Flor-de-Cera: Capítulo 25 - WebTV - Compartilhar leitura está em nosso DNA

O que Procura?

HOT 3!

Flor-de-Cera: Capítulo 25

Novela de Carlos Mota
Compartilhe:




FLOR-DE-CERA - CAPÍTULO 25


– Feche a porta, por favor! – pede, sendo atendida de imediato.

– Em que posso ajudá-la, dona...

– Adelaide. Adelaide do Amaral – completa

Pietro corre os olhos pela mulher e percebe todo o seu nervosismo; sente que ela lhe fará grandes revelações, por isso investe:

– Tudo o que disser aqui; aqui ficará! A Constituição Federal assegura o sigilo da fonte. Pois bem! Em que posso ser útil?

– Eu sei quem é o mandante do assassinato do motorista Joaquim e do policial de Vila Bonita.

Assustado, Pietro cai sobre a cadeira. Era tudo que precisava. Sua intuição estava certa.



Na mansão, o prefeito pergunta:

– O que ele tem, Rubens?

– Provavelmente uma infecção causada pelos ferimentos no braço. Vamos levá-lo para o quarto. Ajude-me, aqui!

– Ai minha coluna, começou a doer de repente – diz o prefeito, simulando.

– Quer que eu lhe aplique uma injeção? Para este tipo de dor sempre carrego algo bom!

– Quê? – assusta-se. – Imagine, meu filho, não quero lhe causar problemas. Continue com seus serviços, o Darci...

– Moacir! Já lhe disse prefeito! – esbraveja a mulher.

– Pois então, o Dar... Moacir irá ajudá-lo! Não é, meu filho?

– Craru! I nãu si isqueça, ieu vô votá nu sinhô di novu.

– O povo me adora! – levanta a cabeça e abre um largo sorriso.

– Cristo! – diz o médico, inconformado com a declaração do serviçal.

Enquanto carregam o camarista pelas escadarias, Tanaka se afasta, saca-se do celular e faz a seguinte ligação:

– Olá, doutor Lúcio! Pois então, Alberto quer mesmo que o tal do Zé dos Cobres seja o candidato oficial do PRVP ao cargo de prefeito, nas próximas eleições? O senhor não me garantiu que acabaria com essa farra, antes mesmo que virasse uma ameaça aos nossos interesses?

– Acalme-se, prefeito! Estou pressionando-o de todo jeito, logo entregará as rédeas do jogo! É questão de tempo!

– Não sei, não! Aquele indivíduo é meio porra-louca, vai que resolva manter a candidatura daquele pobre, não que eu tenha medo, porque George, sob meus cuidados, será eleito de qualquer jeito, comprando ou não votos, adulterando urnas eletrônicas, lavando a mão de algum técnico do Tribunal Regional Eleitoral... Isso é fato! Ele já é o novo prefeito de Vila dos Princípios!

– Claro que sei, seu Tanaka! Fique tranquilo, nossa parceria continua de pé, dou-lhe minha palavra, que vale mais que ouro. Já reuni assinaturas suficientes para tirar Alberto da jogada, até porque, ele é um zero à esquerda, um homem visionário demais, que acredita que um pobre possa ser tratado como parte da elite. O bicho é muito tinhoso, mas hoje o encurralamos, melhor, Desirê o deixou sem condições para continuar – gargalha.

– Pois diga, o que houve? Porque o Zé já anda dizendo por aí que será candidato.

– Coitado! Não sabe como pobre é? Vive no mundo dos sonhos! E de sonhos não se enche barriga.

Os dois riem.

– O que fez Desirê? Conte-me tudo... Tudo! Tô até com a goela seca de tanta curiosidade.

