Antologia O Mal que nos Habita - 1x01: A Maldição de Koyaanisqatsi - WebTV - Compartilhar leitura está em nosso DNA

O que Procura?

HOT 3!

Antologia O Mal que nos Habita - 1x01: A Maldição de Koyaanisqatsi

Conto de Yuki Ehms
Compartilhe:







Sinopse: Um demônio perturba um homem e ele precisará amaldiçoar alguém para se livrar dele.


A Maldição de Koyaanisqatsi
de Yuki Ehms


Antes do plano existir, um ser nefando nasceu. Só havia ele e o grande Sonhador, mas logo proveio o Material e Tempo. Sonhador confiscou seus domínios e os aprisionou no virtual. Por lá permaneceram por muitos milhões de milênios, até que os humanos nasceram. Seus pensamentos permitiam que entendessem o universo, mas dava força aos presos no virtual. Conforme a humanidade crescia, os seres restituíam-se, permitindo que se manifestassem em nosso plano.

Mas essa era a religião da minha mãe. Nunca me convenci de suas crenças, até porque meu pai (ateu) sempre foi muito mais convincente do que ela no assunto. Mas, nos últimos anos de minha vida, muitas coisas aconteceram que me fizeram crer nesta história. Comecemos pelo início.

Era uma noite normal, como qualquer outra. Fui ao meu quarto e dormi. Praticava o sonho lúcido desde novo e, por isso, não tive problemas em tê-lo. Fui imaginando coisas, mas não conseguia controlar tudo, uns objetos apareciam sem minha vontade, me encurralaram, até me cercarem num asfixiante corredor infinito e um ser apareceu. Ele me seguia, sua presença inspirava terror.

Doía, ele me alcançava e doía, permaneci correndo por um confuso período tentando acordar, mas, mesmo com a dor e desespero... mesmo com aquele terror, meu sono era infindável.

Minha vontade foi tamanha que pude sentir-me deitado e, em seguida, senti meus olhos. Apesar da péssima experiência, minhas pálpebras não queriam abrir e eu sentia um sono que só poderia ser descrito como artificial não era meu.

Lutei contra a vontade de dormir e abri os olhos. Deus... eu estava acordado no meu quarto, eu sei disso, não sou maluco e nem mentiroso, mas o que eu vi deveria ser impossível. Eram várias linhas transparentes que ligavam várias partes de meu corpo até a mão de uma figura que estava na janela de meu quarto numa pose como se estivesse me sugando. Estava me pondo para dormir, dopando-me!

No início fiquei sem reação, mas reuni forças para transformar o medo em raiva e, quando tive segurança para desferir um soco, ele fugiu para fora de minha janela. Mas o que foi isso? Pesquisei na internet, falei com conhecidos formados e entusiastas de psicologia, mas nada. Não tinha explicação: os sonhos lúcidos ocorrem quando estamos no REM, um período em que temos total e absoluto controle sobre o sonho. Além disso, uma alucinação após acordar? Nunca tive qualquer problema mental e minha família não possui histórico de loucura. Por precaução, visitei os hospitais, fiz várias consultas em diferentes médicos e nada.

Tentei, portanto, esquecer disso, voltar para minha vida. No entanto, havia noites em que eu sentia a sua presença e sabia que, se eu dormisse, ele viria me pegar. Comecei a dormir quase que exclusivamente de dia, mas a constante sensação de espreita nunca me abandonou.

Foi então que um conhecido meu recomendou vários centros espíritas, da umbanda, de tudo que existe, mas por mais que fossem bem-intencionados, não conseguiam me ajudar. Conforme o tempo passava, me sentia menos vivo. Pela falta de energia, minha postura se tornou curva e minha respiração lenta, minhas aspirações bocais tinham o som de uma ventania. Óbvio que fui ao hospital, mas os médicos não conseguiam me ver... Para eles minha postura estava reta e o único problema que eu tinha era de coração. Também fui a um psicólogo e hipnoterapeuta, mas não me entendiam – era como se o assunto fosse bloqueado em suas mentes e não houvesse problema algum.

Trabalho, consultas no cardiologista e pesquisas nas bibliotecas da cidade, assim era o meu dia. Perambulando no centro do Rio, foi na Biblioteca Nacional que encontrei um livro sobre o assunto. Se chamava Koyaanisqatsi. O primeiro conto do livro foi justamente de um sujeito relatando o exato mesmo sonho que tive e a sua constante sensação de aperto no coração e paranoia. O conto acaba com ele relatando que algo está invadindo sua casa, penetrando seu quarto pelas sombras. O leitor é levado a crer que ele morreu. É besteira, mas me obcequei pelo livro, suas crônicas eram tão vivas e seu ritmo constante e paranoico empunhavam um ar de perigo invisível que, combinado com a narrativa em primeira pessoa, penetrava em minha mente.

Eu não podia parar de ler, pois os relatos eram realistas e imersivos ao ponto que perdi a noção de tempo e me desliguei da realidade. Mas o transe hipnótico do livro acabou em seu último capítulo que continha somente essa frase ´´ preciso de um novo escritor ``. Bitolado, interroguei a bibliotecária sobre o livro. Ela me contou que a continuação estava no Real Gabinete Português de Leitura. § Chegando lá, me dirigi avidamente à bibliotecária.

Como faço para ler a continuação de Koyaanisqatsi?

Ela checou no sistema se tinha o livro e então olhou-me nos olhos com tamanha imposição de perigo que me assustei.

