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Garotas do Rio - Capítulo 03

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CAPÍTULO 03
 
     
 
 
 

VOZ DE FÁBIA - Anteriormente em Garotas do Rio...

LAURA – Falar assim, a seco? Não rola nem um uisquezinho?

FÁBIA (gritando) – Se você não falar, eu te coloco daqui pra fora abaixo de cacete.

LAURA – Já que você tá pedindo com tanta delicadeza, eu vou ser direta: preciso de 50 mil reais.

 


PIETRO –
Eu sempre fui diversão, não é? Não passei de um corpo, de um desejo sexual seu. Um dos tantos caprichos que a dondoca de Ipanema cultivava. E quer saber a verdade? Eu fiquei com aquela garota de ontem sim. Nós nos beijamos, nós transamos. E depois da transa, ela não foi embora ou inventou uma desculpa pra sair. Ela me chamou pra jantar com ela, pra fazer companhia. Pra conversar como qualquer casal faria. Como qualquer pessoa que se importa com o sentimento da outra faria. Taí a diferença entre vocês duas.

Antônia começa a chorar. Pietro também chora.

PIETRO – Eu acho que você nunca amou ninguém. Você precisa começar a se amar pra poder estabelecer qualquer tipo de relação com alguém, Antônia.

ANTÔNIA – Você foi muito cruel nas suas palavras. E as palavras, quando ditas sem pensar, podem machucar muito, às vezes, até matar, sabia?

 


TONY –
Qual é o seu nome, moreno?

DIEGO – Me chamo Diego.

TONY – Bom, Diego, faremos um teste essa noite. Se você se sair bem o emprego é seu. Fechado?

Tony estende a mão. Diego aperta sua mão com convicção e lhe solta um sorriso.

 


Ela olha em direção a porta e vê uma fumaça preta entrar pelas frestas.

FÁBIA – Que isso?

Ela se levanta e abre a porta, quando entra muita fumaça e uma labareda enorme impede a sua passagem.

 


CENA 01. GAZETA CARIOCA. SALA DE FÁBIA. INT. DIA.

Enquanto o fogo tapa a passagem pela porta e a fumaça invade cada vez mais o local, Fábia tenta abrir as frestas da janela, mas sem sucesso. Ela bate nas paredes e tosse muito.

FÁBIA (gritando/ muita tosse) – Alguém me ajuda, por favor! Socorro!

Fábia se isola num canto da sala, visivelmente fraca e com dificuldades para respirar.

Close em seu olhar de pânico que reflete o fogo intenso.

CENA 02. HOTEL SAN MARTINI. CORREDOR. INT. DIA.

Affonso abre a porta e fica paralisado ao ver Anunciação, que sorri docemente.

ANUNCIAÇÃO – Me convida a entrar, Affonso?

Em Affonso, em choque.

CENA 03. GAZETA CARIOCA. CORREDOR. INT. DIA.

Laura vem andando com uma sacola nas mãos, quando percebe a fumaça.

SONOPLASTIA: MÚSICA DE AÇÃO.

LAURA (estranhando) – Tudo apagado e essa fumaça?

Ela continua andando até se aproximar da sala de Fábia e ver o fogo.

LAURA (desesperada) – Fábia, minha filha, você tá aí? Responde.

Ouve-se a tosse de Fábia. Laura anda de um lado para o outro, até avistar um extintor de incêndio.

CENA 04. GAZETA CARIOCA. SALA DE FÁBIA. INT. DIA.

Fábia está sentada num canto da sala, praticamente imóvel, com olhos semiabertos e respiração lenta. A fumaça e o fogo tomam conta do local.

LAURA (V.O) – Filha, aguenta firme. Eu tô aqui, vou te salvar.

Fábia tosse um pouco mais.

CORTA PARA O CORREDOR.

Laura destrava o extintor e começa a tentar apagar o fogo.

MÚSICA CESSA.

CENA 05. HOTEL SAN MARTINI. SUÍTE DE AFFONSO. INT. DIA.

Anunciação está sentada em uma poltrona. Affonso está de pé próximo a cristaleira.

AFFONSO – O que você está fazendo por aqui, Anunciação?

ANUNCIAÇÃO – Trabalho investigativo.

AFFONSO – Achei que essa parte fosse com os jornalistas da Gazeta Carioca.

