levou para o banheiro enquanto o pai limpou o chão e trocou os lençóis.

- O que houve, querida? – Perguntou a mãe gesticulando na linguagem de sinais – Pesadelo?

- Tem um monstro no teto! – Respondeu a menina gesticulando rapidamente – Ficou me olhando dormir!

A mãe acalmou-a dizendo que era apenas um pesadelo, mas não pôde conter o susto ao ver que no teto em direção à cama da garota, marcas de cascos espelhavam-se pelo forro branco como se algo tivesse de fato caminhado por ali. O pai verificou a casa toda em busca de um intruso, mas não encontrou ninguém. Resolveram dormir todos juntos aquela noite.

Freya levou seu caderno de desenho e alguns gizes de cera para colorir enquanto esperava o sono voltar. Os pais conversavam enquanto ela pintava freneticamente usando giz preto, vermelho e amarelo. Ambos ficaram assustados ao constatar que a criatura que Freya desenhava no caderno – de aparência horrenda – era a mesma que tinha visto no pesadelo. O desenho atrasou ainda mais a chegada do sono aquela noite.

Durante toda aquela semana, Freya acordava durante um pesadelo com a entidade encarando-a. Tentava gritar, se mexer e até mesmo respirar, mas nada acontecia. Permanecia congelada sem poder fazer nada até o corpo voltar ao normal. Embora estivesse apavorada, preferiu não contar aos pais que enquanto estava paralisada, a criatura aproximava-se cada vez mais dela até acordar com uma profunda dor nas costas.

A garota agora começou a ter medo da hora de dormir. A sensação de imobilidade enquanto aquela horrorosa entidade se movia para perto a deixava desesperada. Mesmo dormindo com os pais, não conseguia emitir um único som para que pudessem ajudá-la, ficando à mercê da entidade. Certa noite, enquanto dormia, teve outra paralisia do sono: nessa aterradora imobilidade, a criatura chegou tão próxima dela que, com o pânico, Freya convulsionou violentamente.

Acordou no hospital com uma terrível dor nas costas. Passaram alguns calmantes e uma medicação anticonvulsivante caso aquilo voltasse a acontecer. Olhando para as pessoas daquele lugar, viu algo estranho: cores diferentes emanavam de cada pessoa daquele lugar, inclusive de seus pais. Ambos tinham coloração azul. Outros pacientes tinham cor vermelha, amarela e todas as cores possíveis em tons diferentes, exceto preto.

Embora achasse estranho, preferiu não falar nada sobre aquilo. Na escola, via todos com cores diferentes, mas se olhando no espelho, não via cor alguma sair de si mesma. Suas costas doíam demais e os remédios não ajudavam em anda com a dor.

Na volta para casa, viu um motoqueiro com a cor vermelha muito vibrante e no cruzamento seguinte, uma picape chocou-se com ele transformando sua cor em preto. Naquele instante, Freya compreendeu o que poderia significar a cor vermelha e preta respectivamente: pessoas que sofreriam acidentes emanavam aquele tom específico de vermelho enquanto os mortos mostravam o tom preto. Mas o que poderia significar as outras cores? E por que não emanava cor alguma?

Desde que saíra do hospital por causa da convulsão, não tivera mais nenhuma paralisia durante o sono ou qualquer visão com aquela assustadora criatura de cascos, mas as costas doíam cada dia mais. Os pais fizeram uma vídeo-chamada com a avó que morava na cidade vizinha e, assim que viu o tom avermelhado da velha senhora, Freya pediu para que fossem até a casa dela visitá-la. Estava em pânico.

Visitaram a avó naquele fim de semana mesmo e o tom que emanava dela deixava-a apavorada. Sabia que logo algum acidente infeliz aconteceria. Ficou perto dela quase o tempo todo, tentando antecipar qualquer coisa errada que pudesse ocorrer, mas nada aconteceu. Já no domingo, pouco antes de levantar, viu os pais com o mesmo tom vermelho da velha avó ficando apavorada.

Antes que pegassem a estrada de volta para casa, Freya sugeriu que a avó fosse com eles passar uns dias. A garota insistiu tanto, que ela acabou concordando. Na estrada, cochilou com a cabeça no colo da avó. Acordou ofegante, mas não conseguiu se mover. Seu corpo não respondia e ninguém parecia notar que ela estava acordada. As costas queimavam e uma dor horrível subia por sua coluna.

Seu desespero cresceu ao ver que no reflexo dos óculos da avó, emanava dela mesma uma luz vermelha-rubro. Um grito cresceu em sua garganta e explodiu fazendo todos se assustarem. O pai perdeu o controle do carro e um caminhão chocou-se contra eles na estrada. Freya acordou muito grogue no hospital. Estava cercada por tubos e com o tronco enfaixado. Uma enfermeira aproximou-se e gritou para alguém que ela tinha acordado.

Uma assistente social disse que o pai e a avó não tinham resistido ao acidente e morreram no local mas que estavam tratando assuntos de guarda com sua mãe. Freya chorou sentindo-se culpada pelo acidente e sem entender o motivo pelo qual não poderia ver a mãe. Após ficar mais calma do choque inicial, caminhou pelo hospital até uma máquina de doces. Lá ela viu um senhor sentado numa maca.

Ele era bastante velho e tinha muitos fios ligados ao braço. Uma luz branca saía dele e então aquela criatura de pele vermelha e cascos aproximou-se. Freya tentou gritar, mas nenhum som saiu de sua garganta. A criatura estendeu a mão em cumprimento e o velho aceitou. Em seguida, sua luz ficou preta e ele caiu deitado na maca. 

Os aparelhos começaram a apitar e uma porção de gente cercou seu corpo tentando reanimá-lo. A menina voltou ao leito com os olhos cheios de lágrimas. Agora via tons azuis emanarem de si mesma pelo espelho.

Ficou deitada com o tablet na mão. Após fazer algumas pesquisas, descobriu um demônio de pele vermelha e preta, de olhos amarelos e cascos grandes conhecido como Sööja. Segundo a Goetia, essa entidade era um marquês do inferno de dentes pontudos que se alimentava da carne de suas vítimas.

As costas de Freya doíam tanto que ela precisou deitar de bruços. Quando se virou, percebeu que o colchão estava ligeiramente manchado de sangue. Suas costas estavam enfaixadas fortemente até a barriga. Removendo as faixas e olhando no espelho, compreendeu o que havia escutado mais cedo: a pele das costas estava parcialmente faltando e a fala sobre maus tratos infantis que a assistente social dissera fizeram sentido.

A carne faltando nas costas com marcas evidentes de dentes, as visões de Sööja e a separação da mãe foram ligadas rapidamente por Freya: o maldito demônio estava se alimentando dela e a mãe fora acusada de maus tratos e algo relacionado a canibalismo. Estava muito encrencada.... Leu em alguns fóruns relatos de pessoas que conseguiram se livrar do demônio e não restava dúvida: precisava morrer para tirá-lo de sua cola.

Freya era inteligentíssima para a idade e, assim que pôde, tirou o cano de soro de seu acesso no braço e assoprou com força nele. A veia estourou e logo ela sentiu o corpo formigando até escurecer completamente. Tudo ficou escuro e frio. Sem saber ao certo quanto tempo passou, acordou com os braços amarrados por faixas na cama. Uma enfermeira observava ela de perto. As cores haviam sumido.

A assistente social perguntou-lhe porque tentara suicídio e, após contar sua história, a mulher julgou que Freya estivesse com alguma sequela cerebral. Demorou muito para que a mãe provasse que não era responsável pelos ferimentos da menina e que ela estaria segura voltando para casa. 

Freya agora tem dez anos e faz pinturas artísticas sob encomenda. Ela e a mãe moram sozinhas e nunca mais teve nada relacionado ao fenômeno Sööja – um estranho estado de fuga psicológica para quem apresenta paralisias do sono recorrentes e terrores noturnos. Contudo, em suas postagens em fóruns online de eventos paranormais afirma que tudo que passou foi real e coloca junto de seu relato as várias marcas de mordidas presentes em suas costas...                        

Conto escrito por
Thaís Lyn

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Gisela Lopes Peçanha
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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