– Pôs Alberto contra a parede! – desdenha com gosto. – Se ele quer mesmo o talzinho como candidato nas próximas eleições, terá de bancá-lo com recurso próprio, porque, apenas com o aporte do fundo eleitoral, será impossível. Como ele tem um patrimônio minúsculo, duvido que se desfaça dele para apostar em um pleito, cujo concorrente seja alguém da família Dumont. Por mais que tente, todos os filiados do partido foram orientados, diretamente por mim, para que lhe fechem a porta. Assim, não terá para quem passar o pires. Enquanto isso, tento convencer aqueles tontos a aceitarem a candidatura do sonso do Giacomo Benatti. Fiz até ele mesmo acreditar que seria capaz de vencer o nobre vereador George. Acha? – zomba. – Não me aguento só de imaginar como será o primeiro debate, pois Giacomo, burro como é, será trucidado no primeiro round. Mas temos um problema...

– Qual? – muda o tom da voz, dando uma golada na garrafa.

– A tal reportagem de hoje no “Tributo ao Povo” sobre dona Catharine e o motorista. Acredita que tem gente que comprou aquela palhaçada? Alberto foi um deles e prometeu usar a história de modo conveniente aos interesses que são unicamente dele, não do partido.

– Doutor Tobias é um traíra! Ô homem ruim...

– Fez jogo duplo. Deu com uma mão e tirou com a outra. O senhor precisa ser rápido, prefeito, porque vou te falar, meus empregados já estão comentando o caso, até parece final de novela das nove. Todo mundo quer saber se a dama dos Dumont chifrou mesmo o marido, como se isso fosse mudar alguma coisa. Mas pobre é pobre, dê-lhes pão e circo que a festa se arranja, sem hora para acabar. Boçais!

– Vou ajeitar isso, prometo. Se sou capaz de manter o imbecil do George no cabresto, não serei capaz de pôr fim às ambições daquele velho gagá? Tobias e Pietro Ferrara, o jornalistazinho, que me aguardem! Eles não conhecem minha ira, quando o que se está em jogo é o cofre da Prefeitura.

– Muito bom! O senhor é um dos meus! – gargalha o idoso, repetindo a mesma frase do político. – Agora precisamos tratar de outro assunto.

– Seja breve!

– O senhor precisa aumentar minha “ajuda de custo”, sabe como é, manter dois filhos na faculdade, a mulher e amante não é para qualquer um!

– Políticos são todos iguais, ô gentalha! Parecem hienas! Quanto mais você dá, mais querem! Depois quando o castelo desmorona, desaparecem, fingindo uma honestidade de causar nojo. Eu odeio político!

– Mas o senhor também é um de nós!

– Ops... é mesmo! Tem hora que me esqueço! – entorna de novo.

– E de quanto estamos falando?

– Pelo menos setenta mil por mês...

– EEEEEita!!!!!! Mas isso é um roubo!!! De onde irei tirar essa grana toda?

– Das obras do Posto de Saúde... – cutuca. – E de qualquer outra que se possa prestar contas com notas frias.

– Daqui a pouco estarei no Jornal Nacional acusado de ser o mentor do “mensalinho dos Princípios”. Não quero acabar como Zé Dirceu, Delúbio Soares, Marcos Valério e tantos outros que não souberam fazer a coisa certa e acabaram no xilindró.

– Imagine! Somos honestos, não é? Se for para roubar o dinheiro do povo, que roubemos juntos, e ninguém sairá machucado.

– Sei não... Hum! Se alguém descobrir?

– Fique em paz! Somos presos num dia e libertados no outro; esqueceu-se de que quase todo o Supremo Tribunal Federal é nosso? Basta gritar “Gilmar” que o habeas corpus chega num piscar de olho.

Se lhe conforta, da última vez que fui para trás das grades, não fiquei nem 20 minutos; bastou lavar a mão do indivíduo para que eu pudesse ir à desforra! O problema é que, quando se é reincidente, ele aumenta a comissão e diminui o parcelamento. Mas, mesmo assim, vale a pena! 

– Tá bom! Vou ver o que faço!

– E tem mais... – diz o velho.

– EEEEita!!!!!! É mensalinho aqui, pedido ali, por acaso tenho cara de gênio da lâmpada?

– Quando George chegar à prefeitura, quero alguns cargos para minha mulher, meus filhos, parentes e amigos mais íntimos. Nada de súmula 13¹, hein? Isso a gente burla com classe.