ANUNCIAÇÃO – Há coisas que devemos fazer nós por nós mesmos, não é?

Affonso e Anunciação se olham tensos por um instante.

AFFONSO – Aceita uma bebida?

ANUNCIAÇÃO – Uísque.

AFFONSO – Como você quer seu uísque?

ANUNCIAÇÃO – Uísque e gelo num copo curto.

Affonso prepara dois copos de uísque. Entrega um a Anunciação e toma o outro numa golada só.

ANUNCIAÇÃO – Tá tenso?

AFFONSO – Mais de dez anos que não fico a sós com você. Não tinha como ficar normal, não é?

ANUNCIAÇÃO – Ainda mexo com você, não é?

AFFONSO – Fala de uma vez o que veio fazer aqui. Como descobriu o hotel e a suíte onde estou?

Anunciação dá uma golada no uísque, se levanta e se aproxima de Affonso.

ANUNCIAÇÃO – Eu vim por causa de você.

Os dois se olham.

 
     

 

     
   
 
CONTRA A PAREDE
     
 

CENA 06. GAZETA CARIOCA. SALA DE FÁBIA. INT. DIA.

Laura apaga o fogo e se aproxima de Fábia, que está quase sem sentidos.

FÁBIA (com dificuldade)– Laura, meu ajuda!

LAURA – Fica calma, minha filha. Não fale nada, poupe as energias. Consegui apagar o fogo. Deu tudo certo.

Nesse instante, um guarda aparece no local.

GUARDA – Vi uma fumaça de longe.

LAURA – Como é que não existem guardas nesse andar? Anda, me ajuda a tirar minha filha daqui. Ela precisa de um hospital.

O guarda pega Fábia no colo e sai. Laura vai em seguida.

CENA 07. HOTEL SAN MARTINI. SUÍTE DE AFFONSO. INT. DIA.

Anunciação se aproxima mais de Affonso. Ambos ficam cara a cara.

Sonoplastia (“Meu primeiro amor – Roberta Miranda”)

ANUNCIAÇÃO – Eu me desloquei do Rio até aqui por sua causa. Eu acho que a gente precisa conversar... Muita coisa ficou estranha desde a última vez.

AFFONSO – Eu achei que tivesse ficado claro que eu não queria mais trair a Antônia. Foi por esse motivo que me afastei, Anunciação.

Anunciação acaricia o rosto de Affonso.

ANUNCIAÇÃO – Por que a gente não deu certo? Qual o meu problema?

Affonso se afasta, ficando de costas para Anunciação.

MÚSICA CESSA.

AFFONSO – O problema sou eu. Eu sou casado.

ANUNCIAÇÃO – Mal casado. Quando te encontrei, você estava derrubado, se perguntando se valia a pena continuar num casamento daqueles. Eu te mostrei outras possibilidades, outras aventuras. Fiz coisas que ela não fez, abri minha casa e meu coração para você ficar.

AFFONSO – Eu sei que fui um canalha. Eu jamais deveria ter me envolvido com você.

ANUNCIAÇÃO – Você não entende nada de mulher mesmo. Não era e nunca será só sexo. Nem pra mim e nem pra você.

Affonso olha fixamente nos olhos de Anunciação.

AFFONSO – Não foi. Mas agora isso não tem importância mais.

ANUNCIAÇÃO (voz embargada) – Será que não?

AFFONSO – Eu amo a Antônia. Ela me ama. Não há espaço pra ninguém, nem pra você.

ANUNCIAÇAO – Suas palavras doem tanto, Affonso.

Anunciação pega sua bolsa e se encaminha em direção à porta de saída.

AFFONSO – Espero que encontre alguém que te ame de verdade.

ANUNCIAÇÃO – Eu vou estar sempre te esperando, tá?

Anunciação sai. Affonso se joga na cama, pensativo.

CENA 08. STOCK-SHOTS. RIO DE JANEIRO. EXT. DIA.

Sonoplastia (“I go to Rio – Peter Allen”).

Imagens do Corcovado, pão-de-açúcar, praia de Copacabana.

MÚSICA CESSA.

CENA 09. HOSPITAL COPA D’OR. FACHADA. EXT. DIA.

Imagem rápida da fachada com o nome do hospital.

CENA 10. HOSPITAL COPA D’OR. QUARTO. INT. DIA.

Fábia está deitada na cama, dormindo. Laura está ao celular.

LAURA (cel.) – Foi isso que aconteceu, Tony. Sorte eu ter ido levar o almoço pra ela. Depois nos falamos. Beijo!

Laura desliga o celular e se senta numa poltrona ao lado de Fábia, que abre os olhos.

FÁBIA – Laura? Você tá aí?

Laura sorri e fica de pé próxima a Fábia.

LAURA (feliz) – Que bom que está bem.

FÁBIA – Obrigada por ter aparecido lá e me salvado. Se não fosse você, eu nem...

LAURA (corta) – Para de pensar maldade, filha. Você precisa descansar. Ficou muito fraca. Mas o médico disse que você tá bem.

FÁBIA – Você foi realmente uma heroína.

LAURA – Eu apenas salvei a minha filha. Depois de tantos tropeços, tantos erros, era o mínimo. Qualquer mãe faria isso por sua cria. Posso não ter sido a melhor mãe do mundo, mas... Também não me considero a pior.

Fábia sorri.

FÁBIA – Quando eu irei embora?

LAURA – Só amanhã!

FÁBIA – Eu tenho que trabalhar.

LAURA – Seu andar tá interditado. A polícia vai rever as câmeras de segurança e precisam investigar. A culpa é de alguém.

FÁBIA – Mas pode ter sido apenas problemas na fiação.

LAURA – Mesmo assim.

Nesse instante, alguém bate a porta.

Laura abre e dá de cara com Antônia.

LAURA – Mas você não é a atriz de filmes?

ANTÔNIA – Sou sim. E a senhora quem é?

LAURA (estendendo a mão) – Sou Laura Bueno, mãe da Fábia.

Antônia olha assustada para Fábia, disfarça a surpresa e cumprimenta Laura.

LAURA – Eu tô de saída. Primeiro dia de trabalho. Volto após o expediente. Qualquer coisa me liga, filha.

Laura dá um beijo na testa de Fábia e sorri para Antônia.

LAURA (a Antônia) – Sou muito sua fã. Feliz em saber que é amiga da Fábia. Com licença!

Laura sai. Antônia olha incrédula para Fábia.

FÁBIA – É eu tenho mãe.

ANTÔNIA – Aquele dia no bar, você disse que era órfã, não é?

FÁBIA – É uma longa estória. Qualquer dia eu conto pra você.

ANTÔNIA – Mas como você tá? Menina, fiquei assustada com o que aconteceu.

FÁBIA – Eu tô bem. A minha mãe, quer dizer, a Laura, me ajudou.

ANTÔNIA – Fico feliz!

Antônia se senta numa poltrona e fica com um olhar triste.

FÁBIA – Você não parece estar tão feliz. Aconteceu algo?

ANTÔNIA – Depois te conto. É uma longa história.

FÁBIA – É, acho que estamos cheias de longas histórias.

ANTÔNIA – E pelo visto, não são nada saborosas.

As duas riem.

CENA 11. HOTEL SAN MARTINI. SUÍTE DE ANUNCIAÇÃO. INT. DIA.

Anunciação está com a maquiagem borrada e colocando algumas roupas na mala, quando seu celular toca. Ela atende.

ANUNCIAÇÃO (cel.) – Oi, Mimi.

MIMI (V.O) – Tenho más notícias.

ANUNCIAÇÃO (cel.) – Eu vi que a Antônia descontou o cheque de cem mil reais. Paciência!

MIMI (V.O) – Não é isso. Acho que você não vai gostar nada de saber que a Gazeta pegou fogo.

ANUNCIAÇÃO (cel./ assustada) – Fogo? Como assim? Eu mandei você cuidar de tudo.

MIMI (V.O) – Mas é que...

ANUNCIAÇÃO (cel./ corta) – Cala a boca, sua imbecil. Eu tô voltando no primeiro voo.

Anunciação desliga o celular e o joga com força sobre a cama.

ANUNCIAÇÃO – Perco cem mil reais, sou dispensada pelo Affonso e incendeiam o meu jornal. Tá pra nascer alguém com mais sorte no azar do que eu.

CENA 12. STPCK-SHOTS. MORRO DO VIDIGAL. EXT. DIA.

SONOPLASTIA: A CULTURA – SABOTAGE.

Imagens da linda vista do Morro do Vidigal, contrastando com os barracos, as vielas, pessoas andando pelo local, camelôs, botecos animados, motoboys subindo e descendo, crianças correndo, brincando, evangélicas orando em uma igreja. Take final na ONG.

MÚSICA CESSA.

CENA 13. ONG FILHOS DA ARTE. SALA. INT. DIA.

Uma sala ampla, porém vazia. Donna entra, seguida por Marcela.

DONNA – Essa será sua sala para as aulas de literatura.

Marcela olha tudo ao redor e sorri.

DONNA – Gostou?

MARCELA – Amei!

DONNA – Vai poder ministrar suas aulas aqui.

MARCELA – Nada de aulas. É cultura, é educação informal. É trazer fantasia e realidade através das letras. Eu mal vejo a hora dessa sala estar cheia de livros, cheia de vida. Quando a Antônia me disse que disponibilizaria uma sala, não achei que fosse tão rápido.

DONNA – A Antônia ama esse lugar, ama o trabalho que é realizado aqui. Ela viu em você algo pra somar. A comunidade é carente do hábito da leitura. Apesar do Vidigal respirar arte, ainda é tudo muito restrito.

MARCELA – A literatura em si é muito restrita aos hábitos dos brasileiros. Preferem um filme. É mais rápido, cansa menos. Não que o cinema seja pormenor, longe disso. Mas o provo necessita saciar sua sede em outras fontes. Conhecer o mistério das letras.

DONNA – Só de olhar, a gente já vê que você ama o que faz.

MARCELA – E amo mesmo! Mas... Cadê a Antônia?

DONNA – Ela disse que tentou te ligar, mas deu caixa de mensagem.

MARCELA – Meu celular descarregou e eu o deixei na casa do meu namorado.

DONNA – Então. Ela tá no Copa D’Or com uma amiga. Dizem que sofreu um acidente, algo do tipo.

MARCELA – Que horror. Foi acidente de carro?

DONNA – Incêndio que teve na redação do Gazeta Carioca, tá sabendo não?

Marcela fica tensa.

MARCELA – É lá que a Fábia trabalha.

DONNA – Foi essa menina mesmo. Ela que está internada.

MARCELA – Eu preciso vê-la... Com licença!

Marcela sai em disparada.

CENA 14. COPABAR. SALÃO. INT. DIA.

Laura e Diego estão arrumando algumas mesas, quando Lu se aproxima.

LU – Estão precisando de ajuda?

LAURA – Não.

LU – Hoje vai ter uma recepção importante aqui. O salão deve ficar lotado.

LAURA – Bom!

Lu se afasta, mas logo depois, meio sem jeito, se aproxima.

LU – Eu fiquei sabendo o que aconteceu com a Fábia, mas o Tony achou melhor eu espera-la voltar pra casa, para ir visitar.

LAURA (a Diego) – Busca umas toalhas no almoxarifado, por favor?!

DIEGO (se afastando) – Mas é claro.

Diego se afasta. Laura olha para os lados e percebe que não há ninguém. Ela se aproxima de Lu.

LAURA – Eu estava com o celular da minha filha quando você ligou e recusei a ligação.

LU – Ela estava sedada?

LAURA – Eu não acho legal essa amizade de vocês duas. Isso faz mal a Fábia, entende?

LU – Eu não estou entendendo.

LAURA – Não se faça de idiota, garota. Estamos tendo uma conversa bem franca. Eu não estou disposta a ver a minha filha se afundar num antro de perdição.

LU – A senhora não tem esse direito.

LAURA – Isso é só um aviso. E eu não costumo repetir avisos. Se liga.

Laura volta a arrumar a mesa, enquanto Lu permanece imóvel.

CENA 15. COPABAR. ROUPARIA. INT. DIA.

Diego está recolhendo algumas toalhas de mesa, quando é surpreendido por Tony.

DIEGO – Oi, seu Tony.

TONY – Já disse, pode me chamar só de Tony, tá bem?

DIEGO – Claro! Desculpa.

TONY – Não há no que pedir desculpa.

Tony se aproxima de Diego e acaricia seu rosto. Diego fica visivelmente constrangido.

TONY – Não seja tímido. Não mordo. Você é muito bonito pra estar servindo esses burgueses. Deveria estar desfilando pelas passarelas do mundo.

DIEGO – Não gosto dessa coisa de modelo.

TONY – Tudo bem. A gente mal conversou sobre você e sobre mim. Depois do expediente, será que posso te levar em casa?

DIEGO – Eu acho melhor não. É longe e perigoso.

TONY – Meu carro é blindado e tem rastreador. É uma forma da gente reforçar nossos laços, não acha?

DIEGO – Como o senhor, quer dizer... Como você quiser. Agora preciso terminar de ajudar a Laura a arrumar aquelas mesas. Com licença!

Diego sai. Tony se recosta numa parede e se abana.

CENA 16. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. NOITE.

SONOPLASTIA: How Deep Is your Love – Calvin Harris & Disciples.

Takes de pessoas correndo pela orla iluminada. Bares agitados com jovens, muito riso.

MÚSICA CESSA.

CENA 17. HOSPITAL COPA D’OR. QUARTO. INT. NOITE.

Fábia está deitada. Antônia e Marcela estão de pé próximas a cama. Elas riem.

ANTÔNIA (olhando pro relógio) – Meu Deus, perdi a noção da hora.

FÁBIA – As três quando se encontram dá nisso.

ANTÔNIA – Preciso realmente ir. Mas amanhã eu passo pela sua casa, Fábia.

MARCELA – Por que não marcamos um chá na casa da Fábia amanhã? Só nós três. Assim a gente conversa sobre tudo.

FÁBIA – Acho uma excelente ideia.

ANTÔNIA – Combinado! Bom, eu vou indo. Marcela, você vai comigo?

MARCELA – Vou ficar mais um pouco com a Fábia. Meu carro tá no estacionamento.

ANTÔNIA – Então tá bem... Beijo, meninas.

Antônia sai.

FÁBIA – Marcela, se quiser, pode ir. Não quero te atrapalhar. Às vezes você tem algum compromisso.

MARCELA – De forma alguma. Meu único compromisso era estar hoje na ONG. Conhecer minha sala. Tem que ver... Tá a coisa mais linda.

Fábia sorri.

CENA 18. AP. DE PATRICK. SALA. INT. NOITE.

Patrick está decorando uma mesa com velas, taças e talheres. Das Dores entra, vinda da rua.

DAS DORES – Mas que superprodução é essa?

PATRICK – Resolvi fazer uma surpresa pra Marcela. O que achou?

Das Dores fica séria.

DAS DORES – Alguma data especial que ela provavelmente esqueceu?

PATRICK – Ainda não, mas será bem em breve.

DAS DORES – E posso saber do que se trata?

PATRICK – Vou pedir a mão dela em casamento. A gente já namora a tanto tempo.

DAS DORES – Tem certeza que vale a pena? Não acha muito cedo pra essas coisas?

PATRICK – E esperar mais o que, Das Dores? Eu tô firmado no Flamengo com um bom salário, ela é professora universitária. Somos maduros. Não vejo mal algum.

DAS DORES – Então, eu vou dar licença ao casal romântico. Vou pegar uma baladinha lá no Baixo Gávea. Deixa eu me arrumar.

Das Dores sai e Patrick volta a organizar a mesa.

CENA 19. AP. DE PIETRO. SALA. INT. NOITE.

Pietro está deitado no sofá assistindo TV, quando a campainha toca. Ele levanta e atende.

PIETRO (surpreso) – Você?

Mimi entra chorosa.

MIMI – Desculpa vir sem te avisar, mas estou com a cabeça a mil. Precisava de um carinho.

Pietro fecha a porta.

MIMI – Você tem cliente hoje?

PIETRO – Não. Eu tinha tirado a noite pra descansar.

MIMI – Posso dormir aqui hoje? Eu vou pagar!

PIETRO – É claro!

Pietro a abraça e os dois se beijam.

CENA 20. STOCK-SHOT. EXT. NOITE.

SONOPLASTIA: O MEU LUGAR – ARLINDO CRUZ

Takes pontuados do subúrbio carioca. Ônibus lotados parando nos pontos. Trens circulando pelas linhas. Pessoas embarcando e desembarcando nas estações. CAM circula pela estação até focar no letreiro: “ESTAÇÃO DEL CASTILHO”.

MÚSICA CESSA.

CENA 21. DEL CASTILHO. BAR. CALÇADA. NOITE.

CAM mostra um bar de esquina entre duas ruas. Numa mesa, alguns rapazes tocam pagode, enquanto algumas moças sambam. Garçons passam pelo local com bandejas cheias de garrafas de cerveja. Muito movimento por ali. Mesas espalhadas pelo local.

Uma camionete preta para bem em frente ao bar.

CORTA PARA: INTERIOR DA CAMIONETE.

Tony está no banco do motorista e Diego no banco do carona.

TONY – Mas é quase uma viagem até aqui. Nas minhas próximas férias não vou querer ir pra nordeste nenhum, vou pegar um transporte coletivo e vir pra cá. O gasto de tempo é o mesmo.

Tony ri.

DIEGO – Eu disse que não precisava se incomodar. Eu pegava uma perua e vinha de boa.

TONY – Mas não foi incômodo nenhum, querido. Gosto de servir a quem me serve bem.

DIEGO – Eu moro nos fundos desse bar. É só um quarto e banheiro. Coisa simples. É o que dá pra pagar.

TONY – Não fica com medo de te roubarem? Roubar suas coisas, sei lá.

DIEGO – E vão roubar o quê? Eu não tenho nada. Sou um pobre fodido na vida.

Tony o olha com ternura.

TONY – Você é um menino bom. Acho que a vida já te castigou demais, moço bonito.

DIEGO – A vida me deu um emprego e um canto pra morar. Tá bom demais. Tem tanta gente que nem isso tem. Não concorda?

TONY – Você merece mais e vai ter mais.

Tony dá um selinho no canto da boca de Diego.

SONOPLASTIA: ALWAYS – BON JOVI.

Eles se olham por um tempo.

DIEGO – Preciso ir! Obrigado pela carona, Tony.

Diego sai apressado do carro. Tony se olha pelo espelho retrovisor e sorri.

MÚSICA CESSA.

CENA 22. COPABAR. SALÃO. INT. NOITE.

Local vazio. Cadeiras por cima das mesas. Lu está próxima a porta quando Laura se aproxima.

LU – Vamos? Só estou esperando você para fechar.

LAURA – Só eu o escambal. Tem o Diego e o Tony.

LU – Tony saiu mais cedo pra levar o Diego em casa. Ele mora longe.

LAURA – Engraçado isso. Privilégio pra uns e labuta pra outros. Porque até encerar chãozinho de quatro eu fiquei hoje.

LU – Depois você reclama com o Tony. Vamos.

LAURA (saindo) – Queria ser novinho e malhadinho. Aí o Tony me notava...

CENA 23. STOCK SHOTS. ZONA SUL. EXT. DIA.

SONOPLASTIA: A DANADA SOU EU – LUDMILLA.

Imagens das praias, do vai-e-vem de pessoas pela orla, do dia ensolarado.

MÚSICA CESSA.

CENA 24. AP. FÁBIA. QUARTO DE FÁBIA. INT. DIA.

Fábia entra no quarto acompanhada de Laura e sorri.

FÁBIA – Até que enfim. Lar doce lar.

LAURA – Agora vê se toma um bom banho pra tirar essa inhaca de hospital e relaxa.

FÁBIA – A polícia deve me procurar hoje ainda, não é?

LAURA – Acredito que sim. Agora vou até a quitanda pra comprar umas verduras pro nosso almoço.

Laura vai saindo quando Fábia segura firme em sua mão. As duas se olham.

SONOPLASTIA: A MUSA DAS MINHAS CANÇÕES – ALEXANDRE PIRES.

FÁBIA – Obrigada por ter salvado a minha vida, mãe.

Laura olha para ela e sorri, visivelmente emocionada.

LAURA – Você ouviu do que você me chamou?

FÁBIA – Chamei do que você é. Do que você vem provando ser pra mim.

LAURA – Sabe de uma coisa? Eu lembro direitinho da primeira vez que você me chamou de mãe. Foi pouco depois da sua festinha de um ano. A gente tava no parquinho e cê cismou de escorregar. Subiu as escadas e desceu numa velocidade só. Se levantou, olhou pra mim e disse: “De novo, mãe”. Pode parecer pouco, ou sem importância, mas ali eu me senti mãe de verdade. É como se o diploma de mãe fosse a primeira vez que um filho pronuncia. Soa como aconchego.

FÁBIA – Eu acho que essa primeira vez voltou, não foi?

LAURA (emocionada) – Soou diferente daquele mãe no parque. Soou mais verdadeiro.

Fábia se emociona e abraça Laura.

MÚSICA CESSA.

CENA 25. AP. PATRICK. SALA. INT. DIA.

Patrick está dormindo no sofá. CAM se afasta e percorre o ambiente, até vê a mesa intacta. Arrumada como Patrick deixou.

A campainha toca. Patrick continua dormindo. Toca mais uma vez e Das Dores vem do quarto e atende.

DAS DORES – Marcelinha, querida, entra!

Marcela entra sem nem olhar para Das Dores, que sai do apartamento.

Marcela fica um tempo olhando para Patrick, que acorda e se assusta, mas logo olha sério para ela.

MARCELA – Será que a gente pode conversar?

Patrick se levanta.

PATRICK – Velando meu sono?

MARCELA – Eu vim em missão de paz.

PATRICK – Vamos lá, tô esperando a sua desculpa da vez.

Patrick e Marcela se olham.

CENA 26. AEROPORTO TOM JOBIM. SAGUÃO. INT. DIA.

Vai e vem de pessoas pelo local. CAM dá close em Mimi. Ela vai até uma plataforma de desembarque e sorri ao avistar Anunciação.

Anunciação, muito séria, se aproxima dela.

MIMI (sorridente) – Divina, que bom que você voltou.

Anunciação dá um tapa no rosto de Mimi, que sente o impacto, põe a mão na face e olha assustada para Anunciação. Todos em volta param e olham para as duas.

ANUNCIAÇÃO – Vagabunda! Imprestável! Eu não sei que ideia louca foi a minha de te deixar aqui no comando do meu jornal.

Um paparazzi se aproxima e tira foto das duas sem que elas percebam.

CORTA RÁPIDO PARA:

CENA 27. APTO FAMÍLIA QUEIRÓS. SALA DE ESTAR. INT. DIA.

Wanessa está sentada no sofá lendo algo no tablet. Ela faz cara de chocada e coloca uma das mãos sobre a boca, que vai se abrindo cada vez mais.

WANESSA – Pelo sangue do cordeiro! Tô chocada.

Antônia vem vindo do quarto colocando um brinco na orelha.

ANTÔNIA – Chocada com o quê, mulher?

WANESSA (chamando-a com as mãos) – Vem ver isso, mulher.

Antônia se aproxima, lê e ri.

ANTÔNIA – Não acredito que a imponente Anunciação Bragança armou barraco em pleno aeroporto. Ah, mas não acredito mesmo.

WANESSA – Essa nota tá pipocando mais que tiro na Zona Norte, meu bem. Aqui diz que a Anunciação bateu na própria funcionária.

ANTÔNIA – Rende até um processinho básico, mas garanto que deve ser uma daquelas bajuladoras que ela tem.

WANESSA – É a Mimi, fiel escudeira dela.

Antônia pega o celular e olha.

ANTÔNIA – Desde ontem a tarde que o Affonso não dá sinal de vida.

WANESSA – Deve estar tudo bem com ele. Notícia ruim corre rápido. Basta olhar a nota sobre o barraco da Princesinha da Gazeta.

ANTÔNIA – Tem razão.

WANESSA – Vai pra ONG hoje?

ANTÔNIA – Só mais tarde! Agora vou passar na casa da Fábia e conversar com ela um pouco.

WANESSA (desdém) – Ih, tudo agora é essa mulherzinha! Até outro dia a chamava de vagabunda.

ANTÔNIA – Sem ciúmes, Wanessa. Ela é uma boa pessoa. A invejosa da história era a barraqueira do aeroporto aí.

Antônia joga um beijinho e sai.

CENA 28. AP. PATRICK. SALA. INT. DIA.

Patrick e Marcela estão sentados conversando.

MARCELA – E foi assim que tudo aconteceu, Patrick.

PATRICK – Custava ter me ligado? Ter enviado uma mensagem?

Marcela se levanta, vai até a janela.

MARCELA – Eu já te disse, caramba. Fiquei sem bateria. Meu celular até ficou aqui.

PATRICK – Não podia ter pegado o de alguém emprestado? Não podia ter me ligado de um telefone público ou utilizado o do hospital? Custava dar uma satisfação?

MARCELA – Custava sim. Eu não pensei nisso. A Fábia tava lá, debilitada. Correu risco de morrer queimada ou asfixiada.

PATRICK – Engraçado como o nosso namoro tá sempre em segundo plano. Perdendo até pra uma garota que você conheceu há poucos dias.

Marcela olha Patrick, que se levanta.

PATRICK – Eu preparei comida, comprei vela, fiz uma decoração especial. Perdi um dia de treino me programando. E pra quê?

MARCELA – Eu pedi desculpa já. Não precisa de tanto drama. Foi só um jantar.

PATRICK – Tá vendo como você se importa com a gente? Acha que pedir desculpas e contar uma história atropelada resolve tudo. Não era só um jantar. Era o nosso jantar. Podia não fazer sentido ainda pra você, mas teria muita coisa especial nele, tá?

MARCELA – A gente marca outro. Hoje! Sem desculpas, sem imprevistos.

PATRICK – No fundo, eu sou só um idiota que romantiza tudo. Não precisa de jantar pro que eu vou dizer.

MARCELA – Calma! Vamos almoçar juntos, então?!

PATRICK – Marcela, ou você casa comigo ou então a gente vai terminar tudo.

Close no semblante de surpresa de Marcela.

CENA 29. AP. FÁBIA. INT. SALA.

Fábia está de pé conversando com Anunciação.

FÁBIA – Senta, Anunciação! Quer um café?

ANUNCIAÇÃO – Não, querida! Só vim ver como você está. Cheguei de São Paulo e vim direto. Minhas malas estão lá embaixo no carro.

FÁBIA – Eu tô bem. Só vou te pedir pra trabalhar em casa por esses dias, pode ser?

ANUNCIAÇÃO – O jornal vai ficar fechado por uns tempos, mas vocês continuarão recebendo. Só o tempo da reforma na redação. Vai ficar tudo nos trinks.

FÁBIA – Menos mal, então!

ANUNCIAÇÃO – Se cuida e no que precisar, estarei para te servir. Agora deixa eu ir.

Fábia abre a porta.

ANUNCIAÇÃO – Tchau!

CENA 30. AP. FÁBIA. HALL. INT. DIA.

Laura vem subindo as escadas, quando vê Anunciação saindo do apartamento de Fábia. Ela rapidamente se esconde atrás de um grande vaso de plantas. Do P.V de Laura, vemos Anunciação se encontrar com Mimi que está próxima ao elevador.

Close na conversa das duas.

MIMI – E como foi lá?

ANUNCIAÇÃO – Fiz toda aquela baboseira de solidariedade, né! Culpa sua, da sua irresponsabilidade na administração. Vim mais pra me certificar que ela não iria entrar com processo contra o jornal e contra mim.

MIMI – E se saiu bem?

ANUNCIAÇÃO – Sou uma boa atriz. Aliás, boa não, ótima! Excelente! Poderia facilmente roubar qualquer papel da Antônia.

MIMI – Não sei o que você tem tanto contra ela.

ANUNCIAÇÃO – No momento em que estou, se eu a encontrasse aqui, agora na minha frente, eu diria toda a verdade sobre o passado do marido dela. Destruiria esse casamento conto de fadas dela.

O elevador se abre. Antônia faz menção em sair no mesmo instante que Anunciação faz menção em entrar. As duas se olham.

Em Mimi, surpresa. Closes alternados nas duas se olhando, tensas.  A tela junta metade da face de Antônia e Anunciação, formando um novo rosto. A imagem congela.
 
     

 

     

autor
Wesley Alcântara

elenco
SIMONE SPOLADORE como Antônia
MARIA EDUARDA DE CARVALHO como Fábia
SHERON MENEZES como Marcela
ADRIANA GARAMBONE como Anunciação
ERIBERTO LEÃO como Affonso
MATHEUS NATCHERGAELE como Tony

elenco secundário
MALU GALLI como Laura
ALICE WEGMANN como Lu
AGATHA MOREIRA como Das Dores
RÔMULO ESTRELA como Pietro
THIAGO MARTINS como Patrick
MEL LISBOA como Mimi
LUKA como Donna

músicas
Festa das Patroas - Marília Mendonça feat Maiara e Maraísa
Meu primeiro amor – Roberta Miranda
I go to Rio – Peter Allen
A cultura - Sabotage
How deep is your love – Calvin Harris & Disciples
O meu lugar - Arlindo Cruz
Always - Bon Jovi
A danada sou eu - Ludimilla
A musa das minhas canções - Alexandre Pires

produção

Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO


Copyright
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Todos os direitos reservados
Proibida a cópia ou a reprodução

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