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Antologia Romance à Vista: 1x10 - Uma Canção de Amor

Conto de Edgar Henrique
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Sinopse: Peter era músico, Marcel, um jogador. Ambos viviam em mundos completamente diferentes, em polos bem definidos e separados, porém, uma visita de Marcel à sala de música em um dia comum podia mudar os conceitos de Peter sobre o que ele pensava acerca dos jogadores de futebol.  


Uma  Canção de Amor
de Edgar Henrique

 

 Havia comoção no corredor, como costumava haver sempre que as garotas se reuniam em volta dos jogadores do time de futebol do colégio. Dependendo do horário do dia, os gritos iam de chatos a insuportáveis, e Peter não entendia como alguém podia ter tanta voz para gritar, pois ele não conseguia se imaginar fazendo tal coisa.

 Os jogadores sempre ganhavam aquela glória, o palco, mesmo que fosse ele o artista ali, ao menos era quem fazia parte do clube musical do colégio. Chamar-se de artista podia ser um pouco arrogante, afinal de contas não era tão bom assim, tocava fazia apenas alguns anos, mas certamente não recebia a atenção que o garoto mais distante recebia.

 Tinham a mesma idade, estudavam na mesma turma, ainda assim a simples atividade distinta era o que os tornava tão diferentes aos olhos das garotas, não que Peter estivesse atrás de ser cercado por gritos e histeria onde quer que fosse.

 Tocava violão, sim, mas não tinha grandes sonhos como aquele. Pensava apenas um pouco no futuro artístico, nada como subir em palcos e ver uma multidão cantando com ele, principalmente porque o canto não era uma de suas qualidades.

– Ei, vamos tocar uma juntos? – olhando para o garoto, arqueando a sobrancelha diante da frase obviamente maldosa, ele esperou que Cain se mancasse. – Uma música, bobo.

– E o que quer tocar?

– Uma música de amor da minha banda favorita. – tinha uma noção da banda, dividiam aquele gosto, e aprender músicas da banda que se mais gostava era básico, algo que todo mundo aprendendo a tocar algum instrumento buscava.

– Eu odeio músicas de amor. – revelou o que não sabia se o amigo, se podia chamá-lo daquela forma, sabia.

– Por quê? – a expressão confusa não era novidade, na verdade, era bastante comum que dissesse não gostar de músicas do gênero e receber o exato olhar que Cain o dava, de incredulidade, como se houvesse dito um sacrilégio. – Eu amo músicas de amor.

– São melosas e apelativas, como se o amor fosse tão ideológico assim. – ele respondeu.

– Acho que você está desiludido, precisando de alguém. – o garoto provocou, mas ele duvidava que conhecer alguém poderia mudar sua opinião.

– Estou ocupado demais pra isso. – respondendo, Peter se colocou a andar, colocando a alça do violão sobre o ombro, deixando o outro para trás.

– Ei, espera aí. E nossa música? – Cain perguntou, mas não parou, esperando que o mesmo o seguisse para a sala.

 A música com Cain teria que esperar, pois Peter já tinha algo que queria fazer sozinho e não podia adiar muito. A falta de isolamento acústico na casa o fazia ter que ficar mais tempo no colégio, daquela forma podia tocar sem problema nenhum, sem se preocupar em incomodar os outros ou ser incomodado.

 Cada um tirava algo diferente da música, e o que ele tirava era uma companhia para as horas que se sentia sozinho. Cain estava errado, Peter não precisava de músicas de amor, precisava das tristes, pois eram as que mais se encaixavam com ele dependendo do que sentia no dia.

 Tocar o relaxava, fazia com que se sentisse equilibrado e em paz, às vezes dava significado ao mundo, então normalmente ficava na solidão e privacidade da sala de música, podendo desfrutar de sua própria presença e do violão.

 Praticar com Cain uma suposta música que o garoto gostava incluía ter que aprender as partições da música, aquilo levava tempo, especialmente se não fosse uma letra necessariamente fácil.

 Estranhando a sala aberta, ele entrou.

 Peter não deu muitos passos, parando logo que percebeu um estranho no local. A sala não costumava ficava aberta durante aquele horário já que a segurança dizia que havia risco de serem roubados, mas de alguma forma alguém conseguira entrar.

 O garoto estava de costas, mas ele pôde reconhecer quem mexia na guitarra, o cabelo castanho e a alta estatura tornavam relativamente fácil, além da roupa de futebol e o número logo atrás.

– O que faz aqui? – confuso sobre a presença do outro garoto, ele perguntou recebendo a atenção do mesmo. – Essa é a sala de música.

– Acho que sei onde estou. – Marcel respondeu tranquilo, deixando o instrumento.

– Então já pode ir embora. – querendo paz, sendo o motivo pelo qual havia ido até ali, ele o expulsou. – O campo fica bem longe daqui.

– É sempre rude assim com as visitas? – o garoto perguntou, começando a se aproximar. – Ou vai dizer que sou especial? – o sorriso o fez revirar os olhos.

– É convencido, isso sim. – teria ameaçado bater no outro com o violão, mas o instrumento era precioso demais para aquilo. – Não deveria estar jogando bola ou fazendo sei lá o que os atletas fazem?

– Você por acaso fica tocando seu violão o dia todo? – Marcel rebateu.

– Por que acho que está sendo maldoso? – não achava que era impressão, e o sorriso, agora debochado, o provou aquilo.

– Do que acha que estou falando?

– Se já terminou, tenho certeza que alguém sente sua falta em algum lugar. – não o respondendo, mudando de assunto, voltou a expulsá-lo.

– Como sabe que não estou aqui para ter aulas de música? – ele estranhou a pergunta, e muito, mas preferiu dar uma chance ao olhar mais sério que viu na cara do garoto, ainda que bastante cético sobre aquela possibilidade.

– Escuta aqui, tocar um violão, ou qualquer outro instrumento, não é tão fácil como as pessoas acham.

– Ah, não?

– Não. – ele respondeu levemente irritado pelo descaso do outro garoto. – Você primeiro precisa de treino, de um professor para te ensinar e bastante tempo e dedicação. As pessoas acham que é só chegar aqui e vão aprender tudo magicamente, mas não é assim. – Marcel começou a olhar em volta, procurando alguma coisa, e ele ficou curioso para saber o quê. – O que está caçando?

 Sem ser respondido, o garoto apenas andou até uma prateleira com alguns equipamentos, ficando de modo que não pôde ver o que o mesmo fazia. Quando enfim Marcel se virou, um triângulo estava na mão dele, o qual o convidado indesejado tocou.

– Pareceu fácil pra mim.

– Muito engraçado. – sem humor, ele abriu um sorriso. – Agora pode ir. – Marcel começou a andar, vindo em sua direção, e ficou esperando para saber o que o mesmo faria.

– É muito irritadiço, Peter – Marcel não parou o avançar, o que o fez se perguntar o quão mais próximo o garoto pretendia chegar –, mas é isso que mais gosto em você. – processando aquele comentário, a boca foi atacada. Seus lábios foram tomados por outros, e surpreendido por um beijo, ficou sem reação enquanto sentia um gosto de menta vindo da boca de Marcel.

– O que você fez? – chocado, ele levou a mão livre aos lábios assim que se afastou.

 Marcel não o respondeu, independente de estar esperando uma ótima justificativa para o que acabara de acontecer, para o beijo roubado, o garoto apenas o deu as costas, seguindo na direção da porta.

– Já que eu vim te visitar dessa vez, espero que vá me fazer uma visita no campo também. – antes de sair, Marcel parou na porta, olhando para dentro mais uma vez com um sorriso que fez com que Peter ficasse levemente bobo. Não era como o sorriso convencido, era... Ele arriscaria alegre. – Te vejo por aí, Peter.

 Foram as últimas palavras antes de Marcel sair, deixando Peter com o violão em uma mão, os lábios sendo tocados pela outra e o coração batendo estranhamente rápido.

 Ele havia pensado em não comparecer ao evento do colégio, contudo, a ideia de ficar sozinho na sala de música não o agradava mais, não depois da visita inesperada, não depois de ser deixado tão confuso por Marcel, quem simplesmente o beijara e saíra.

 Peter ainda estava tentando entender tudo que ocorrera, como ocorrera.

 Primeiro entrara na sala de música, acreditando que estaria sozinho, e então fora surpreendido pela presença de Marcel, para, no fim, ter os lábios roubados em um beijo.

 Era loucura.

 Também era seu primeiro beijo.

 O que Marcel tinha na cabeça ele não era capaz de dizer, mas acreditou que comparecer ao jogo o daria algum tipo de luz de esperança, alguma resposta, então assim fez.

 O colégio estava enfrentando outro pelo título, e pegando um lugar no canto da arquibancada pela falta de espaço, estava perto demais do campo, mas era o que tinha.

 Procurando Marcel, achou a camisa dele, sabendo por acaso que pertencia ao mesmo. Não entendia de futebol, sua área era outra, mas o garoto era um atacante, e corria no momento com a bola.

 Um gol foi feito, e ele sorriu.

 Sendo achado por Marcel, ou assim pareceu já que o garoto olhou em sua direção e sorriu, ele tentou conter as próprias reações.

  O jogo continuou, a partida ficou mais difícil já que nenhum dos times marcou pontos por um bom tempo. Acabara, sem entender muito bem por que, por ficar empolgado com o jogo, o que devia ser um sinal de que estava louco ou similar já que há não muito tempo não ligava para os jogadores, mal gostava deles.

 Talvez o beijo o houvesse causado algum dano que não sabia, mas já fazia efeito.

 Precisava tirar aquilo a limpo ainda, não importava o quão estranhamente empolgante e nervoso ao mesmo tempo podia ser assistir o Marcel – e os outros, claro – jogarem.

 Quando o jogo acabou, anunciando a vitória do time da casa, a arquibancada foi à loucura, empolgada pela conquista.

 Marcel saiu do campo, enquanto os amigos dele comemoravam e os adversários lamentavam, vindo em sua direção. Ajeitando-se, tentando não parecer nervoso por qualquer motivo, pois ainda tinha que tirar algumas dúvidas, ele esperou o aproximar do outro.

– Sabia que te beijar me traria sorte. – a frase o preocupou para a possibilidade de alguém ouvir, mas aparentemente ninguém parecia estar prestando atenção, ocupados demais com a própria comemoração.

– Foi por isso que me beijou? – em um misto de irritação e vergonha por ouvir a explicação, Peter perguntou.

 Não precisara se dar ao trabalho de perguntar, recebera a resposta antecipado:

– Te beijei porque te acho fofo, mas esperava que me trouxesse sorte também. – a confissão em público novamente o preocupou, daquela vez o deixando vermelho. – Ei, já que ganhei, não acha que mereço um prêmio? – havia uma sugestividade naquela pergunta, mas o empurrou de leve.

– Eu não te acertar por me beijar sem permissão vai ser seu prêmio. – ele respondeu, e o sorriso no rosto do outro quase o fez reconsiderar. Peter olhou para o lado, evitando o contato visual para continuar. – Parabéns.

– Obrigado. – dando uma bisbilhotada, viu que o garoto se aproximava, então se afastou um passo. – Sério? Nem um beijinho? – Marcel indicou a bochecha.

– Eu vou voltar pra sala de música. – dando às costas, ele se pôs a andar. Não sabia por que se dera ao trabalho de avisar, mas deixara o violão no local e precisava pegar.

– Estou ansioso para minha próxima visita. – o elevar de voz o fez abaixar a cabeça, procurando um canto para escondê-la.

 Por duas vezes no mesmo dia, Marcel fora capaz de fazer seu coração bater rápido, ainda que usando de ações diferentes para realizar aquilo.


Conto escrito por
Edgar Henrique

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Eliane Rodrigues
Francisco Caetano 
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO

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