– Sei! – desliga. – Este é outro que eu precisava pôr fim. Hum! Como é desonesto! Se o seu Meia-Noite ainda estivesse entre nós, esse velho ranzinza iria rapidinho para a mansão dos mortos. Hum! Bicho intrigueiro! Por alguns trocados a mais, foi capaz de vender os amigos e os ideais do próprio partido. Sujeitinho à toa! Nunca eu faria uma coisa dessas! Aff!

Sobe as escadarias, sem perceber que Ernestina estava à sua sombra.

– Meu Deus! O que é isso? O que virou nossa cidade? Um bando de urubus se alimentam das verbas que deveriam ir para o povo... Inacreditável! E que história é essa de “imbecil do George”? Como gostaria que ele ouvisse. Toda aquela imponência viria abaixo.

– Como é difícil ter de tratar deste traste! Só mesmo eu para aceitar cumprir um juramento que ninguém lembra quando deixa a faculdade – desabafa Rubens, consigo mesmo. – Não aguento entrar neste quarto e não encontrar minha fi... Catharine! Isso aqui parece um deserto! É ela que traz vida a essa casa! Pena que seu fim... Se eu pudesse fazer algo! Mas o quê?

– Mãe... mãe... me ajude – sussurra o camarista, para o espanto do médico, que se retrai.

– Eli tá chamanu a mãi deli...Cuitado! – diz, comovido, o jardineiro, aproximando-se.

– Mãe? É... Neuza! Ele está falando de Neuza da Silva! – senta-se na cama e se perde em lembranças.

– Meu nome é Neuza, dona Franceline! Não sei escrever, por isso, pedi para que a filha de minha vizinha lhe escrevesse estas mal traçadas linhas. A senhora não me conhece. Moro em Vila Bonita, cidade próxima de Vila dos Princípios, mas lhe digo, nasci para sofrer. Sabe, poderia lhe dizer tantas coisas bonitas, mas o que tenho para lhe apresentar são apenas más notícias, não que eu a queira mal; pelo contrário! Por lhe desejar o quê de melhor há nesta vida, resolvi lhe abrir a verdade. Toda a verdade! Toda a verdade que a fará, por ora, triste; com o tempo e, certamente, com o brio que possui – pelo menos é o que sempre ouvi da senhora-, se levantará e será feliz. Porque não existe felicidade onde mora a traição. E a senhora, ainda que eu não soubesse, está sendo vítima desse mal. Não rasgue esta carta ainda; espere! Tenho muito a lhe contar! Mas as palavras... as palavras, estas me faltam, e logo agora, quando mais preciso. Para encurtar o assunto, conheci meu Jean em um banco onde trabalhava. Eu era faxineira. Ele passou por mim, ofereceu-me alguns belos olhares, que em meu coração floresceram. Foi amor à primeira vista! Ele e eu nos mantivemos harmoniosos até o dia em que ele soube que eu estava grávida. Ficou feroz, pediu que eu tirasse nosso filho, que fizesse o que fosse possível, mas não poderia ser pai. Com lágrimas nos olhos, disse-me ser muito pobre e morar nas vielas de Vila dos Princípios; por ser tão desfavorecido, nunca me deixou que o procurasse. O engraçado era que eu morava em um barraco e isso não o incomodava, porque então, seu barraco havia de me transtornar? Ele nunca conseguia me responder, apenas pedia para que eu não o procurasse. Mas o amor é fogo que arde sem se ver, por isso, quando ele estava perto de mim, eu esquecia qualquer problema e me entregava aos seus beijos. Como o amei! Amei como nunca amei outra pessoa! Ele era tudo para mim! O corpo, a mente e o coração...como deixá-lo, então? Não conseguia, por mais que não o compreendesse. Ele sumiu depois que eu disse que não tiraria meu bebê, aliás, nosso! Talvez mais meu que dele! E só voltou depois que ele nasceu. Parecia outra pessoa, mas só parecia, porque a alma, de tão atormentada, ganhava a forma daquela folha que se desprende do galho quando é chegado o outono. Ele me fez acreditar em muitas coisas. Como mentiu para mim! Deus meu, onde eu estava com a cabeça? Poderia ter resistido àquele amor, mas como dizem os poetas, pode-se resistir a tudo, menos à sua outra cara-metade. Por mais que quisesse, não conseguia deixá-lo; por mais zangada que eu estivesse, bastava ele se aproximar, dizer duas ou três palavras em francês, para que meu coração derretesse todo. Ele era o meu chão, o meu ar, a minha VIDA! Sabe o que é isso? A senhora sabe? Sabe? Desculpe... mas...

– E como está o peste, digo, o vereador? – pergunta Tanaka, aproximando-se do médico. – O senhor está bem? Tá amarelo, com os zóios esbugalhados.

– Hã... – responde, retornando-se. – Tive apenas uma vertigem. Há de passar logo.

– E o sujeito aí? – aponta para George. – Deu sinal de vida?

– Está melhor! Não encontrei nada de anormal, talvez seja estafa, ainda que não seja comum estar acompanhada por uma febre. Já está medicado, agora ele precisa repousar, retirou uma bala do ombro há pouco, isso não é para qualquer um.

– Sei... – diz, aproximando-se dele. – Eita! Tá voltando, veja, os zóios tão abrindo.

– Tanaka? Rubens? Moacir? Onde estou? Hã... ah, em casa! O que aconteceu?

– Por ora, uma indisposição, mas fique na cama, precisará repousar.

– Cadê Ernestina? – levanta-se, para a surpresa de todos. – Quero Ernestina!

– EEEEita! O bicho tá grogue ainda! Por que grita pela encruada? Aff! Mau gosto dos infernos.

Rubens o segura pelos ombros e o força a se deitar, dizendo:

– Você tem que descansar! Pare!

– Precisa de um sossega leão, doutor! Mande bala! O bicho aguenta!

– Tanaka... Tanaka... corra...

– Pra onde, meu filho? Quem morreu? Antes você do que eu! – tira o sarro, para a irritação do vereador, que quase avança sobre ele.

– Tanaka...

– Calma, Beti! Fale, meu filho, o que quer? Quanto nervosismo!

George conta-lhe aos ouvidos toda a história de há pouco, sendo acompanhado de perto pelos olhares curiosos do médico, que quase tem um infarto, quando o prefeito dá um berro e parte à procura da empregada.

– O que está acontecendo aqui, George?

– Não é da sua conta! Aproveitando que está aqui, me diga, como está minha mulher?

– Se quiser informações de “sua esposa”, ligue no hospital, não sou seu criado – Rubens rebate a grosseria. – Aliás, aproveitando o ensejo, que dor não deve estar sentindo aquela que o trouxe à vida. Se soubesse no que se transformaria, certamente, o teria tirado.

– Do que está falando? – pergunta, estranhando. – Responda-me já!

– Tenha um bom-dia! – retira-se. – Já disse, não sou seu criado!

– Uh, dispois dessa ieu ficava calado – solta Moacir, atraindo a ira do vereador. – Discurpe, foi sem querê, doutor!

– Fora daqui! Vá também atrás de Ernestina. Preciso falar com ela!

– Mas doutor, o que fará? Sem verbas não há como levar a eleição adiante. Tentei o apoio de todos os empresários da cidade, mas se negam a financiar uma campanha em que Zé dos Cobres figure como candidato. Sem o apoio financeiro destes homens, não vejo outra saída, senão desistir da empreitada – diz, Ricardo, desolado.

– Não pode ser! Por que viram as costas ao pobre homem? – pergunta Alberto.

– Justamente por ser pobre. Dizem que ele não terá qualquer chance diante das garras ferinas do vereador George Dumont, que além da verba destinada pelo fundo partidário, conta com a própria fortuna para financiar-se.

– Esta cidade está infestada por tudo o que há de mal nesta terra. Não é possível que não haja alguém capaz de demonstrar um gesto de esperança.

– E não há! Sinto muito!