O que há na escuridão que a evolução favoreceu aqueles que a ignoram?

Perdão? O que você quis dizer com isso?

Ela deu um riso maquiavélico e respondeu-me.

O que eu quis dizer com o quê?

Com esse papo de escuridão.

Escuridão? Senhor, eu apenas disse que para ler o livro é necessário passar por um teste de confiabilidade, pois é um livro antigo e precioso de nossa casa. Está tudo bem?

Não. Você não disse isso. Você está mentindo.

Só me lembro de ser expulso do local pelos seguranças. Pelo jeito, não me deixariam entrar lá novamente.

Pesquisei sobre o livro na internet: muitas poucas informações, mas ao menos consegui encomendar a entrega da primeira edição. Enquanto ela não chegava, recebi uma inesperada, porém bem-vinda, surpresa – o site de onde comprei o livro, havia dado meu contato ao suposto escritor e ele teria me chamado pelo e-mail! Fanaticamente, elogiei sua obra e combinamos de nos encontrar na mesma semana. Eu estava satisfeito, entretanto, tendo em vista o livro que li e a situação que me encontrava, decidi não adormecer.

Passada a madrugada, me dirigi ao hospital onde teria minha segunda consulta no cardiologista. Avistei o doutor de longe e chamei-o, entretanto, ele não me ouviu, mas um velho morador de rua que eu alimentava de vez em quando o fez e me chamou.

Sinhô, o sinhô sabe que tenho muito apreço pelo sinhô, não sabe?

Sim, claro que sei.

Então faça o favor de não confiar nesse homem.

Ora! E por qual motivo eu não deveria confiar nele? É meu médico afinal!

Sinhô, antigamente ele dava caridade pra um colega meu. Todos os dias ele dava comida, e não era das baratas: eram todas gostosas e caras, do tipo que é raro gente como eu comer. Meu amigo comia bem ao ponto de engordar, mas conforme o tempo passava, seu cabelo caía e tinha dores de cabeça. Não suspeitávamos que fosse a comida, então ele contou ao doutor e este disse que era sintoma de estresse.

Estou ouvindo.

Sinhô, teve uma noite que um voluntario do abrigo me acordou desesperado: meu amigo estava morto.

Deus...

Sim, o voluntario levou ele ao hospital da ONG e deram a causa da morte que até hoje não esqueço: falta de vitamina A. Sou miserável sinhô, mas sei que vitamina é fácil de conseguir nos alimentos. O seu doutor deu somente comida sem vitamina A de proposito pro meu amigo!

Ele chorava, e eu estava muito confuso. Será que deveria acreditar no desordenado mendigo ou confiar em meu cardiologista? No fim das contas, me deixei levar pelo preconceito. Entrei no hospital sem que o menos afortunado me visse (não queria ferir seus sentimentos), passei pelos corredores brancos e fui atendido.

Bom dia, como vai o coração?

Anda doendo um pouco, principalmente depois de ouvir uma história de terror.

Você gosta de histórias de terror é? disse com aquele típico tom profissional e artificialmente amigável dos médicos com o seu problema, eu não te recomendaria assistir histórias de terror.

Você tem razão, que ideia a minha!

Ele acessou minha ficha pelo computador e a sala ganhou um ar terrível.

Pois bem, tenho duas notícias para te dar: uma ruim e outra pior ainda – meu coração disparava.

Coloquei minha mão em meu peito enquanto pedi que desse as notícias.

Te contarei a ruim primeiro: você tem apenas 24 horas de vida.

Tentei falar algo, mas fiquei com falta de ar.

A outra notícia é que eu deveria ter contado isso há 24 horas atrás.

Tive um ataque cardíaco e morri, não minto, realmente morri. Não conseguia controlar e nem sentir meu corpo.

Agora que estás morto, tenho o prazer de te contar que menti: tu não morrerias agora. Sabia que tinha um problema de pressão alta relacionada ao estresse e por isso te levei ao pico emocional. Não precisava ter morrido, imbecil.

Vi o maldito me colocar numa cama de UTI como se eu ainda estivesse vivo e por lá fiquei durante três dias até ser notado por uma enfermeira.

Recebi um funeral relativamente decente.

No entediante estado mórbido, xinguei muitas pessoas e tentei falar com Deus, mas ouvi uma outra entidade.

Aceite o meu acordo e se livrará da maldição.

Então isto é uma maldição?

Sim, eu mesmo te amaldiçoei. Sou aquele que apareceu em seu sonho, e sou aquele que te matou. Meu trabalho é perseguir aqueles que sabem de minha existência.

Não consegui reagir.

Escute-me bem, pois te ofereço um acordo. Você me ajudará a causar o mal e te livrarei da atual situação.

Qual é a sua proposta?

Te dou uma vida nova e tu escreverá um conto relatando sua história comigo. Sua vida será livre de azar, mas sua consciência poderá pesar, pois todos que lerem seu conto saberão que eu existo, sendo amaldiçoados por mim. Qual será sua escolha?

Me desculpe, dada a atual situação você já deve saber o que fiz. Você, caro leitor, foi amaldiçoado.

Conto escrito por
Yuki Ehms

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Eliane Rodrigues
Francisco Caetano 
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO

""

Copyright 
© 2021 - WebTV
www.redewtv.com
Todos os direitos reservados
Proibida a cópia ou a reprodução




Compartilhe:

Antologia

Antologia O Mal que nos Habita

Episódios da Antologia O Mal que nos Habita

No Ar

Comentários:

0 comentários: