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Antologia A Magia do Natal: 4x09 - Deveras Natal

Conto de Maria Eunice
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Sinopse: Natal! Tempo de viver mais profundamente a fé, a esperança, a caridade. Momento de reflexão, de agradecer, de se doar. Muito embora para uns haja um distanciamento do real sentido, Jesus nasce em cada coração. Alguns preenchem o vazio do “ter”. Para outros, Jesus é vida e veio para nos fazer “ser”.


Deveras Natal
de Maria Eunice

  

De uma janela do décimo andar, da grande cidade do Rio de Janeiro, avisto lá embaixo tudo piscando em formas e cores: azuis, verdes, vermelhas... Papais Noéis gigantes, barrigudos, barbudos; as vezes assustadores, inflados à mercê do vento; árvores de Natal, quase arranha céus, compunham o cenário natalino. Daqui tudo tão pequeno aos meus olhos. Os carros parecem brinquedos de controle remoto, ocupando suas pistas de corrida. Pessoas que transitam num vai e vem; entram, saem, escolhem, compram. Ou apenas olham, naquela imensa passarela, desfilando suas vontades.

As vitrines abarrotadas de novidades para todos os gostos e bolsos. Adultos e crianças, com seus presentes, estampando sorrisos. Afinal, é Natal! É tempo de alegria, de celebrar o nascimento de Jesus. Mas quem ganha os presentes? Diga-se de passagem, que o aniversariante nem é lembrado. Alto-falantes gritam que é Natal, apresentando seus produtos etiquetados. Ofertando suas propostas de pagamento.

Olho para o céu tão estrelado, unicolor. O piscar das estrelas me convida a viajar nas lembranças do meu outrora. Eu, criança do sertão nordestino, lugar ermo, distante do que se diz civilização urbana. Nada difere entre as estações, pois o sol escaldante deixa a paisagem tórrida.  Nenhuma planta sobrevive a essa estiagem infinita. Apenas os mandacarus espinhentos tingem de verde a caatinga, deixando a paisagem menos inóspita.

Após o almoço, ouço vó Tonha, em sua voz rouca: "se apressem em seus afazeres. Hoje vamos todos à capela da vila. Será o início da novena de Natal. Preparação para o nascimento de Jesus".

Um corre-corre, e as tantas tarefas realizadas: buscar água na cacimba, recolher gravetos para o fogo do amanhecer. Ainda sinto o calor da areia quente sob meus pés descalços. Também o cheiro dos gravetos queimando nas labaredas e o sabor do café.

Quando saíamos ao entardecer, o sol ainda clareava os estreitos caminhos de areia. Vó seguia na frente, fumando o seu cachimbo, a espantar as mutucas com a fumaça estonteante que se espalhava rapidamente.  E a fila indiana a seguia em silêncio. A cada baforada, já ia recitando uma ladainha de deveres: não faça isto, não faça aquilo... Comportar-se era a lei.

Ao longe, já se ouvia o badalar do sino convidando os fiéis para o momento cristão.

Após algumas curvas, enfim a vila, a capela... O presépio composto por: Maria, José, pastores... Os camelos deitados, descansando da longa viagem. Afinal, foram muitos dias de caminhada até chegar a Belém. Mas a manjedoura estava vazia. Aos cochichos quis saber:  Cadê o Menino Jesus?   

Ainda não nasceu! - disse alguém.   

- E por que os Reis Magos já chegaram se Ele ainda não nasceu?   

- Por que Maria e José deixaram o pobrezinho sozinho? Ele deveria está aqui.

- Porque... porque...

Vó Tonha me repreendeu com o olhar. Mas sabia que eu estava certa.

Velas acesas nos tantos castiçais sobre o altar. As chamas bailavam ao sopro do vento que entrava porta adentro.

Benditos, ladainhas e uma reza que parecia não ter fim. O Amém era a parte mais esperada pela criançada. Era o anúncio do final!

De volta, a escuridão era quebrada pelo brilho das estrelas e um candeeiro aceso no alto da cabeça da matriarca.

Chegando, cada um se dirigia para a sua tipoia, a redigir lindos sonhos. Sonhos de Natal! Mesmo que esses fossem distantes daquela realidade.

A cada entardecer, o mesmo trajeto, as mesmas rezas. Até que numa noite, Ele estava ali na manjedoura: Jesus nasceu! Para nos salvar dos pecados. Também da dor da fome? Para uma criança não há explicação. Por que uns com tanto e outros sem nada. É assim e pronto! Mas Jesus estava ali, tão pobrezinho tal qual os viventes daquele torrão. E isso bastava. A fé, o amor que supre a dor, a tristeza, a mágoa...

Continuei ali, na janela, olhando as estrelas. As mesmas estrelas do meu outrora que me levaram até Jesus.

Lá embaixo, tudo parecia tão completo. Não faltava ninguém, mesmo que a manjedoura estivesse vazia.

Nunca desembrulhei um presente e tampouco tinha conhecimento de "ceia". Bastava-me o pão nosso de cada dia (arroz, feijão...)

Ali da minha janela, vi um cometa que riscou o céu. Certamente a me mostrar que Jesus nasceu no meu sertão, na mesma capela de outrora, longe dos holofotes. Ele é a própria luz. Lágrimas rolaram em minha face. Eu vivi o verdadeiro sentido do Natal.


Conto escrito por
Maria Eunice

CAL - Comissão de Autores Literários Agnes Izumi Nagashima Eliane Rodrigues
Francisco Caetano
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO



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