– Meu Deus! Que lugar é este que julga as pessoas pelo bolso, não pelo caráter? Nem se deram ao luxo de julgar o Zé pelo pensamento; tratam-no como inferior porque mora em um casebre, destituído de todo amparo social, como se isso fosse impeditivo para que alçasse voo. O homem é muito inteligente, conseguiu me conquistar com poucas palavras; se ele puder falar o que realmente pensa, o que sente, será ouvido pelo seu povo. Tenho certeza disso!

– Isso pouco importa...

– Estão cometendo discriminação, isso é crime! É crime! E como tal deve ser punido.

– E quem irá puni-los, doutor? Eles têm o poder nas mãos, podem alterar até o curso do rio se quiserem, por que não o impediriam de lançar um pobre coitado como o Zé ao cargo de prefeito? Acham que dariam aval à plebe? O senhor ousou sonhar muito alto e agora está prestes a sentir o efeito do tombo.

– Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito, como disse Albert Einstein, certa vez.

– Sim! Mas nunca eles serão taxados de vilões, por isso existem tantas agências de propagandas. Vender a imagem de bons moços é muito simples, pelo menos para quem manda no dinheiro que circula pelo país. Assim, para a plebe, continuarão sendo os maiorais, aqueles que se preocupam com o povo, com o meio-ambiente, com a educação dos mais humildes... Pura balela! Na verdade, só pensam no lucro que podem ganhar em cima dessas criaturas ingênuas.

– Temos de mudar isso!

– Como, doutor Alberto? Como? Escute, já tentei de tudo, só faltei pular no pé de um industrial para que me ouvisse por alguns segundos. No mínimo, limitou-se a dizer que nos auxiliaria se o candidato do partido fosse o senhor Giacomo. Para eles, pouco importa quem esteja no poder, desde que seja da mesma classe social, do mesmo meio financeiro. Eles não acreditam na plebe, como me disse um deles. E quando tentaram, foram tragados, ou se esqueceu do apoio que aquele metalúrgico recebeu?

– Princípios! Que princípios vendem estes imorais, Ricardo? Eles são mais pobres do que os pobres que menosprezam. Aliás, me diga, que mundo é esse que julga alguém pelas roupas, não pelo pensamento, pelos sentimentos mais nobres?

– É o nosso mundo, doutor! E para que tudo deixasse de existir, seria preciso que Deus apagasse nossa História, assim como o fez com Sodoma e Gomorra.

– Sodoma e Gomorra! Estaremos em uma nova Sodoma e Gomorra?

– Acredito que sim!

– E será que o Senhor fará chover do céu fogo e enxofre?

– Se um dia isso acontecer, quem será o nosso Ló²? Zé dos Cobres? – pergunta Ricardo.

– Se ele for o novo Ló, quem será sua família?

– O povo? – indaga o assessor, intrigado pelo rumo que a história tomava.

– Só saberemos se insistirmos...

– O que quer dizer, doutor Alberto?

– Ricardo, minha família fez parte da criação desta cidade, tenho por obrigação, defendê-la das mazelas dessa gente desalmada, por isso, venderei o pouco que tenho para financiar a jornada de Zé à prefeitura.

– Vai perder tudo o que seus pais lhe deixaram, porque é isso que acontecerá.

– Se for para o bem de Vila dos Princípios, não me importo, porque dormirei o sono dos justos, sabendo que quem senta na cadeira de prefeito será um homem nobre de espírito, capaz de levar esperança a quem deixou de acreditar na vida há muito tempo.

– Doutor, veja, pense direito, farão de tudo para derrotá-lo! Não se importam nem com o fato envolvendo a família Dumont, publicado hoje no jornal. Como me disse um diretor de empresa: “fofocas somem no vento! Votos elegem!”.

– Minha consciência pede isso! Não vou permitir que Lúcio e sua trupe vençam a parada, porque, no fundo, eles só se importam com as próprias contas bancárias. Paciência! E que o Senhor, se resolver pôr fim a esta cidade, saiba que dessa imundície nunca fiz parte.

E se vai, deixando o rapaz sem palavras.

– Que homem! – diz ele, com as mãos à boca.

– Fale, que homem é este, Pietro, que tanta maldição traz a Vila dos Princípios? – cobra, Tobias, na redação do jornal.

– Senhor, cabeças vão rolar.

– Não sendo as nossas... Mas de quem está falando? Quem é o mandante desses crimes?

– Minha fonte apresentou provas concretas de que o grande vilão...

– Vilão? Fala como se estivéssemos em uma novela – reclama o homem. – Seja objetivo. Quem mandou matar o motorista e o tal policial? Desembuche!

– O PREFEITO!

Tobias arregala os olhos de susto.

Em seu quarto, com toda a discrição do mundo, Ernestina calça uma sapatilha vermelha bem velhinha, toma um pen-drive em mãos e o guarda numa bolsinha. Ajeita os cabelos com uma escova, fixa-se à sua imagem no espelho e anuncia com todas as forças de sua alma:

– É chegada a hora do acerto de contas! O embate tão esperado entre a “criada” e seu “senhor” tem início! Que vença a verdade!

Ao abrir a porta, dá de frente com o prefeito, que traz o DVR debaixo dos braços.

– Aonde a mocinha pensa que vai?

Encerra com a música (Elysium and Now We Are Free - Yvonne S. Moriarty [Orchestrator])

_____________________________

1. A súmula 13, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal, caracteriza como nepotismo a nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta ou por afinidade, até o terceiro grau, em qualquer dos poderes da União, Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

2. Ló foi filho de Harã, irmão mais novo de Abraão, e, portanto, sobrinho do patriarca. Seu nome vem do hebraico lôt, e o significado é incerto, mas muitos intérpretes consideram que possa ser ―coberta. Quando Deus resolveu destruir as cidades de Sodoma e Gomorra, porque estava contaminada por violência, imoralidade sexual, falta de caráter, arrogância e desprezo pelos necessitados, Ló e sua família foram resgatados por dois anjos enviados pelo Senhor. Esse livramento está diretamente ligado ao fato de Deus ter se lembrado de Abraão (Gn 19:29)



autor
Carlos Mota

A novela "Flor-de-Cera" é remake de "Venusa Dumont - da memória à ressurreição" de Carlos Mota
 
elenco
Grazi Massafera como Catharine Dumont
Thiago Lacerda como George Dumont
Ricardo Pereira como Joaquim
Elisa Lucinda como Ernestina
Carlos Takeshi como Tanaka Santuku
Miwa Yanagizawa como Houba Santuku
Jesus Luz como Pietro Ferrara
Lucinha Lins como Franceline Legrand Dumont
Lima Duarte como Dilermando Dumont
Herson Capri como Doutor Rubens Arraia
Tonico Pereira como Moacir
Werner Schünemann como Paineiras Ken
Rosi Campos como Adelaide
Humberto Martins como Alberto Médici
Cauã Reymond como Ricardo
César Troncoso como Zé dos Cobres
Ilva Niño como Josefa
Selton Mello como Zelão
Matheus Nachtergaele como Meia-noite
Caio Blat como Delegado de Vila Bonita
Caio Castro como Leandro
Alexandre Borges como Doutor Jaime
Caroline Dallarosa como Carmem
Fernanda Nobre como Stela

participação especial
Stênio Garcia como Doutor Lúcio
Drica Moraes como Desirê
Marco Nanini como Chico Santinho

atores convidados
Ary Fontoura como Doutor Tobias
Alexandre Nero como Júlio Avanzo
Elizangêla como Maria

a criança
Valentina Silva como Alana

trilha sonora
Lágrimas da Mãe do Mundo - Sagrado Coração da Terra (abertura)
Elysium and Now We Are Free - Yvonne S. Moriarty [Orchestrator]

desenhos
Andrea Mota

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO


Copyright © 2021 - WebTV
www.redewtv.com
Todos os direitos reservados
Proibida a cópia ou a reprodução


Compartilhe:

Capítulos de Flor-de-Cera

Drama

Flor-de-Cera

No Ar

Novelas

Romance

Comentários:

0 comentários: