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Urban Legend - 1x01

Série de Jota Pê
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TEASER

FADE IN:


 


 

CENA 1. RUA. EXTERIOR. NOITE.


 

Uma forte tempestade cai. Um táxi amarelo percorre o asfalto até estacionar na frente de uma modesta casa de subúrbio com dois andares, feita de madeira, da cor bege e belo jardim em sua volta. A porta do táxi se abre e uma PESSOA, inicialmente desconhecida, desce, abrindo um guarda-chuva preto. Enquanto o desconhecido adentra no terreno, mostra-se um PLANO GERAL da casa.


 

CENA 2. RESIDÊNCIA. INTERIOR. NOITE.


 

As luzes dos trovões iluminam o pequeno ambiente escuro. Uma mão feminina abre a porta e ALANA (40 anos, alta, magra, cabelos loiros soltos, vestindo um elegante sobretudo preto) entra, fechando o guarda-chuva. Ela sorri para MARCY (60 anos, cabelos ruivos amarrados num coque, vestido marrom, rosto com muitas rugas).

MARCY

(nervosa) Oh, doutora, que bom que veio. Eu estou desesperada e somente a senhora pode me ajudar.


 

Alana concorda com a cabeça e dá uma olhada pela simplória sala.


 

ALANA

Me leve até o menino.

Marcy sai e Alana a acompanha.


 

Surge o letreiro: 1967


 

FADE OUT.


 

FADE IN:


 


 

CENA 3. RESIDÊNCIA. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.


 

CÂMERA entrando em SLOW-MOTION. Ao fundo, uma janela aberta, com as cortinas voando para dentro, enquanto a tempestade ecoa lá fora.

MARCY

(V.O.) Thomas é meu único filho. Ele tem 11 anos de idade. Sempre foi um garoto exemplar. Educado, carinhoso e bondoso. Porém alguma coisa aconteceu desde a morte de meu marido, Billy. Thomas fechou-se no próprio mundo. Transformou-se em outra criança. Ele não sai do quarto e fala coisas terríveis para mim. Ele diz que seu único amigo agora é o "homem". Eu não sei quem ele é. Nunca o vi, nem sei qual seu nome, mas sei que ele existe. Meu filho fala com ele. Eu realmente preciso entender o que está acontecendo, doutora.


 

A CÂMERA aproxima-se da janela aberta e uma luz branca invade a TELA.


 

FADE IN:


 

CENA 4. RESIDÊNCIA. QUARTO DE THOMAS. INTERIOR. NOITE.


 

Marcy abre a porta e entra com Alana. As duas encontram uma pequena criatura, coberta por um lençol branco, sentada num tapete de cor bege. Ao fundo do quarto, ao lado da cama de solteiro, o abajur ligado.

MARCY

Tommy, querido, você tem visita.

ALANA

Pode ir Marcy. Eu sigo daqui, obrigada.

Marcy concorda e vai embora. Alana encosta a porta.

ALANA (CONT’D)

Thomas?

Ela aproxima-se do menino, que se move debaixo do lençol.

ALANA

Meu nome é Alana. Sou uma amiga. Estou aqui para conversar com você.

THOMAS

Sei quem você é. Você cuida de pessoas diferentes como eu.

Alana se abaixa e, delicadamente, passa a mão no lençol.

ALANA

Você não é diferente. Você é como os outros e precisa de alguém para conversar sobre o que está acontecendo. Por que não me deixa ver seu rosto?


 

Alana puxa o lençol e revela Thomas de costas, usando um pijama. O menino se vira e Alana se surpreende ao ver uma enorme cicatriz na sua bochecha.

THOMAS

É culpa da minha mãe. (dá de ombros) Eu não a culpo. Tem sido difícil desde a morte do papai. Ela sente muita falta dele.

ALANA

Eu ouvi que você tem um novo amigo agora. Um amigo de verdade.

THOMAS

Eu tenho. Eu o chamo de Slenderman. Ele é um ótimo amigo.

ALANA

E como você o conheceu?

THOMAS

Não sei. Ele simplesmente apareceu no meio da noite. É um homem muito legal. Ele vem todas as noites e prometeu que um dia eu irei fugir com ele.


 

ALANA

E eu posso conversar com ele?

THOMAS

Posso contar um segredo? (sussurra) Ele me disse que você já o conhece, porém não se lembra.


 

Alana não responde. Thomas a ignora e deita-se no tapete, observando uma folha de papel que estava ao seu lado.

ALANA

O que está desenhando?

THOMAS

É o Slenderman.

Thomas entrega a folha para ela.

INSERT:


 

Na folha, o desenho de um menino pequeno, que representa Thomas, num cenário de floresta, de mãos dadas com um homem muito alto, magro, vestido de preto e com cabeça cinza.

VOLTA À CENA.

CLOSE na reação surpresa de Alana.

ALANA

(V.O.) Encontro 1. Nome do paciente: Thomas Hewitt.


 

CENA 5. CASA DE ALANA. SALA. INTERIOR. NOITE.


 

Alana sentada em um tapete, no meio de dois sofás de couro, analisando alguns documentos. Um aparelho de som está ligado ao lado dela.


 

ALANA

11 anos. Nome da mãe: Marcy Hewitt. Nome do pai: Billy Hewitt. Billy morreu de tuberculose há 3 anos e desde então Thomas vive com a mãe num subúrbio de Los Angeles. Os problemas da família provavelmente começaram com a ausência da figura paterna. Marcy é uma mulher nervosa e estressada. Ela sabe que cuidar de Thomas é uma responsabilidade grande e parece não estar conseguindo dar conta disso. A marca no rosto do menino mostra onde Marcy desconta sua frustração. Em decorrência de todos estes traumas, Thomas criou um amigo imaginário, chamado Slenderman. O amigo imaginário é apenas uma das formas de lidar com a realidade e não está diretamente relacionado ao nível de criatividade e imaginação. É algo que precisa ser tratado, antes que afete profundamente a relação do paciente com o mundo externo.


 

Alana pega o desenho feito por Thomas e fica por alguns segundos o observando, intrigada.

CENA 6. CASA DE ALANA. SÓTÃO. INTERIOR. NOITE.


 

Alana sobe por uma curta escada de madeira. Ao fundo, uma janela de vidro redonda, por onde enxerga-se a tempestade. Alana percorre algumas prateleiras até encontrar uma caixa de papelão. Ela pega a caixa, coloca no chão e a abre, encontrando diversas fotos e papéis.

INSERT:


 

Em uma das fotos, um MENINO (nos seus 10 anos, cabelos ruivos, olhos azuis), sentado em uma classe escolar.

VOLTA À CENA.

Os olhos da mulher se enchem de lágrimas.

ALANA

Danny...


 

Junto da foto, Alana encontra uma folha de papel, já envelhecida, onde há um desenho feito à mão.

INSERT:


 

Um desenho onde a figura de uma criança está de mãos dadas com um homem alto e de cabeça cinza em uma floresta.


 

CENA 7. RESIDÊNCIA. QUARTO DE THOMAS. INTERIOR. NOITE.


 

Marcy entra com uma bandeja nas mãos, trazendo biscoitos e um copo de leite.


 

MARCY

Tommy?


 

Ela olha em torno do ambiente: a cama está desarrumada e a janela escancarada. Marcy deixa a bandeja cair no chão.

MARCY (CONT’D)

(grito) Tommy!


 

Quando vai sair do local, ela dá de cara com a sombra de um homem alto, com os braços cumpridos, oculto na escuridão. A mulher dá um berro de horror e a criatura misteriosa avança nela.


 

FADE OUT.

FIM DO TEASER

 



1x01 - BEM VINDO AO CHATEAU 


 

ATO I

FADE IN:


 


 

CENA 8. HOSPITAL PSIQUIÁTRICO ROYAL HOPE. EXTERIOR. NOITE.


 

PLANO GERAL da construção feita de pedra, cercada por um enorme jardim florido. Na frente, uma PLACA indica o nome "Royal Hope".


 

CENA 9. HOSPITAL PSIQUIÁTRICO ROYAL HOPE. INTERIOR. NOITE.


 

CÂMERA entra por um extenso corredor de piso preto e branco, por onde circulam vários médicos, enfermeiros trazendo pacientes em cadeira de rodas e outros funcionários. No fim do corredor há uma porta marrom escura de número 44.


 

CENA 10. HOSPITAL PSIQUIÁTRICO ROYAL HOPE. QUARTO 44. INTERIOR. NOITE.


 

A bela LILY (11 anos, cabelos castanho escuros, traços angelicais) dorme placidamente em uma cama de solteiro. Sentada em uma mesa retangular está ROSIE (13 anos, cabelos bem escuros, desgrenhados, rosto pálido, fortes olheiras). CLOSE no semblante melancólico de Rosie.

VOZ FEMININA

(V.O.) Por que as pacientes estão trancadas?


 

CENA 11. HOSPITAL PSIQUIÁTRICO ROYAL HOPE. INTERIOR. NOITE.


 

Duas ENFERMEIRAS (a primeira é magra, alta, negra; a segunda é mais velha, baixinha, branca, cabelos grisalhos; ambas uniformizadas) caminhando juntas.

ENFERMEIRA #2

Ninguém te contou sobre as irmãs Tate?


 

ENFERMEIRA #1

       Não.


 

ENFERMEIRA #2

São as irmãs Tate. Elas vão ficar por aqui até a justiça decidir o que fazer com elas.

ENFERMEIRA #1

E o que elas fizeram?

ENFERMEIRA #2

Você ainda vai saber de muitas coisas, mas por enquanto é melhor não falar sobre isso.

ENFERMEIRA #1

(segura o braço da outra) Não! Espera! Me fala sobre elas.


 

A enfermeira #2 encara a colega, suspira e olha para os lados.


 

ENFERMEIRA #2

Elas assassinaram o pai a facadas. 47, mais precisamente.


 

CENA 12. RESIDÊNCIA DOS TATE. QUARTO. INTERIOR. NOITE.


 

Um HOMEM (rosto não aparece) deitado de bruços em sua cama, dormindo. A porta se abre lentamente. Dois pares de pés femininos entram e, sorrateiramente, aproximam-se dos dois lados da cama.

INSERT:

Uma mão feminina ergue uma faca de cozinha.

ENFERMEIRA #2

(V.O.) Foi terrível.

VOLTA À CENA.


 

CÂMERA AÉREA revela Rosie e Lily nas costas do homem, esfaqueando-o inúmeras vezes. O sangue jorra por todo o quarto. As meninas gritam como animais selvagens.


 

CENA 13. HOSPITAL PSIQUIÁTRICO ROYAL HOPE. INTERIOR. NOITE.


 

Continuação da cena 11. As duas enfermeiras seguem conversando.


 

ENFERMEIRA #1

(horrorizada) Meu Deus... Por quê?

ENFERMEIRA #2

A mãe morreu há 2 anos. Desde então, passaram a viver com o pai. Parece que ele as abusava sexualmente. Elas simplesmente não aguentaram mais.

ENFERMEIRA #1

Isto é cruel, mas elas estão certas, não acha? Elas se libertaram de um monstro.

ENFERMEIRA #2

Não se engane querida. Aqueles dois pares de olhos castanhos podem esconder muito mais maldade do que você imagina.


 

Em OUTRO PONTO do corredor, CÂMERA acompanha dois pares de saltos altos caminhando através do piso. Trata-se de ALEXIA (34 anos, alta, cabelos pretos soltos, maquiagem forte). Ela cruza com as enfermeiras.

ALEXIA

Boa noite, senhoritas.

ENFERMEIRA #2

Boa noite.


 

Alexia sorri, afasta-se delas e se aproxima do quarto 44. Ao chegar na porta, põe uma chave na fechadura e abre.


 

CENA 14. HOSPITAL PSIQUIÁTRICO ROYAL HOPE. QUARTO 44. INTERIOR. NOITE.


 

Alexia entra e vê Rosie e Lily deitadas na cama, abraçadas, dormindo. Ela bate a porta com força e as meninas acordam no susto.


 

ROSIE

(puxa o lençol) Eu não conheço você.


 

Alexia sorri, coloca a bolsa em cima de uma poltrona e aproxima-se com calma da ponta da cama. As duas meninas observam, ainda assustadas.

ALEXIA

Que meninas lindas vocês são.


 

Alexia encosta no pé de Rosie que, instintivamente, lhe dá um chute.


 

ROSIE

Não toque em mim.

ALEXIA

Não há razão para ser agressiva, Rosie. Eu sou apenas uma amiga.

ROSIE

Como sabe meu nome?

ALEXIA

Todos sabem o seu nome. Vocês estão em todos os jornais.

ROSIE

Você é da polícia? Veio nos prender, é isso?

ALEXIA

Oh, não! Claro que não! Eu vim salvá-las de um futuro sem esperanças, minhas queridas.

LILY

(abraça Rosie) Eu estou com tanto medo.


 

ALEXIA

Não há motivos para estar. (senta- se no pé da cama) Vocês são mais fortes do que todo mundo pensa. O que fizeram com seu pai... (pausa) Foi cruelmente libertador.

ROSIE

Se você não é da polícia, então quem é?


 

ALEXIA

Meu nome é Alexia Greene.

Alexia ergue sua mão na direção das meninas.

ALEXIA (CONT’D)

Vim para levá-las à um lugar de crianças como vocês. Tudo que precisam fazer é confiar em mim.

Rosie e Lily trocam olhares hesitantes.


 

CENA 15. RIO. EXTERIOR. DIA.


 

CÂMERA AÉREA mostra um longo trem deslizando nos trilhos de uma altíssima ponte de pedra, que corta as águas densas que uma corredeira.


 

ROSIE

(V.O.) Você deve estar se perguntando se eu me arrependo.

CENA 16. TREM. INTERIOR. DIA.


 

Rosie sentada ao lado da janela, observando a imensidão da floresta.


 

ROSIE

(V.O.) Como poderia me arrepender de algo que fiz consciente? (pausa) Entendam: isso não significa que eu seja uma garota má. Muito pelo contrário. Sou uma menina que sempre sonhou alto. Talvez o único erro foi ter envolvido minha doce irmã nisso tudo.


 

Lily ao seu lado, desenhando alguma coisa numa folha de papel. Rosie alisa o cabelo de Lily e sorri.

ROSIE (CONT’D)

(V.O.) Lily é tão pequena e já enfrentou momentos tão difíceis. Ela é a única coisa que tenho agora. Sinto que devo protegê-la. Apesar da tragédia, finalmente posso dizer que estou livre e também aliviada de ter libertado Lily de um futuro opressor.


 

À frente, Alexia, muito elegante, de óculos escuros, observando as meninas.

ROSIE (CONT’D)

(V.O.) Não sei se posso confiar nela, não tenho ideia para onde ela está nos levando, mas qualquer lugar é melhor que a cadeia.

Meninas como nós não podem crescer como criminosas. Nós não somos criminosas. Somos sobreviventes.


 

CENA 17. ESTRADA. EXTERIOR. DIA.

Dois portões de ferro se abrem e um veículo preto entra.


 

CENA 18. PROPRIEDADE. EXTERIOR. DIA.


 

O veículo da cena anterior percorre uma estreita estrada, cercada por uma floresta, até chegar a um belíssimo gramado, onde, ao fundo, revela-se um enorme casarão antigo, parecido com um palácio, com 6 andares. Algumas crianças correm ali pela frente, em grupos. Rosie coloca a cabeça pra fora e observa.

O veículo contorna um enorme chafariz e estaciona. A porta se abre e Alexia desce, seguida de Rosie e Lily. Elas sobem a escadaria para entrar na propriedade e a porta de madeira é aberta por LETHA (72 anos, estatura média, cabelos grisalhos presos num coque, roupa discreta), que sorri.

LETHA

Bem-vindas.


 

CENA 19. CHATEAU MARMONT. 1º ANDAR. INTERIOR. DIA.


 

O ambiente é amplo. Há vários sofás de couro branco, tapetes pelo chão e quadros de homens pendurados nas paredes. Ao centro do local, está uma enorme estátua de um anjo decaído. Ao fundo também há uma escadaria de madeira. Rosie e Lily ali, curiosas, junto de Letha e Alexia.

ROSIE

Que lugar é esse?

ALEXIA

(se abaixa) O melhor lugar do mundo. O lugar onde vocês pertencem.


 

LILY

Eu tenho medo.

ALEXIA

(alisa o rosto dela) Para que temer? O Chateau Marmont agora é a casa de vocês. Tenho a mais absoluta certeza que irão adorar. (se levanta) Letha é a nossa governanta e mostrará o quarto de vocês. Mais uma vez bem-vindas!

Alexia pisca para Letha e sai por um corredor lateral.

LETHA

Vamos subir?


 

CENA 20. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE ROSIE E LILY. INTERIOR. DIA.


 

Ambiente pequeno, com duas camas de solteiro, um armário e penteadeira. As malas já sobre as camas. Letha abre as cortinas. Rosie e Lily ali com ela.

LETHA

Vocês vão ficar aqui. Não é muito grande, mas acredito ter espaço para as coisas de vocês. Fiquem à vontade.


 

ROSIE

Essa casa é assustadoramente grande.

Rosie vai até a janela e vê as crianças brincando no jardim.

ROSIE (CONT’D)

Quem são essas crianças? Esta é uma escola?


 

LETHA

Este é um orfanato. Essas crianças são como vocês. Elas não possuem ninguém no mundo e nós nos certificamos de ser o mundo para elas.


 

ROSIE

Parece como uma prisão.

LETHA

Você está redondamente enganada, minha querida. O Chateau Marmont é um verdadeiro lar para todas essas crianças. Aqui os órfãos podem ter a vida que não teriam, ou não tinham. Aqui eles se alimentam, estudam e praticam várias atividades.

ROSIE

Eu e minha irmã não podemos ficar aqui.


 

LETHA

Vocês não têm opção. O governo mandou vocês para cá. É melhor se acostumarem. Podem conhecer a propriedade se quiserem, mas o toque de recolher é as 6. Nos armários estão os seus uniformes. Fiquem prontas amanhã cedo, pois a nossa diretora quer conversar com vocês.


 

Letha sorri e sai. Lily corre e se joga em sua cama. Rosie olha para a irmã, sem saber o que dizer.

LILY

Eu sei o que está pensando. (pausa) Não podemos fugir. Iríamos para onde?


 

ROSIE

Não confio nesse lugar.


 

Rosie vai até a janela novamente e desvia seu olhar para área da floresta. Um homem alto, com o rosto escondido nas sombras, está entre as árvores. Rosie franze a testa.

LILY

(O.S.) Rosie?

Rosie pisca e o homem simplesmente desapareceu.

ROSIE

Eu achei que tinha visto alguma coisa.

CLOSE em Rosie.


 

CENA 21. CHATEAU MARMONT. CORREDOR. INTERIOR. DIA.


 

Letha caminhando com algumas roupas nas mãos. Ao cruzar para outro corredor, LIZZIE (13 anos, cabelos castanho escuros, com franja, olhos verdes) surge em sua frente, fazendo-a derrubar o que carrega.

LETHA

(alto) Lizzie! Isso é jeito de aparecer?


 

LIZZIE

Você anda se assustando fácil demais, Letha. Precisa se cuidar. Na sua idade é muito fácil sofrer um ataque do coração.

Letha se abaixa e vai recolhendo as roupas.

LETHA

Por que não está lá fora brincando com as outras crianças?

LIZZIE

Eu não gosto delas. As brincadeiras são chatas demais. (alisa o pescoço de Letha) Elas não gostam de brincar do que eu gosto.

LETHA

(se levanta) Então vá para o quarto. Tenho certeza que você tem o que estudar.

LIZZIE

Eu preciso te perguntar uma coisa.

LETHA

(impaciente) Não tenho tempo para conversas.


 

LIZZIE

Essas duas meninas que acabaram de chegar são as assassinas, não são? Li sobre elas num jornal que encontrei na cozinha.

LETHA

Você não deveria bisbilhotar no que não é da sua conta. Seja uma boa menina e vá para seu quarto.

Aproveite para rezar. Quem sabe Deus lhe dá suas respostas.

LIZZIE

Deus não existe.


 

Letha encara a menina e sai dali. Lizzie começa a rir e entra em um dos quartos.


 

CENA 22. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. NOITE.


 

PLANO GERAL do orfanato. As luzes estão ligadas, mas o silêncio é geral.


 

CENA 23. CHATEAU MARMONT. COZINHA. INTERIOR. NOITE.


 

Sozinha, Letha bate a massa de um pão em uma extensa mesa de ferro. CHARLOTTE (32 anos, baixa, bem magra, cabelos escuros, vestido cinza, sem maquiagem) entra.

CHARLOTTE

Graças a Deus te encontrei.

LETHA

Você já deveria estar dormindo.

CHARLOTTE

Eu estava. O que está fazendo?

LETHA

Não tenho sono. Decidi adiantar o trabalho de amanhã. (encara Charlotte) Algum problema?

CHARLOTTE

Sim. É a pobre Molly.

Letha e Charlotte se encaram.


 

CENA 24. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE MOLLY. INTERIOR. NOITE.


 

MOLLY (11 anos, branca, ruiva, camisola bege) em cima da cama, de olhos fechados, suada, gemendo. Letha coloca um pano molhado na testa da menina. Charlotte ao lado.

LETHA

Há quanto tempo ela está assim?

CHARLOTTE

Eu a vi reclamando mais cedo, mas não achei que fosse sério. Quando fui fazer a vistoria nos quartos, a encontrei dessa maneira.

LETHA

Ela está queimando em febre.

CHARLOTTE

Devemos chamar a senhora Blaylock?

LETHA

Claro que não. É melhor levá-la ao consultório do Dr. Hermann. Ele vai saber o que fazer.


 

CENA 25. CHATEAU MARMONT. CONSULTÓRIO DE HERMANN. INTERIOR. NOITE.


 

Molly em cima da maca. O DR. HERMANN (55 anos, alto, forte, bonitão, de jaleco branco) retira o termômetro debaixo do braço da menina e examina. Charlotte com ele.

HERMANN

40 graus. Vou precisar medicá-la. Charlotte, me traga alguns cobertores lá de cima. (alto) Schnell!


 

CHARLOTTE

Sim, doutor.

Charlotte sai rapidamente. Assim que a porta se fecha, Hermann pega uma seringa, esguicha o líquido e injeta em um dos braços de Molly, que geme de dor.

HERMANN

Calma, meu anjinho.

MOLLY

(murmura) Não...


 

INSERT:


 

Uma das mãos de Hermann sobe pela coxa da menina até sua região vaginal.


 

HERMANN

O doutor vai cuidar de você direitinho.

VOLTA À CENA.

CLOSE no olhar perturbador e hipnótico do médico.


 

FADE OUT.


 


 

FIM DO ATO I ATO II


 

FADE IN:


 


 

CENA 26. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. DIA.

PLANO GERAL da fachada.


 

CENA 27. CHATEAU MARMONT. SALA DA DIREÇÃO. INTERIOR. DIA.


 

SHELLEY (13 anos, loira, olhos azuis, uniformizada) sentada em um banco de madeira, ao centro do luxuoso ambiente.

Enquanto ela chora, CRUELLA (52 anos, alta, belíssima, cabelos negros volumosos, vestido escuro e casaco de pele prateado) corta seus cabelos com uma enorme tesoura. A porta se abre abruptamente e Charlotte entra, afoita.

CHARLOTTE

As meninas estão/...

Cruella encara Charlotte, que se cala, um tanto envergonhada.

CRUELLA

(aponta a tesoura) O que eu te disse sobre boas maneiras, Charlotte?


 

CHARLOTTE

Me desculpe senhora Blaylock.

CRUELLA

(para Shelley) Espero que tenha gostado do novo corte. Da próxima vez que ousar me desafiar, vou muito além do seu cabelo, me entendeu? Agora suma do meu campo de visão, criança insuportável.


 

Shelley concorda e sai correndo. Cruella contorna sua mesa e senta-se na poltrona de couro.

CRUELLA (CONT’D)

O que queria me dizer, Charlotte?

CHARLOTTE

As meninas Tate estão prontas para falarem com a senhora.

CRUELLA

Encontro com elas lá embaixo. (pausa) E nunca mais entre na minha sala sem bater.

CHARLOTTE

(baixa a cabeça) Sim senhora.

Charlotte sai. O TELEFONE toca.

CRUELLA

(atende) Pois não?


 

CENA 28. CHATEAU MARMONT. 1º ANDAR. INTERIOR. DIA.


 

Cruella desce as escadas, enquanto as meninas Tate aguardam no hall, já uniformizadas.

CRUELLA

Meninas. Bem-vindas ao Chateau Marmont.

Rosie e Lily apenas observam. Cruella se aproxima, imponente.

CRUELLA (CONT’D)

Eu estava ansiosa para conhecê-las.

ROSIE

Quem é você?

CRUELLA

Eu administro essa instituição.

ROSIE

Eu achei que a senhora que nos trouxe/...


 

CRUELLA

(interrompe) Alexia Greene é assistente social e membro importante da minha equipe. De qualquer forma, isso não interessa. Como passaram a noite?

ROSIE

(seca) Bem, obrigada.

CRUELLA

(sorri) Você deve ser Rosie, correto? A destemida Rosie Tate, exatamente da maneira como eu imaginava. Creio que tenham muitas perguntas. Eu possuo as respostas.

ROSIE

Quanto tempo ficaremos aqui?

CRUELLA

Isso não depende de mim, mas sim do governo. Uma semana ou 18 anos, vocês vão precisar se adequar às regras deste orfanato.

Cruella agacha-se até a trêmula Lily e a encara.

CRUELLA (CONT’D)

Já ouvi o suficiente da sua irmã, mas ainda não conheço o tom da sua voz. O gato comeu sua língua?

LILY

(baixo) Eu só... Não queria estar aqui.


 

CRUELLA

(levanta) Esse lugar vai surpreender vocês.

CENA 29. CHATEAU MARMONT. SALA DE AULA. INTERIOR. DIA.


 

Cerca de 40 crianças sentadas atrás de pequenas carteiras, com a cabeça baixa, estudando. BOWERS (54 anos, alto, cabelos grisalhos, bigode, barriga saliente, usando terno) caminha entre os alunos, observador, e se aproxima de GRIFFIN (13 anos, branco, cabelos escuros penteados com gel), que está escrevendo em seu caderno.

BOWERS

O que temos aqui? Rabiscos misteriosos? Uma nova língua? Algum código secreto?


 

Griffin levanta a cabeça, mas não fala nada. Bowers pega o caderno para dar uma olhada.

BOWERS (CONT’D)

Oh... Poemas. (alto) Poemas, crianças.

Os alunos dão risada. Griffin envergonhado.

BOWERS (CONT’D)

O senhor Griffin se considera um poeta. Vejamos. (lê) "Sem inspiração estou agora. Tento atiçar a imaginação, mas ela demora. Não consigo pensar em algo que faça rimas. É como querer acertar o alvo com a flecha apontada para cima."


 

Bowers joga o caderno na carteira de Griffin, irritado, e o menino se assusta.


 

BOWERS (CONT’D)

Um lixo, garoto. Melhore sua caligrafia!

CRUELLA

(O.S.) Com licença.


 

Bowers se vira no susto. Cruella está na porta, acompanhada de Rosie.


 

BOWERS

Senhora Blaylock.

CRUELLA

Posso interromper sua aula?

BOWERS

Claro, por favor.

CRUELLA

Sabe Phillip, se tem algo que sempre admirei em você, é como você consegue fazer com que as crianças o respeitem. Eu gosto disso.

BOWERS

Obrigado, diretora.

CRUELLA

(para os alunos) Eu vim aqui para apresentá-los à sua mais nova colega de classe. Rosie Tate.


 

CORTA PARA o fundo da classe. Lizzie, sentada atrás de Shelley, cutuca a menina.

LIZZIE

(sussurra) Você não tem medo que ela te esfaqueie pelas costas?

SHELLEY

Calada, Lizzie!

CÂMERA RETORNA para Cruella e Rosie.

CRUELLA

Ela e sua irmã Lily agora fazem parte desta instituição e conto com a ajuda de vocês para a adaptação das duas.


 

LIZZIE

(se levanta) Ela é a assassina?

BOWERS

(repreende) Lizzie.

CRUELLA

(irônica) Você é bastante perceptiva.


 

Cruella sorri e vai embora. Lizzie senta-se, enquanto encara Rosie.


 

BOWERS

Você pode se sentar na carteira ao lado do senhor Edgar Allan Poe, senhorita Tate.


 

Rosie concorda e se direciona até sua cadeira. Griffin troca um olhar para ela e sorri. Rosie baixa a cabeça.

CENA 30. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. DIA.


 

Letha cruza o jardim com uma cesta cheia de flores. Cruella sai pela porta principal e encontra-se com ela.

CRUELLA

Eu estava procurando por você.

LETHA

Algum problema?

CRUELLA

Queria pedir para deixar tudo preparado para a chegada do Reverendo Fain hoje à tarde. Ele com certeza estará exausto de Roma e precisará descansar.

LETHA

Vou me certificar que tudo estará organizado.

Cruella pega uma das flores da cesta de Letha.

CRUELLA

São lindas.

LETHA

Lírios-do-vale. Eu mesma plantei. Tome cuidado, podem ser venenosos.

CRUELLA

Jura? (pensa) Posso levar?

LETHA

Claro.

CRUELLA

Obrigada Letha. Sua competência faz meus olhos lacrimejarem.


 

Cruella pisca para a governanta e retorna ao orfanato. CLOSE em Letha.


 

CENA 31. CHATEAU MARMONT. 1º ANDAR. INTERIOR. DIA.


 

Lily sentada na ponta da escada. Algumas crianças passam caminhando por ali. Rosie chega e senta-se ao lado da irmã.

ROSIE

Como foi o seu primeiro dia?

LILY

Eu gosto da professora. Ela é bonita e seu perfume cheira a campo. Me lembrou a mamãe.

ROSIE

Sorte sua. Minha classe é uma porcaria. Uma menina/...

Rosie enche os olhos de lágrimas, mas se mantém firme.

LILY

Você pode chorar se quiser.

ROSIE

Não. Eu preciso ser mais forte que você. Preciso te proteger.

LILY

Nós podemos nos proteger.

Shelley se aproxima das irmãs.

SHELLEY

Ei, novatas.

Rosie e Lily se levantam. Rosie repara no cabelo de Shelley.

ROSIE

O que aconteceu com seu cabelo?

SHELLEY

Eu não concordei com a diretora, mas é uma longa história. Rosie, não se preocupe com os comentários da Lizzie. Ela é um demônio.

ROSIE

(séria) Eu não me preocupo.

SHELLEY

Venham comigo. Quero mostrar algo que vocês vão gostar.


 

CENA 32. FLORESTA. EXTERIOR. DIA.


 

Shelley tomando frente, rápida, sem olhar para trás. Rosie e Lily um pouco mais longe, esbaforidas, driblando as árvores e os arbustos.


 

ROSIE

Tem certeza que não tem problema estarmos aqui?

SHELLEY

(se diverte) Não seja medrosa.

ROSIE

Eu não tenho medo de nada.

SHELLEY

Claro que não... (pausa) Estamos quase lá.

Shelley se enfia no meio de vários arbustos e desaparece.


 

CENA 33. FLORESTA. CLAREIRA. EXTERIOR. DIA.


 

As folhas se afastam e Shelley surge, seguida de Rosie e Lily. Elas caminham pelo chão batido até a frente de um casebre de madeira.


 

CENA 34. CABANA NA FLORESTA. INTERIOR. DIA.


 

Shelley abre a porta. Griffin e LACHLAN (13 anos, baixinho, gordinho) jogam xadrez sentados no chão. Griffin vê Rosie e seus olhos paralisam.

SHELLEY

O que está olhando, bobão? Estas são Lily e Rosie.


 

Griffin se levanta e ergue a mão para cumprimentar Rosie, que não retribui.


 

GRIFFIN

Meu nome é Griffin. Sento na carteira do seu lado, lembra?

ROSIE

Não.

SHELLEY

E aquela rolha de poço jogada no assoalho é meu irmão.

LACHLAN

(balança o braço) Lachlan, oi.


 

Lily larga a mão de Rosie e caminha pelo ambiente, onde há uma prateleira cheia de brinquedos. Ela agarra uma bonequinha de pano.


 

ROSIE

Que lugar é esse?

GRIFFIN

É nosso esconderijo. O lugar onde podemos fazer o que quisermos sem os olhares dos adultos.

SHELLEY

Não abram a boca. Se a diretora desconfiar, é capaz de ficarmos sem andar por uma semana.

ROSIE

Vocês estão no Chateau Marmont há muito tempo?

GRIFFIN

Há mais ou menos uns cinco anos. Minha família morreu em um acidente e acabei vindo para cá. (pausa) Soube do que aconteceu com seu pai.

ROSIE

Não quero falar sobre isso. (tom) E você Shelley?

SHELLEY

Eu e Lachlan estamos aqui desde o princípio. Conheço absolutamente tudo sobre esse orfanato.

ROSIE

Não tem curiosidade em saber como é o mundo lá fora?

SHELLEY

Acho que não. Dizem que o mundo é cruel, Rosie. Você e a sua irmã são a prova disso.

Lily retorna com a boneca.

LILY

Posso ficar com ela?

SHELLEY

Claro que pode.

ROSIE

Vocês parecem ser crianças legais, o que não é o caso daquela menina, Lizzie.

SHELLEY

Posso dizer que somos exceções. Há poucas pessoas em que podem confiar aqui. Você ainda não conhecem um terço do que esse lugar realmente é.

CLOSE em Rosie.


 

CENA 35. CHATEAU MARMONT. SALA DE JANTAR. INTERIOR. NOITE.


 

As crianças têm seu jantar, sentadas em torno de duas mesas retangulares. Lustres pendurados no teto contêm algumas velas. Rosie, Lily, Griffin, Shelley e Lachlan comem juntos. Lizzie, mais afastada, os encara com raiva. Letha caminha entre as mesas procurando algo e vai até Charlotte, de pé perto da porta.


 

LETHA

Não encontrei a Molly.

CHARLOTTE

Ela deveria estar aqui. O doutor Hermann lhe deu alta hoje a tarde.

LETHA

Vou procurar lá em cima. Fica de olho nesses diabinhos.

Charlotte concorda e Letha sai.


 

CENA 36. CHATEAU MARMONT. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.

Letha bate agressivamente em uma das portas.

LETHA

(alto) Molly? É Letha. Abra a porta.

Nenhuma resposta. Letha insiste.

LETHA (CONT’D)

(bate mais forte) Molly, abra, por favor. (murmura) Pestinha...


 

Letha puxa um molho de chaves de seu avental, coloca uma delas na fechadura e abre a porta.

CENA 37. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE MOLLY. INTERIOR. NOITE.


 

Letha entra. A cama está arrumada e o local vazio. CLOSE em Letha, tensa.


 

CENA 38. CHATEAU MARMONT. SUÍTE DE FAIN. INTERIOR. NOITE.


 

REVERENDO FAIN (70 anos, olhos azuis, cabelos brancos, vestes típicas) coloca sua mala sobre a cama. A porta está aberta.

Cruella se aproxima sorrateiramente.

CRUELLA

Reverendo?

REVERENDO FAIN

Cruella, minha querida.

CRUELLA

Posso entrar?

REVERENDO FAIN

Claro!

Cruella entra. Fain segura a mão dela e faz o sinal da cruz.

REVERENDO FAIN (CONT’D)

Que Deus esteja convosco.

CRUELLA

Amém, Reverendo. Estou interrompendo alguma coisa?

REVERENDO FAIN

Não, minha irmã. Estava apenas ajeitando algumas coisas, mas já ia descer para cumprimentá-la. Como foram as coisas na minha ausência?

CRUELLA

Tudo na santa Paz do Senhor Jesus, graças a Deus. E Roma continua belíssima?


 

REVERENDO FAIN

Oh, definitivamente. Tive uma conversa muito agradável com alguns Arcebispos e voltei cheio de ideias empolgantes para o Chateau Marmont. (suspira) Tenho tantos sonhos para esse lugar. Vamos conversar com calma sobre isso amanhã cedo.

CRUELLA

O Senhor nem sabe o quanto agradeço por confiar em mim a administração da sua instituição.

REVERENDO FAIN

Confio em você de olhos fechados. E não se esqueça que essa instituição não é de ninguém além de Deus.

CRUELLA

Amém.

CLOSE na troca de sorrisos dos dois.


 

CENA 39. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE ROSIE E LILY. INTERIOR. NOITE.

Rosie e Lily deitadas em suas camas. As luzes desligadas.

LILY

Posso te fazer uma pergunta?

ROSIE

Qualquer uma.

LILY

Você sabe que eles vão mandar alguém para definir nosso destino, não sabe?


 


                  ROSIE

Eu sei...

 

                  LILY

(se vira pra irmã) Você acha que vamos morrer pelo que fizemos?

ROSIE

O que eu acho é que você não tem que se preocupar sobre isso agora.

LILY

Talvez ontem você estava certa. O melhor seria fugir daqui, para bem longe, onde ninguém poderá nos encontrar.


 

ROSIE

Somos apenas crianças, não conseguiríamos chegar além da floresta, você sabe.

LILY

Então o que vamos fazer? Esperar pelo destino final?

ROSIE

Lily, alguma vez eu já menti pra você?

 

 

         LILY

Nunca.

 

                  ROSIE

Eu prometo que você vai ficar bem. Nem que eu precise levar a culpa para te ver salvar, mas eu... (respira) Eu vou te salvar.

              LILY

Não quero ficar aqui sem você.

Rosie se vira para Lily e sorri.

ROSIE

Eu te amo, irmã.

LILY

Também te amo.


 

Lily fecha os olhos e se cobre. Rosie fica alguns segundos encarando o teto.


 

CENA 40. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. NOITE.


 

Letha caminhando pela lateral do local, segurando seu candelabro. A luz ilumina o gramado até revelar a silhueta de Molly.


 

LETHA

Molly?


 

Letha ergue o castiçal e a luz da chama ilumina a menina, que está cheia de sangue e com um pequeno cachorro estripado nas mãos.


 

LETHA (CONT’D)

Oh meu Deus!

E o candelabro cai no chão.

CENA 41. CHATEAU MARMONT. SUÍTE DE CRUELLA. INTERIOR. NOITE.


 

BATIDAS na porta. Cruella se aproxima, de roupão branco, e abre. Letha está ali, trêmula.

CRUELLA

O que houve?

LETHA

Você precisa vir correndo. Algo de terrível aconteceu com a Molly.

Letha e Cruella trocam olhares aterradores.


 


 

FIM DO ATO II ATO III

FADE OUT.


 

FADE IN:


 


 

CENA 42. CHATEAU MARMONT. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.

Cruella e Letha caminham juntas, em passos firmes.

CRUELLA

Onde você a encontrou?

LETHA

Lá fora. Ela estava com um animal nas mãos. Eu acho que... (fecha os olhos) Ela estava devorando ele.

CRUELLA

Preciso ver essa menina com meus próprios olhos.

E as duas cruzam para outro corredor.


 

CENA 43. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE MOLLY. INTERIOR. NOITE.


 

Cruella e Letha entram, encontrando Molly sobre sua cama, debatendo-se, pálida, com os olhos esbugalhados. PADRE CALEB (40 anos, alto, bonito, barba por fazer, trajes paroquiais) segura a menina.


 

CRUELLA

(arregala os olhos) Santo Cristo...

MOLLY

(geme) Dimittam. (grita) Damnant! Et interficiemus eos!

CRUELLA

O que ela está dizendo?

CALEB

É algo em latim, não consigo traduzir.


 

CRUELLA

(impaciente) Vocês não aprendem essa porcaria de língua no celibato?


 

LETHA

Ela está delirando.


 

Molly dá um tapa na cara de Caleb, fazendo-o se afastar. Ela dá um salto na cama, fica de quatro e late feito um cachorro. Cruella a encara, sem medo.

CRUELLA

Letha, ajude o Padre a atá-la na cama.


 

Caleb agarra Molly pelos cabelos e a joga deitada no colchão. Letha avança em um dos braços da menina, que tenta fugir.

LETHA

(alto) Precisamos do doutor Hermann! Ela precisa ser medicada com urgência!

CRUELLA

Não é disso que esta menina precisa.

Cruella fuzila Molly com o olhar e sai dali.


 

CENA 44. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. NOITE.


 

Um veículo azul-marinho, de faróis ligados, contorna o jardim da instituição até estacionar na frente da escadaria de entrada. A porta do motorista se abre. Alana desce, olha em volta e respira fundo. CLOSE nela.

CENA 45. CHATEAU MARMONT. 1º ANDAR. INTERIOR. NOITE.


 

A porta se abre e Alana entra, carregando sua mala. O ambiente está vazio e não se houve absolutamente nada além do barulho dos saltos dela.

ALANA

(alto) Olá. Tem alguém aí?


 

Ela larga a mala no chão e aproxima-se da escultura de anjo. Alana passa a mão no rosto da figura.

ALANA (CONT’D)

É lindo.

LETHA

(O.S.) Quem é você?

Assustada, Alana vê Letha no meio da escada.

ALANA

Boa noite. Me chamo Alana Maxwell, psiquiatra. Fui enviada pelo governo para avaliar as irmãs Tate. Telefonei mais cedo e avisei que chegaria hoje a noite. Conversei com a diretora.

LETHA

(confusa) Oh, claro, ela me comunicou, desculpe.


 

Letha desce para se encontrar com Alana e ouve-se, em OFF, barulhos de móveis movendo-se em algum andar acima.

ALANA

O que está acontecendo lá em cima? Cheguei em má hora?

LETHA

(tensa) Não! Não, imagine.


 

GRITO abafado em OFF. Letha arregala os olhos e dá um sorriso nervoso.


 

LETHA (CONT’D)

Você, por favor, pode esperar aqui? Vou ver se o seu quarto está pronto.


 

ALANA

Sem problemas.

LETHA

Só... Fique aqui. Por favor. Sente- se.


 

Letha sobe a escadaria correndo. Alana franze a testa e olha em volta.


 

CENA 46. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE MOLLY. INTERIOR. NOITE.


 

Molly presa na cama, debatendo-se e gritando. Dr. Hermann injeta um líquido transparente em seu braço. Reverendo Fain sentado ao lado da cama, com um crucifixo vermelho na mão. Cruella parada na porta, atônita.

HERMANN

Acho que isso vai acalmá-la.

MOLLY

Prefiro que você me acalme de outra forma, doutor!


 

Assustado, Hermann se afasta. Molly começa a gargalhar com a voz distorcida.


 

CRUELLA

Oh Jesus...

MOLLY

(voz distorcida) Gosto quando você me toca lá no fundo, como se eu fosse a sua putinha, doutor Hermann!


 

Molly abre as pernas e começa a gemer como se estivesse fazendo sexo.


 

MOLLY (CONT’D)

Eu quero brincar de ser sua putinha. (gargalha) Eu sempre fui uma putinha!


 

Molly mostra a língua, simulando sexo oral, e Cruella avança na menina, desferindo-lhe dá um tapa na cara.

CRUELLA

(descontrolada) Calada, sua imunda! Não vou admitir esse tipo de comportamento na minha instituição!

MOLLY

O que foi diretora? Está nervosa? Se quiser, posso enfiar minha língua dentro da sua caverna!

REVERENDO FAIN

(tenso) Onde foi parar o Padre Caleb? Preciso dele aqui imediatamente. Quanto a você Cruella, acho melhor sair, essa não é uma cena para mulheres.

CRUELLA

Eu faço questão de participar, Reverendo.


 

Hermann, ainda atordoado, sai rapidamente do quarto. As gargalhadas diabólicas de Molly ecoam pelo ambiente.


 

CENA 47. CHATEAU MARMONT. CONSULTÓRIO DE HERMANN. INTERIOR. NOITE.


 

Hermann entra, muito nervoso, e começa a revirar quaisquer gavetas ou prateleiras à procura de alguma coisa. Letha sai da escuridão, com os braços para trás.

LETHA

Procurando alguma coisa?

Hermann se apavora, deixando algumas coisas caírem no chão.

HERMANN

Oh mein gott, Letha! Quer me matar do coração?

LETHA

Você parece nervoso, doutor. Por acaso ouviu alguma coisa perturbadora?

HERMANN

Eu... (respira) Eu gostaria de saber como você entrou aqui sem a minha autorização.

LETHA

Eu tenho as chaves.

HERMANN

(encara) Eu ordeno que saia agora. Não tenho tempo para os seus truques.


 

LETHA

Truques? É interessante.


 

Letha puxa algumas fotos de dentro de seu avental e mostra para Hermann.

INSERT:


 

Em uma das fotografias: Molly nua, amarrada em uma cama, com as partes íntimas cheias de sangue.

VOLTA À CENA.


 

LETHA (CONT’D)

Quem gosta de truques aqui é você. Pelo visto não só de truques.

HERMANN

Você não tem o direito de revirar meu consultório!

Hermann puxa as fotos das mãos de Letha e as rasga em fúria.

HERMANN (CONT’D)

Aquela menina... Molly... Ela é insana, entendeu? Uma alma corrompida pela insanidade! Eu estava tentando curá-la/...

LETHA

(por cima) Se ela foi corrompida por alguma coisa, pode ter certeza que foi por você. Você é um monstro, Bernard.

Hermann agarra Letha pelos braços, ameaçador.

HERMANN

Então por que você está aqui? Acha que pode me meter medo? (sorri) Letha, Letha... Os anos passam e você continua a mesma. Se olhe no espelho. Você não passa de um mero fantoche na administração da Cruella. Eu não temo fantoches.

LETHA

Deveria temer. Só escute uma coisa. (murmura) Da próxima vez que você ousar encostar em mais alguma das minhas crianças, eu te enterro vivo. Tira essas mãos sujas de cima de mim.

Letha se solta e sai. CLOSE em Hermann.

CENA 48. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE SHELLEY. INTERIOR. NOITE.


 

Shelley dorme placidamente em sua cama. A porta se abre devagar e uma sombra avança.


 

CORTA para uma mão feminina percorrendo a perna descoberta de Shelley até seu quadril. Shelley abre os olhos e salta ao ver Lizzie no pé da cama.

SHELLEY

Lizzie! O que você está fazendo?

LIZZIE

(se afasta) Eu... Eu só queria brincar com você Shelley. Me desculpa, não queria assustar.

Shelley liga o abajur em cima do criado-mudo.

SHELLEY

Brincar? Já é de madrugada. Você só pode ter enlouquecido. (senta) Não quero que você entre no meu quarto como uma sombra. Se a diretora descobre/...

LIZZIE

(interrompe) Já pedi desculpas. Decidi vir porque estava me sentindo tão sozinha, Shelley. Você me entende, não entende?

SHELLEY

(se levanta) Não, eu não entendo.


 

Shelley vai até a janela e fecha as cortinas. Lizzie enche os olhos de lágrimas.


 

LIZZIE

Eu me sinto tão sozinha aqui.

SHELLEY

E o que te faz pensar que serei eu a sua companhia? Você é detestável, Lizzie. Você faz as pessoas não gostarem de você.

LIZZIE

Eu queria tanto ter amigos como você. Aquela novata... Rosie Tate/...

SHELLEY

(interrompe) Você foi malvada com ela hoje.


 

LIZZIE

Eu sei. (baixa a cabeça) É algo que eu não consigo evitar. É como se houvesse algo dentro de mim que me impedisse de ser quem eu sou.

SHELLEY

Então é melhor falar com o doutor Hermann, não comigo. Talvez ele tenha alguma fórmula para esse problema. (suspira) Eu quero dormir Lizzie. Vá para o seu quarto, por favor.


 

LIZZIE

Não! Espera! Rosie Tate. Você é amiga dela agora?

SHELLEY

Eu gosto dela. Sim.

Shelley vai até a porta, indicando a saída para Lizzie.

SHELLEY (CONT’D)

Até mais ver.

LIZZIE

Tudo bem, eu vou, mas quero que você faça algo comigo antes.

Simplesmente não consigo dormir. Quando fecho meus olhos, é como se milhares de pensamentos ruins inundassem minha cabeça. Não posso fechar meus olhos, Shelley.

Gostaria que você rezasse comigo, para que Deus mande embora tudo de ruim que existe dentro de mim.

Shelley olha para Lizzie por alguns segundos.

SHELLEY

Se isso fizer você sair daqui, tudo bem. Vamos lá.


 

Lizzie ajoelha-se na frente da cama de Shelley, que a acompanha.


 

LIZZIE

(junta as mãos) Vamos fechar nossos olhos.

Shelley fecha os olhos e junta as mãos.

SHELLEY

Pai nosso que estás no céu, santificado seja o vosso nome/...


 

A voz de Shelley vai se distorcendo até ficar inaudível. Em SLOW-MOTION, Lizzie abre os olhos e olha para a menina com muito ódio. Ela coloca as mãos nas costas e puxa um canivete. A cena VOLTA ao normal.

SHELLEY (CONT’D)

(ainda de olhos fechados) Amém.


 

Lizzie dá um grito e enfia o canivete no pescoço da menina. Shelley revira os olhos e não consegue se defender. Lizzie puxa o canivete e o sangue esguicha por todos os lados, enquanto Shelley se debate no chão, perdendo os sentidos.

CLOSE no rosto ensanguentado de Lizzie.

REVERENDO FAIN

(V.O.) Reinos da Terra, cantai a Deus, salmodiai ao Senhor, reconhecei o poder de Deus.


 

CENA 49. CHATEAU MARMONT. 1º ANDAR. INTERIOR. NOITE.


 

Em SLOW-MOTION, Alana vai subindo a escadaria principal para o próximo andar.


 

REVERENDO FAIN

(V.O.) Te exorcizamos,

todo espírito imundo, todo poder satânico, toda investida do adversário infernal, toda legião, toda congregação e seita diabólica.


 

CENA 50. CHATEAU MARMONT. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.


 

Alana caminhando em passos lentos, olhando para todos os lados, extremamente temerosa.

REVERENDO FAIN

(V.O.) Brindai o veneno da perdição. Afasta-te Satanás, inventor e mestre de toda mentira. Inimigo da sanidade humana.

Humilhai-vos sob a poderosa mão de Deus. Livra-nos, Senhor, das armadilhas do diabo, para que faças segura para ti a tua igreja, servir na liberdade, te pedimos, ouve-nos.

Alana cruza para outro corredor e dá de cara com Lizzie, encharcada de sangue dos pés a cabeça, imóvel, encarando-a.

LIZZIE

Aqui é o inferno? (balança a cabeça) Não. Se este fosse o inferno, todos nós certamente estaríamos queimando no caldeirão do demônio.

ALANA

(põe a mão no peito) Quem é você?


 

Lizzie começa a gargalhar maleficamente. Alana cambaleia para trás e, apavorada, sai correndo dali.


 

CENA 51. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE MOLLY. INTERIOR. NOITE.


 

Molly se revirando na cama, com os olhos esbugalhados, murmurando palavras incompreensíveis. Reverendo Fain erguendo um crucifixo na direção da menina. Caleb ao lado, rezando com os olhos fechados. A porta está aberta. Cruella próxima de uma parede, incrédula.

REVERENDO FAIN

Nós, servos da Santa Igreja, te pedimos. Ouve-nos, Deus terrível, do teu santuário. Deus de Israel. Ele atribuirá força e poder ao seu povo. Deus bendito, glória ao Pai...


 

Molly dá um salto na cama, com os olhos vermelhos, e faz com que o Reverendo Fain voe contra a parede. Ela se debate com muito mais força, fazendo com que as ataduras machuquem seus braços.


 

Alana surge na porta e vê a menina. Molly dá um grito com a voz distorcida e encara a psiquiatra com seus olhos arregalados. Em seguida, Molly apaga e desaba na cama. Alana põe as duas mãos na boca.


 

CENA 52. CHATEAU MARMONT. CORREDOR. EXTERIOR. NOITE.


 

Alana de frente para a porta do quarto de Molly, muito chocada. Quando ela vai fugir dali, Letha surge de surpresa, agarra seus braços e a pressiona contra a parede.

LETHA

O que você está fazendo aqui?

CLOSES DESCONTÍNUOS em Alana e Letha.


 

FIM DO ATO III ATO FINAL

FADE OUT.


 

FADE IN:


 


 

CENA 53. CHATEAU MARMONT. CAPELA. INTERIOR. DIA.


 

Reverendo Fain ajoelhado em frente ao altar, orando com um terço entre as mãos. Cruella entra, segurando uma vela, e aproxima-se do homem.

CRUELLA

Letha disse que você queria me ver.

REVERENDO FAIN

(olhos fechados) Amém.

Ele faz o sinal da cruz e levanta-se.

REVERENDO FAIN (CONT’D)

Obrigado por vir Cruella.

CRUELLA

Como você está? Muito machucado?

REVERENDO FAIN

Não, nem um pouco. A proteção do Senhor fez com que eu tivesse poucas escoriações.

CRUELLA

Me perdoe por ter envolvido você nisso, mas naquele momento você era o único que poderia salvar Molly.

REVERENDO FAIN

Cruella...

O Reverendo segura nas mãos de Cruella.

REVERENDO FAIN (CONT’D)

Em todos esses anos como Reverendo, eu enfrentei o mal diversas vezes, mas não como a última noite. Ontem eu o olhei nos olhos e pude perceber do que ele é capaz de fazer. O Chateau Marmont passou por uma grande prova e com o poder de Nosso criador, nós conseguimos vencer, mas talvez nem sempre seja assim.


 

CRUELLA

Eu entendo Reverendo.

REVERENDO FAIN

Eu preciso de você mais do que nunca a partir de agora. Essas crianças são como filhas para mim. Somos a única coisa que elas têm. Não podemos permitir que o demônio as corrompa novamente.

CRUELLA

Eu vou dar o meu sangue para garantir que um episódio como aquele jamais aconteça novamente.

REVERENDO FAIN

(sorri) Você é uma alma tão boa. Temos sorte de ter você aqui.

CRUELLA

(suspira) Só tento fazer o bem sem ver a quem.

REVERENDO FAIN

Aleluia.

E os dois sorriem um para o outro.


 

CENA 54. CHATEAU MARMONT. 1º ANDAR. INTERIOR. DIA.


 

Cruella entra pela porta principal. Ao mesmo tempo, Hermann desce pela escadaria.

HERMANN

Conseguiu fechar os olhos essa noite, diretora? Não é fácil dormir em paz depois de enfrentar o demônio.

CRUELLA

Fale por você Bernard.

HERMANN

(aproxima-se dela) Eu sou praticamente um Santo. Durmo bem todas as noites.

CRUELLA

Obrigada por dizer algo que ninguém se importa.

HERMANN

Então, como foi o sermão? (irônico) Ele lhe deu umas boas chibatadas pelo que aconteceu ontem?

CRUELLA

Não seja tolo, Bernard. Fain me adora, você sabe disso. (aponta) Na verdade é isso que te incomoda, não é? O fato de ele ter me colocado no comando.


 

HERMANN

Qual seu segredo?

CRUELLA

Seria como entregar a galinha para a raposa.


 

HERMANN

Nesse caso, a única raposa aqui é você.


 

Cruella franze a testa e fuzila Hermann com um olhar de enfrentamento.


 

CRUELLA

O que disse?

HERMANN

Cruella... Você pode enganar todos aqui, inclusive o pobre Timothy, mas não eu. Eu te enxergo pelo que realmente é.

CRUELLA

Você deveria calar a boca e se colocar no seu lugar. Enquanto eu controlar esse orfanato, não ouvirei suas ladainhas.

Cruella vai sair, mas Hermann a puxa pelo braço.

HERMANN

O que você está tramando? Eu sei que está tramando alguma coisa.

CRUELLA

(se solta) Calado! Eu só não te demito porque Fain jamais permitiria.

HERMANN

Sabe o que eu acho? Que/...

CRUELLA

(interrompe) Não me importa o que você acha, alemão estúpido.

Enquanto você alimenta esse rancor inexplicável por mim, eu tenho uma instituição para administrar.

Cruella sobe a escada e vira-se para Hermann.

CRUELLA (CONT’D)

Não declare guerra contra mim Bernard. Você com certeza vai perder.

E sobe. CLOSE em Hermann.


 

CENA 55. CHATEAU MARMONT. SALA DE CRUELLA. INTERIOR. DIA.


 

Cruella entra e vê Alana em pé, observando alguns de seus quadros.


 

CRUELLA

Bom dia.


 

Cruella senta-se em sua poltrona. Alana aproxima-se.

CRUELLA (CONT’D)

Me desculpe pelo atraso, estava resolvendo alguns problemas.

ALANA

Você está no comando aqui?

CRUELLA

Eu sou Cruella Blaylock. Estou no comando em todos os lugares. E você deve ser Alana Maxwell, correto?

ALANA

Exatamente. Psiquiatra. Muito prazer.

CRUELLA

Ouvi coisas muito positivas de você senhorita Maxwell. Fico feliz em recebê-la na minha instituição.

Como foi a viagem?

ALANA

Muito boa, obrigada por perguntar.

CRUELLA

Quanto tempo você pretende permanecer no Chateau? Pode sentar, você está me deixando nervosa.

ALANA

Obrigada. (senta-se) Não ficarei mais que uma semana.

CRUELLA

Ótimo. Presumo que deve estar ansiosa para conhecer as irmãs Tate.


 

ALANA

Ansiosa não, talvez curiosa.

CRUELLA

Eu posso dizer que você tem um trabalho e tanto com aquelas duas. Elas têm o olhar de dois anjinhos, mas Deus sempre nos prega peças, não acha?


 

ALANA

Saberei ao falar com elas.

CRUELLA

Bem, uma das minhas funcionárias disse que você chegou em nossas dependências ontem à noite.

ALANA

Havia comentado isso na conversa que tivemos no telefone. Algum problema?


 

CRUELLA

Não, não, claro que não. É que foi uma noite difícil para nós.

ALANA

Senhora Blaylock, eu sou uma pessoa muito honesta. Não posso deixar de comentar o que a senhora sabe que eu testemunhei ontem.

CRUELLA

Oh, e o que seria?

ALANA

Exorcismo. Eu respeito seus métodos de tratamento com crianças, mas preciso alertá-la que essa é uma prática bastante condenável. Há outras formas/...

CRUELLA

(interrompe) Senhorita Maxwell, por favor, deixe-me lembrá-la do seu trabalho aqui. O seu trabalho é analisar o estado mental de duas meninas acusadas de um crime terrível e escrever uma recomendação ao governo se elas devem morrer na cadeira elétrica ou permanecer sob meus cuidados até a maioridade. Portanto, eu sugiro que faça o seu trabalho e me deixe fazer o meu. (levanta-se) Me siga. Te apresentarei às meninas.


 

CENA 56. CHATEAU MARMONT. SALA. INTERIOR. DIA.


 

Alana sentada do outro lado de uma mesa quadrada, munida de papel e caneta. Rosie e Lily em sua frente, de cabeças baixas.


 

ALANA

Vamos tentar novamente meninas. Eu já li os arquivos de vocês, mas gostaria que se apresentassem.

Lily olha para Rosie, que nega com a cabeça.

ALANA (CONT’D)

Vocês podem falar comigo. Não precisam temer. (pausa) Vejam, sei que deve estar sendo difícil para vocês, mas vocês precisam me ajudar.

Rosie ergue seus olhos para Alana e a encara.

ROSIE

Nós não confiamos em você.

ALANA

E por que não confiam? Eu não sou o seu inimigo, Rosie. Muito pelo contrário.


 

ROSIE

Acha que somos estúpidas? Que não sabemos qual seu papel aqui?

ALANA

Rosie/...

ROSIE

(interrompe) Você foi enviada para nos julgar.

ALANA

(concorda) Sim, eu fui. Só que isso não vai acontecer agora, vai levar tempo. Preciso conhecê-las para decidir o futuro de vocês.

LILY

Você vai deixar que nos matem?

ROSIE

(cutuca) Lily, quieta!

ALANA

(para Lily) Eu não sei querida. (suspira) O pai de vocês foi assassinado. Vocês foram encontradas na cena do crime. O que pensariam no meu lugar?

Rosie não responde.


 

ALANA (CONT’D)

Você é forte, Rosie. Posso sentir.

ROSIE

Não vai nos perguntar?

ALANA

(não entende) Desculpe?

ROSIE

Não vai nos perguntar se fomos nós que fizemos aquilo com ele?

ALANA

Eu estou aqui/...

ROSIE

(interrompe) Fui eu.

Rosie se levanta, deixando Alana surpresa.

ROSIE (CONT’D)

Pode escrever aí nesse seu caderno. Eu, Rosie Tate, sou a responsável pela morte do meu pai. E quer saber da melhor parte? Eu não me arrependo.

Rosie agarra Lily e elas saem dali. CLOSE em Alana.


 

CENA 57. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE LIZZIE. INTERIOR. DIA.


 

Lizzie na frente do espelho, passando batom vermelho nos lábios. Letha entra sem bater.

LETHA

O que está fazendo?

LIZZIE

Estou ficando bonita.

Letha arranca o batom das mãos da garota.

LETHA

Me dê isso aqui.

LIZZIE

Sabe como se chama? Vermelho Violente-me. Eu amo essa cor, diz muito sobre mim.

LETHA

Com quem você conseguiu isso?

LIZZIE

Se eu contasse, teria que te matar.


 

Letha joga o batom no chão e pisa com sua plataforma. Lizzie ignora e caminha pelo ambiente.

LIZZIE (CONT’D)

Sabe Letha, ontem à noite eu tive uma epifania. Um encontro divino. Eu finalmente percebi o que estava errado em mim e decidi me tornar uma nova menina. (sorri) Eu vou ser tão amada quanto Rosie Tate.

LETHA

Rosie Tate?

LIZZIE

Todas as crianças vão me amar mais do que já amam ela.


 

Letha dá um tabefe no rosto de Lizzie, fazendo-a cair sobre a cama.


 

LIZZIE (CONT’D)

(mão no rosto) Você enlouqueceu?

LETHA

A única louca aqui é você, Lizzie. Você é podre, sempre foi podre. (se aproxima) Escute o que eu vou dizer com muita atenção. (aponta) Ontem à noite foi a última vez em que eu encobri os rastros das suas brincadeiras psicóticas.


 

CENA 58. CHATEAU MARMONT. INTERIOR. NOITE.


 

Letha percorre um extenso túnel obscuro empurrando um carrinho de madeira com o corpo ensanguentado de Shelley dentro. A governanta chega até uma porta de ferro, abre e empurra o carrinho para lá.


 

CENA 59. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE LIZZIE. INTERIOR. DIA.


 

Continuação da CENA 57. Lizzie se joga no chão e começa a chorar descontroladamente.

LIZZIE

Me perdoe Letha, por favor.

Ela se agarra nas pernas de Letha, que a observa friamente.

LIZZIE (CONT’D)

Eu preciso de você. Você é como a mãe que eu nunca tive, eu te imploro, não vire as costas para mim.

LETHA

Você cavou sua própria cova Lizzie. Não conte com minha ajuda para sair dela.


 

Letha chuta Lizzie e sai. Lizzie põe as duas mãos no rosto e chora ainda mais.


 

CENA 60. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. NOITE.

PLANO GERAL da instituição.


 

CENA 61. CHATEAU MARMONT. SUÍTE DE CRUELLA. INTERIOR. NOITE.


 

Cruella fecha as portas de seu guarda-roupa, usando uma camisola vermelha, e aproxima-se de sua penteadeira. Ela pega um vidro de creme e começa a passar em suas pernas. Uma mão feminina paira em seus ombros e Cruella fecha os olhos.

ALEXIA

(O.S.) Você parece nervosa.


 

Cruella se vira e esfrega suas mãos na cintura de Alexia, que está de robe branco.


 

CRUELLA

Tem tantas coisas acontecendo.

ALEXIA

Fain?

CRUELLA

Não, Fain é a solução, não o problema. O perigo está no sobrenome Hermann.

ALEXIA

Ele anda te pressionando?

CRUELLA

Acho que ele está tramando algo pelas minhas costas. Não é segredo para ninguém que Bernard não aceita o fato de Fain ter me colocado no comando do Chateau.

ALEXIA

Então você precisa fazer alguma coisa antes que Hermann possa mostrar suas garras.

CRUELLA

Não se preocupe quanto a isso, querida. Bernard acha que é inteligente, mas ele não conhece nem um terço de quem eu realmente sou. Não me chamo Cruella por acaso.


 

ALEXIA

(a seduz) Eu conheço.

CRUELLA

(murmura) Vai chegar o dia em que eu vou ter o controle desse orfanato. E quando isso acontecer, eu vou me certificar que tanto Bernard quanto Fain não sejam mais empecilhos nos nossos objetivos.

ALEXIA

Você fica ainda mais atraente quando banca a durona.

CRUELLA

(sorri) E você é uma grande vagabunda.


 

ALEXIA

Você não faz ideia.

E as duas dão um longo e intenso beijo.


 

CENA 62. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE ALANA. INTERIOR. NOITE.


 

Alana sentada na frente de uma mesa, digitando em uma máquina de escrever.

ALANA

(V.O.) Dia 1. Nome das pacientes: Rosie Tate e Lily Tate. Idade: 13 e

11 anos, respectivamente. Encontrei com as meninas em uma sala de convivência no orfanato Chateau Marmont. As duas irmãs são como água e vinho. Em poucos minutos pude notar uma Rosie agressiva e sem medo de assumir suas atitudes. Já Lily possui uma timidez que ecoa no silêncio que paira no ar. Comecei a conversa tentando criar um vínculo de amizade com as meninas, para que assim elas pudessem se abrir com mais facilidade, mas falhei. Elas são como duas rochas aparentemente inquebráveis. Porém uma coisa interessante aconteceu. Rosie Tate admitiu veementemente que havia matado o pai, inocentando a irmã, porém acredito que seja apenas uma proteção de irmã mais velha. De qualquer forma, ainda é cedo para uma análise concreta. Preciso quebrar a barreira e mergulhar na superfície de suas almas.


 

A psiquiatra baixa a cabeça e massageia seu pescoço. Em OFF, ouve-se uma FLAUTA. Alana se levanta põe o ouvido contra a porta. A música termina de súbito.


 

Alana dá de ombros, vai até o guarda-roupas e tira de lá uma caixinha de madeira. Ela se senta novamente na frente da mesa, abre a caixa e dá uma olhada em algumas fotos.

INSERT:


 

Em uma das fotos, Alana está sentada em um gramado acompanhada de um belo menino ruivo, ambos extremamente felizes.

VOLTA À CENA.


 

Alana deixa uma lágrima escorrer pelo canto do olho e beija a imagem.


 

CORTA PARA Alana enchendo um copo com um pouco de uísque. Ela bebe tudo de uma só vez e caminha até a janela. Quando seus olhos percorrem o jardim da instituição, ela vê a figura de um HOMEM ALTO, de rosto inidentificável, entre as sombras.

CENA 63. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE MOLLY. INTERIOR. NOITE.


 

Molly dormindo em sua cama. Algo extremamente pesado bate contra a porta e a menina salta no susto. Ela acende o abajur. SILÊNCIO.


 

MOLLY

(trêmula) Quem é?


 

Uma luz branca surge por debaixo da porta e vai se tornando muito forte até iluminar o ambiente por inteiro. As paredes do ambiente começam a tremer e Molly arregala os olhos.


 

CENA 64. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE ALANA. INTERIOR. NOITE.


 

Alana também dorme. Em OFF, o GRITO de uma criança. Ela abre os olhos e vê Danny deitado ao seu lado, com um sorriso angelical.


 


 

Olá mamãe.

DANNY


 

ALANA

(murmura) Danny?


 

Alana se levanta assustada, olha em volta e percebe que está completamente sozinha ali. Ela põe as duas mãos na cabeça, atordoada.


 

MOLLY

(V.O.) Socorro!

CLOSE na reação surpresa de Alana.


 

CENA 65. CHATEAU MARMONT. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.

Alana sai de seu quarto com os pés descalços.

ALANA

(alto) Olá? (pausa) Tem alguém aqui?


 

As luminárias do ambiente começam a piscar incessantemente. Uma SOMBRA passa atrás de Alana e ela se vira no susto. Mais à frente, está um menino ruivo, baixinho, parado de costas.

ALANA (CONT’D)

(perplexa) Danny?

Ela se aproxima do menino, incrédula, mas ele corre para outro corredor. A psiquiatra o segue, mas o perde de vista. As lágrimas começam a saltar de seus olhos. Ela põe as duas mãos na cabeça e olha para todos os lados. As luzes se apagam.


 

ALANA (CONT’D)

(O.S.) Quem está fazendo isso?


 

As luzes retornam e Alana vê, lá no fundo, Molly, também de costas, chorando.


 

ALANA

Molly?


 

A mulher caminha na direção da menina, coloca a mão em um dos ombros dela e se abaixa.

ALANA

(nervosa) Você também o viu? Me diga onde ele está. Me diga onde está o meu filho.


 

Molly se vira, com o rosto todo retalhado e sangue escorrendo pelos olhos.


 

MOLLY

(murmura) Morto!


 

Alana dá um GRITO de horror, cai para trás e se arrasta pelo tapete, afastando-se da criança.

INSERT:


 

O chão abaixo das mãos da psiquiatra começa a se mover como gelatina.

VOLTA À CENA.


 

Alana olha para as paredes, que começam a se mover em sua direção. Molly simplesmente desapareceu.

ALANA

(alto) Alguém me ajuda!


 

Ela se levanta e sai correndo. As luminárias explodem em sequência.


 

Quando vai cruzar para outro corredor, Alana encontra um homem do dobro de seu tamanho, esquálido, todo de preto, com uma cabeça cinzenta, sem rosto e cheia de veias bizarras. Os braços daquela criatura alongam-se na direção da mulher e a pressionam contra a parede.

Alana arregala os olhos e começa a se asfixiar, perdendo os sentidos. O homem estica seu corpo, aproxima sua fantasmagórica cabeça no rosto de Alana. A psiquiatra revira seus olhos e apaga.


 

FADE OUT.

FADE IN:


 

CENA 66. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE ALANA. INTERIOR. NOITE.


 

Alana abre os olhos. Está jogada no chão, com a garrafa de uísque vazia na mão.


 

ALANA

(murmura) Merda...


 

Ela apoia-se na cama e levanta com dificuldade. Vai até o espelho, ajeita seu cabelo e percebe vários hematomas em torno de seu pescoço.

ALANA

Mas o que/...

Ela para, engole a seco e dá alguns passos para trás.

ALANA (CONT’D)

Molly.


 

CENA 67. CHATEAU MARMONT. QUARTO DE MOLLY. INTERIOR. NOITE.


 

Alana entra e se depara com a cama desarrumada e a janela escancarada, batendo com o vento. A psiquiatra vê uma folha de papel em cima do colchão e pega.

INSERT:


 

Na folha, o desenho de um homem alto, com o corpo preto e cabeça cinza, de mãos dadas com uma menina bem menor que ele em um cenário de floresta.

VOLTA À CENA.


 

ALANA

(murmura) Oh meu Deus...


 

Ela se aproxima da janela. P.V. de Alana: Molly está caminhando pelo gramado de mãos dadas com o Slenderman, em direção a floresta. A menina se vira e abana alegremente para a psiquiatra.

VOLTA À CENA.

Alana põe as duas mãos na boca e sai correndo.


 

CENA 68. CHATEAU MARMONT. EXTERIOR. NOITE.


 

A porta principal se abre. Alana sai com uma pequena pistola em punhos.


 

ALANA

(grita) Molly!


 

Ela corre pelo jardim e aponta a arma para todos os lados, em desespero. Não há mais ninguém ali além dela. Alana respira ofegante e baixa a arma.

ALANA (CONT’D)

O que está acontecendo neste lugar?

FECHA na expressão de perplexidade da psiquiatra.


 

FADE OUT.

 

ELENCO:

SARAH PAULSON...................................Alana Maxwell

MACKENZIE FOY......................................Rosie Tate

KENNEDI CLEMENTS....................................Lily Tate

CATHERINE DENEUVE.......................................Letha

STEVEN WEBER..............................Dr. Bernard Hermann

DONALD SUTHERLAND......................Reverendo Timothy Fain
MILLIE BOBBY BROWN.....................................Lizzie

FINN WOLFHARD.........................................Griffin

SHANE WEST.............................Padre Caleb Strickland

REBECCA HALL....................................Alexia Greene

DANIELLE HARRIS.....................................Charlotte

JOHN CARROLL LYNCH.............................Phillip Bowers

JACOB TREMBLAY..................................Danny Maxwell

ELLA ANDERSON...........................................Molly


 

VERONIKA BONELL.......................................Shelley

LINCOLN MELCHER.......................................Lachlan

COREY FOGELMANIS................................Thomas Hewitt

FRANCES CONROY...................................Marcy Hewitt

e

MICHELLE FORBES..............................Cruella Blaylock


PRODUÇÃO
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

 
REALIZAÇÃO
 

 
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Proibida a cópia ou a reprodução
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Comentários:

2 comentários:

  1. • Uma abertura excepcional, com questão, à apresentação da personagem Alana, que a meu ver, vem como uma singela homenagem ao escritor Edgar Allan Poe, um dos meus autores favoritos. Gostei da metodologia usada pela psiquiatra, que usa de gravadores para seus apontamentos clínicos, fora a nostalgia e o clima vintage que a trama traz. — difícil de não vincular esse método ao do personagem Malcolm de O Sexto Sentido do diretor indiano M. Night Shyamalan — E escolheu logo a Inglaterra para contar essa história mirabolante, decerto não haveria lugar melhor no mundo para ramificar o enredo — por se passar num Orfanato, trouxe-me a ideia do filme do diretor Guilhermo Del Toro.
    • Um episódio bem escrito por sinal, sem contar, as cenas e as sequências, bem elaboradas por quem as criou com muito cuidado e de forma metódica. Senti de uma cena à outra, as amarras e os diálogos naturais do texto.
    • O suspense e o drama na proporção certa.
    • A trama refinada, chama atenção, o fato, de duas menininhas cometerem um “suposto” assassinato. Foi o gancho de direito em mim, em vista que nos convida a saber mais sobre as “ditas” e o que sucederá da vida de ambas irmãs. Muito fascinante.
    • O CHATEAU MARMONT: um lugar que por si só se mostra vivo e orgânico, tamanha a narrativa, não se trata de apenas um pano de fundo para contar uma história de terror, mas, serve de berço para um enredo tão crível e verossímil. — possa ser que o próprio Slenderman seja o pano de fundo desse sábio conto, aqueles monstros imaginários que tememos na infância — Realmente dá para enxergá-lo em meio a floresta, como se as paredes daquele lugar tivessem mil histórias a contar. Fazia tempo que não lia algo assim.
    • As personagens, todos, sem exceção belamente construídas por alguém que tem uma verdadeira paixão pelo que faz. A respeito de algumas personas, como: Cruella (calculista), Hermann (odeio e quero furar os olhos dele) e Lizzie, entre eles, o Slenderman até parece fichinha. Momentos de tirar o fôlego e rir do sarcasmo, tanto por parte de Cruella quanto por parte de Hermann, quando trocam “elogios” numa.
    • Quando achei que a trama ia se sustentar somente no suspense e num terror “psicológico”, eis que me deparo com uma cena apavorante de Molly, e que resulta num exorcismo, com direito a gritos em latim (sai de retrum!)
    • No tocante, uma história maravilhosa e bem escrita!

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    1. Sem palavras pra agradecer! Essa série é a mais importante da minha vida. Luiz, um abraço.

      Jota Pê.

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